
Um grupo de alunos que fez o Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) na segunda aplica��o, no ano passado — em consequ�ncia da invas�o nas escolas —, vai entrar na Justi�a contra o m�todo de corre��o das provas. Os estudantes alegam que foram prejudicados pela forma diferenciada de atribui��o de pesos nas respostas. Afirmam que os cr�ditos foram id�nticos para quest�es de baixa, m�dia e alta complexidade, o que tornaria a concorr�ncia desleal, pois seria o mesmo que equiparar alunos de baixa profici�ncia com os de maior capacidade. Segundo M�nica Pinheiro, m�e da candidata Amanda Pinheiro Cavalcante, cerca de 13 pessoas que se sentiram prejudicadas j� consultaram um advogado e, no m�ximo, at� a pr�xima segunda-feira v�o entrar com uma a��o de direito coletivo na Justi�a Federal contra a Uni�o.
“Temos graves suspeitas, por mais que o Minist�rio da Educa��o (MEC) negue, que houve mudan�as no sistema de corre��o”, garantiu M�nica. Ela explicou que a filha, que � excelente aluna, convidada por v�rios cursos conceituados devido ao seu alto potencial, fez os c�lculos dos pontos e as contas n�o batem. “Pelo resultado oficial, a nota de corte dela � de 7,79. Mas, na verdade, deveria ser 8,6”, informou. Assustada, segundo a m�e, Amanda come�ou a consultar v�rios colegas que participaram da primeira aplica��o (em novembro) e constatou a disparidade no n�mero de acertos.
Em todas as disciplinas, explicou, a m�dia de Amanda estava abaixo de quem acertou menos. “Tudo ficou muito estranho. H� v�rios itens pol�micos. Quando o m�todo � muito alterado, por exemplo, a praxe � que se fa�a outro edital. O que n�o aconteceu. E tamb�m n�o h� como negar que, quem ficou para depois (em dezembro), passou por maior estresse”, afirmou M�nica. Antes de decidir buscar a Justi�a, ela procurou Thiago Fran�a, especialista em Teoria de Resposta ao Item (TRI), usada no c�lculo dos resultados dos candidatos inscritos no Enem desde 2009, para tirar d�vidas t�cnicas.
Thiago Fran�a, f�sico e mestre em educa��o, � s�cio da empresa Principia Educa��o e Tecnologia. Ele explicou que ainda n�o � poss�vel identificar se houve ou n�o isonomia no processo de aplica��o das provas, porque o MEC n�o divulgou, em separado, as notas m�ximas e m�nimas das provas de dezembro. “Um ponto claro de diferen�a foi a prova de reda��o, com temas diferentes em cada per�odo. Isso chegou a ser questionado por um procurador do Cear�, mas ele acabou vencido”, lamentou Fran�a. Ele se referiu ao procurador Oscar Costa Filho, do Minist�rio P�blico Federal do estado, que sustentou que n�o pode haver duas provas de reda��o do Enem no mesmo ano, porque n�o h� como garantir a isonomia das avalia��es.
Depoimento
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep), autarquia federal vinculada ao MEC, admitiu que as notas “m�nimas e m�ximas das tr�s provas do Enem 2016, juntas, foram divulgadas em 18 de janeiro”. Por�m, segundo o �rg�o, “� imposs�vel afirmar que h� disparidade entre as notas dos candidatos das duas aplica��es do exame, uma vez que os percentuais de acerto n�o s�o divulgados”. Para o Inep, o simples depoimento de candidatos � insuficiente, porque eles n�o ficam com o cart�o de resposta e �s vezes erram na marca��o. “Al�m disso, dois alunos podem ter a mesma quantidade de acertos em uma prova e ter m�dias de profici�ncia diferentes, uma vez que os itens podem ter par�metros diferentes de dificuldade”, refor�ou a nota do Inep.
“S�o igualmente improcedentes as explica��es que tratam os par�metros dos itens como ‘pesos’ e sup�em que a divulga��o dos ‘pesos’ possibilitaria a reprodu��o dos c�lculos a partir apenas de pondera��es. As diferen�as entre os grupos de alunos avaliados nas tr�s aplica��es do Enem em 2016 n�o interferem nos resultados, pois o c�lculo das profici�ncias � processado em uma �nica base de dados. A nota � resultado da rela��o entre o participante e o item, e n�o entre o participante e o grupo”, destacou. O Inep salientou ainda que todos os anos s�o aplicadas, pelo menos, duas provas do Enem. E tamb�m que o TRI � uma metodologia consagrada em avalia��es por diversos organismos internacionais, que permite comparar estudantes que fazem diferentes provas, uma vez que considera cada item e seus par�metros estabelecidos em pr�-testes.