Depois de um primeiro domingo de provas com flagrante de tentativa de fraude em Montes Claros, Norte de Minas, a segunda fase do Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem), ontem, transcorreu com tranquilidade em Minas e no pa�s, com um percentual geral de aus�ncia um pouco acima dos testes da semana passada: 29,2%, contra 24,9% no dia 4 – ainda assim as menores taxas desde 2016. O ministro da Educa��o, Rossieli Soares, avaliou a edi��o de 2018 como a melhor da hist�ria do teste e informou que ontem n�o houve registro que implicasse reaplica��o de provas. Nas avalia��es de ontem, 66 pessoas foram eliminadas, a maioria, 64, por descumprimento de regras do edital, uma por ter sido flagrada em revista no detector de metais e outra porque se recusou a coletar dados biom�tricos. Neste ano, pela primeira vez alunos que se julgarem prejudicados poder�o fazer registro de ocorr�ncia que considerarem relevante durante as provas, at� a pr�xima segunda-feira, por meio da p�gina do participante, no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep). A divulga��o dos gabaritos oficiais deve ocorrer at� o pr�ximo dia 14 e do resultado, at� 18 de janeiro, com expectativa de antecipa��o.
O segundo e �ltimo dia de provas, quando os candidatos resolveram 90 quest�es de matem�tica, f�sica, qu�mica e biologia, comprovou que o Enem chega aos 20 anos unindo gera��es em torno dos estudos e dos desafios da maior avalia��o de conhecimento do pa�s. Ontem houve a tradicional correria, os pais que se despediram dos filhos na porta dos locais de prova para desejar boa sorte, mas tamb�m aqueles que seguiram para a sala de aula, pois tamb�m iriam se submeter � avalia��o. Um dos exemplos foram Luc�lia L�cia Moreira, de 47 anos, e Fabiana Moreira, de 20, m�e e filha, moradoras do Bairro Pindorama, na Regi�o Noroeste de Belo Horizonte, que fizeram prova na mesma sala de aula, no c�mpus da PUC Minas, no Bairro Cora��o Eucar�stico, na mesma regi�o da capital.
Luc�lia quer fazer pedagogia, enquanto Fabiana, teatro, para ser atriz e diretora. “H� dois anos fiz o magist�rio, mas o ensino m�dio j� foi h� muitos anos. Estudei mais agora, com ela”, afirmou a m�e, enquanto abra�ava carinhosamente a jovem. Pouco antes das 13h, hor�rio de fechamentos dos port�es, Fabiana demonstrou confian�a: “As provas de hoje n�o s�o muito meu forte, mas estou esperan�osa”, disse, com um sorriso.
No pr�dio da Faculdade de Filosofia e Ci�ncias Humanas (Fafich), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no c�mpus Pampulha, tamb�m havia integrantes da mesma fam�lia encarando o Enem – e, por coincid�ncia, tamb�m na mesma sala. Os irm�os Marques Pablo, de 23, e Carolina Tha�s, de 17, moradores de BH, dividiram suas escolhas entre gastronomia e medicina veterin�ria. “Amo cozinhar, esse � o meu sonho, por isso quero fazer gastronomia. Todo mundo precisa comer”, disse Marques. Tha�s se mostrou satisfeita pelo fato de, no �ltimo dia de prova, ter ci�ncias biol�gicas. “Das disciplinas, � a que tenho mais facilidade”, observou.
Em busca de uma vaga para se graduar em letras, a estudante Maria Clara Galv�o, que tem paralisia cerebral, chegou ao c�mpus Pampulha acompanhada do pai, Fernando Queiroga. “Eu tenho um pouco de dificuldade em matem�tica, mas pretendo ir bem. Quero me especializar em ingl�s. Felizmente, o tr�nsito estava tranquilo hoje”, contou. Fernando, que � pedagogo e professor da rede p�blica h� 20 anos, destacou as dificuldades para dar uma oportunidade � filha. “Consegui um laudo, mas o Inep n�o atendeu �s minhas reivindica��es. Queria que ela fizesse a prova em um andar mais baixo, porque tem dificuldade de locomo��o. Contudo, n�o obtive resposta”, queixou-se.
Ouvido candidatos e seus acompanhantes, andar pelos locais de provas � comprovar que elas realmente s�o um encontro de gera��es: tem meninas de cabelos coloridos e jovens tatuados, caminhando ao lado de pessoas que j� se graduaram e buscam novos rumos na vida. Formada em letras e professora da rede p�blica, Cristina Soares, de 32, moradora do Bairro Carlos Prates, na Regi�o Noroeste, quer agora fazer direito. “Meninada, para mim, � normal, pois trabalho com eles o tempo todo”, observou Cristina, que se declarava tranquila diante do port�o da PUC Minas.
