
A sutileza foi, mais uma vez, a grande chave da reda��o do Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem). Aplicada ontem com os testes de linguagens e ci�ncias humanas, a prova, considerada a mais importante, abriu o primeiro domingo da maior avalia��o do pa�s. A produ��o de textos fugiu do espectro das �ltimas edi��es, deixando de lado temas sociais ligados a direitos humanos e minorias – refor�ados nas outras provas de ontem – para tratar de algo bem atual, que interfere na vida da maioria da popula��o. Por isso, surpreendeu candidatos ao pedir para os participantes escreverem sobre a manipula��o do comportamento do usu�rio pelo controle de dados na internet.
De acordo com os estudantes, textos de suporte apresentavam dados sobre o percentual de pessoas por faixa et�ria e social que usam a internet e os c�digos do que gostam ou n�o. Um deles era sobre um site de m�sica que, toda segunda-feira, recebe informa��o do que seus usu�rios gostam de ouvir. Assim, o tema exigiu falar da manipula��o, mas a partir da base de dados. “� um tema que n�o surpreende, pois sempre trabalhamos em sala a quest�o da internet e das redes sociais. O que pega o candidato e � o ponto em que ele precisava focar foi a quest�o do controle de dados”, afirma o diretor do Col�gio Arnaldo, Geraldo J�nio.
“N�o precisa ser especialista para falar dos algor�timos que Google e Facebook usam para fazer publicidade, mas mostrar conhecimento de que os dados s�o usados para fazer propaganda. Juntando com a lei de prote��o de dados pessoais na internet, aprovada pelo Congresso em julho e definindo que quem tem os dados � respons�vel por ele, d� um bom repert�rio”, completa. Os algor�timos permitem saber o qu� o usu�rio busca e a que horas busca, podendo influenciar na escolha e na navega��o dele, ou seja, por meio do comportamento, as empresas direcionam a navega��o e fazem o inverso: manipulam na internet para influenciar o comportamento do usu�rio.
Por esses detalhes, os candidatos precisaram ontem de aten��o para n�o sair do foco. Fake news � um das argumenta��es que podiam ter sido usadas, mas sempre tendo em mente que n�o bastava falar apenas da manipula��o, sendo fundamental abordar as bases de dados por tr�s delas, conforme explica Geraldo J�nio. “� uma pegadinha bem sutil e � isso que o candidato precisa perceber que a banca quer. Nos �ltimos quatro anos, o Inep tem trabalhado essas sutilezas e definindo, assim, o recorte detalhado do que est� sendo pedido.”
Outro ponto importante � a t�cnica da reda��o – uma estrutura dissertativo-argumentativa. Nesse caso, identificando o agente (os usu�rios) e o contexto (a pr�pria internet) para redigir a proposta de interven��o. “O candidato pode facilmente ter desviado o foco do tema por falta de aten��o ou pela inexperi�ncia com essa estrutura de texto”, conclui o diretor do Arnaldo.
A professora Poliana Wink, do cursinho preparat�rio Chromos, por sua vez, diz que o tema era esperado, mas n�o com esse recorte. “Convivemos com essa quest�o diariamente. Uma das abordagens � a manipula��o que as empresas podem fazer pelo nosso comportamento na internet, a partir de buscas, compras e outras quest�es. Principalmente, nosso comportamento como consumidor”, ressalta. Ela classificou o tema como “dif�cil”, em raz�o da desigualdade social do Brasil, onde nem toda a popula��o tem acesso � internet.
Como argumentos que podiam ser usados para constru��o do texto, a docente aponta para o marco civil da internet. A lei permite que empresas privadas usem informa��es dos usu�rios, desde que com aceita��o dos termos de uso. Al�m disso, Poliana aponta para os vazamentos de informa��es oficiais do WikiLeaks, por meio do analista de sistemas Edward Snowden, que criou uma crise diplom�tica entre diferentes pa�ses.
OBJETIVAS Se a reda��o mudou seu vi�s social, pode-se dizer que, nesta edi��o, a prova de ci�ncias humanas carregou a m�o neles e trouxe temas j� cobrados ou esperados na produ��o de texto, como racismo, viol�ncia contra mulher e direitos humanos. Assim como em edi��es anteriores, essa �rea e tamb�m a de linguagens usaram referenciais de pessoas em destaque na hist�ria para as quest�es objetivas. O cartunista Henfil foi um dos citados. “Alguns alunos acharam a prova deste ano mais f�cil, outros mais dif�cil, mas essa varia��o � normal. Pelos autores que foram citados na contextualiza��o, � poss�vel afirmar que esses referenciais te�ricos continuam sendo o carro-chefe do Enem”, destaca o diretor Geraldo J�nio.
Em Montes Claros, duas pessoas foram presas por suspeita de fraude.
A reda��o para quem fez

“Achei o tema da reda��o um pouco complicado, mas o texto motivador ajudou bastante. Entendi a palavra manipula��o, do tema, como uma forma de induzir nosso pensamento. Pode ser para o consumo, mas acredito que seja de maneira ampla”
>> Ester Martins, de 18 anos, que pretende estudar nutri��o

“O tema mostra um pouco de nossa ignor�ncia, no sentido de desconhecimento, sobre as redes sociais. H� algoritmos que levam a essa manipula��o, do tema da reda��o, e que podem interferir nas fontes de informa��o”
>> Carlos Duarte, de 17, entusiasmado com o curso de cinema

“O tema me fez pensar sobre o uso da tecnologia e de que maneira h� invas�o de privacidade nas redes sociais. Os tr�s textos motivadores ajudaram bastante na hora de fazer a reda��o”
>> Gabriel Leite dos Santos, de 17, interessado em estudar engenheira mec�nica

“O tema trata, principalmente, sobre o uso de aplicativos, o tempo nas redes sociais e o uso pelos jovens da internet. Achei complicado”
>> Jo�o Guilherme Dias, de 17, que pretende estudar engenharia mec�nica

“Na minha opini�o, o tema da reda��o foi f�cil, pois usamos muito as redes sociais. O texto de suporte mostrou o percentual, por idade, das pessoas que usam a internet”
>> �talo Bitencourt, de 22, primeiro a concluir a prova no c�mpus PUC Minas c�mpus Cora��o Eucar�stico