
O predom�nio de alunos de escolas particulares nos cursos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) durou at� o ano passado, j� que pela primeira vez desde que o levantamento do perfil dos matriculados � divulgado os estudantes oriundos do ensino p�blico foram os mais numerosos. Em 2016, foram 3.207 (54,51%) matr�culas de alunos de escolas p�blicas, contra 2.461 (41,83%) dos de institui��es privadas e 198 (3,37%) que frequentaram as duas modalidades de ensino.
A diferen�a de 746 matriculados representa uma dist�ncia de 12,68 pontos percentuais e crescimento da presen�a de estudantes da rede municipal, estadual e federal da ordem de 18,6% ante o encolhimento dos que pagam para estudar de 11,5% na compara��o com 2015. De acordo com o pr�-reitor adjunto de gradua��o da UFMG, Walmir Caminhas, esse efeito reflete as pol�ticas afirmativas, como a Lei das Cotas, que garante 50% das vagas para pessoas advindas do ensino p�blico. “Alguns conseguiram entrar tamb�m pelo bom desempenho, superando os 50% garantidos”, afirma. Os dados s�o de entrevistas com os alunos e constam do relat�rio “An�lise do perfil do aluno matriculado na UFMG : Vestibular 2012 ao Sisu 2016”, ao qual o Estado de Minas teve acesso com exclusividade.
Essa abertura permitida pelos programas afirmativos criou oportunidades para estudantes que de outras formas n�o teriam condi��es de estudar na UFMG. � o caso da comunic�loga Jaiane Souza, de 22 anos, que mora em Sabar� (Grande BH) e agora cursa o 1º per�odo de letras. Ela ingressou na UFMG por meio das cotas raciais, depois de se formar em uma faculdade particular. “Inscrevi-me na UFMG sem muita pretens�o, em 2015. Eu nem contava com a aprova��o, porque a minha nota no Enem tinha sido muito baixa”, afirma.
Ela conta que entrou na modalidade 1 do Sisu – para pessoas negras, que estudaram em escolas p�blicas e com renda familiar bruta por pessoa menor que 1,5 sal�rio m�nimo. “Acho muito importante a exist�ncia do sistema de aprova��o por reserva de vagas a cotistas, porque, se n�o fosse assim, eu n�o teria chances de entrar na UFMG pela ampla concorr�ncia que existia com o vestibular. A escola p�blica geralmente n�o oferece base suficiente e isso me prejudicaria”, disse a jovem.
A locomo��o � a maior dificuldade da jovem, que vive na regi�o metropolitana, e � comum a colegas que conseguiram ingressar pelas cotas e que muitas vezes v�m de periferias afastadas do Centro de BH ou de outras cidades. “Como estudo � noite, saio da aula �s 22h30 e chego em casa pouco depois da meia-noite. E isso � p�ssimo, porque gasto muito tempo que poderia usar pra fazer um trabalho ou estudar”, disse. A jovem sonha em se mudar para a capital mineira para encurtar essas dist�ncias. “Melhoraria a qualidade de vida incomparavelmente, ficaria menos cansada, ajudaria na concentra��o e tamb�m nos estudos”, disse a universit�ria.
Moradia
J� Lucas Alves, de 21, saiu de Curvelo (Regi�o Central), a cerca de 200 quil�metros da capital mineira, para se dedicar ao 4º per�odo de odontologia da UFMG. O jovem optou por viver em uma das moradias da federal, por praticidade, economia e proximidade com a universidade. “Sempre quis passar na UFMG”, disse. Ele explica que na sua cidade n�o h� faculdades federais, apenas particulares. “Fiz Cefet, que � uma escola p�blica muito boa. Foi ela que me ajudou a me preparar bem para as provas”, afirma.
Com a maior quantidade de alunos do ensino p�blico, o perfil econ�mico tamb�m sofreu mudan�as e 53% dos matriculados est�o na categoria de renda familiar abaixo de cinco sal�rios m�nimos. “Ao abrir as portas da universidade, precisamos garantir a perman�ncia dos alunos e isso se traduz em ampliar a assist�ncia. Estamos abrindo mais 400 vagas na nova unidade da moradia estudantil, as bolsas tamb�m precisam ser ampliadas”, afirma o pr�-reitor adjunto de gradua��o.