CONTE�DO Embora o gabarito oficial ainda demore uma semana, especialistas fazem suas avalia��es sobre as provas. Professora de qu�mica do Col�gio e Preparat�rio Chromos, Renata di Blasio considerou a de qu�mica como “muito conteudista”, o que se traduz por quest�es seguindo a tradi��o de exigir do candidato dom�nio dos conhecimentos da disciplina. Segundo ela, foi tamb�m mais te�rica do que no ano passado: “As quest�es de c�lculo estavam mais f�ceis e em menor quantidade do que em 2017”, afirmou, lembrando que a maioria tem mais dificuldade em c�lculos mais complexos.
A professora Renata disse ainda que houve, na prova de qu�mica, quest�es com caracter�stica de interdisciplinaridade com a biologia, por exemplo: “Esse aspecto, com artigos cient�ficos, exigiu interpreta��o e conhecimento”. Sobre as demais provas, embora n�o sejam do campo de estudo da professora, ela disse que estavam dentro do esperado: ondas eletromagn�ticas, na f�sica; geometria, na matem�tica; e DNA, na biologia.
DOIS LADOS Se havia familiares fazendo provas, duplas de amigos e amigas tamb�m encararam a �ltima etapa da maratona deste ano. Larissa Bartolini, de 20, moradora do Bairro Padre Eust�quio, e Yasmin Leite, de 18, do Gl�ria, ambos na Regi�o Noroeste, est�o certas de que o momento � de acreditar. “Gosto de qu�mica e biologia, ent�o espero me sair bem”, planejava Larissa, que pretende cursar gastronomia. Yasmin, que escolheu direito, est� no segundo Enem e se mostra cheia de esperan�a. As duas lembraram que, no segundo dia, a anima��o n�o � a mesma do in�cio. “Cai um pouco”, disse Larissa.
N�o muito longe, a cena era diferente, com cara de des�nimo. Andreza Stephanie, de 19, moradora do Conjunto Filad�lfia, na Regi�o Noroeste, contou n�o ter se sa�do bem no primeiro dia. Interessada em cursar biomedicina, revela que, se n�o passar, vai procurar uma faculdade particular. A amiga Giovana compartilha da ideia e vai fazer publicidade em escola privada. Na sa�da do c�mpus da PUC, D�bora Evelyn, de 22, moradora do Bairro Cai�ara, na Regi�o Noroeste, saiu sorridente e se mostrou confiante. “Sou como todo brasileiro, n�o desisto nunca “, afirmou. Ela considerou a prova de matem�tica muito dif�cil, mas n�o deixou nada em branco.
Fazendo o Enem pela primeira vez, como treineiro, Bruno Maia de Oliveira Peixoto, que quer ser m�dico, gostou da experi�ncia. “Achei a prova de qu�mica complicada, mas deu pra fazer bonitinho”, brincou. Primeiro estudante a deixar o c�mpus da PUC Minas, �s 15h35, Richard Murilo Ferreira Silva, de 22, contou que j� fez a prova duas vezes buscando o curso de direito. Das 90 quest�es, respondeu a 60 “com certeza”, mas, nas demais 30, admitiu: “Chutei”. Morador do Bairro Salgado Filho, ele acredita que poderia ter se preparado melhor. Mas, como serviu o Ex�rcito, deixou um pouco de lado os estudos.
Rolou nas redes
» Desespero
Uma estudante que fez a prova na Universidade Estadual do Piau� (Uespi) estava t�o apreensiva com um poss�vel atraso que largou sua moto no meio da rua com a chave na igni��o. O ve�culo foi encontrado por policiais do 9º Batalh�o da PM do estado, que pesquisou pela placa no sistema e descobriu que a motocicleta pertencia a Jo�o Evangelista, marido da aluna. A PM precisou contatar a candidata apressada dentro da sala, para que ela autorizasse a entrega da motocicleta ao seu companheiro.
» Assalto
Em Macap� (AP), um aluno de 21 anos foi assaltado e agredido a caminho da prova. Ele passava pelo Centro da cidade quando dois ladr�es o abordaram. Eles roubaram um rel�gio e um celular da v�tima, al�m de lan�ar uma pedra contra o jovem. O estudante precisou ser socorrido pelo Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu).
» #ShowdosAtrasados
A popular hashtag criada para zombar de quem atrasa para fazer as provas ontem foi dedicada a quem esqueceu o documento de identifica��o. “Palmas para quem ria dos atrasados do Enem e hoje (domingo) esqueceu a identidade”, lamentou uma usu�ria. Assim como no primeiro dia de provas, a internet lamentou os poucos memes gerados durante o exame.
» Sinceridade
“Nada que estudei caiu, chutei 80% da prova”. Foi assim que a estudante Suellen Lopes, de 25 anos, definiu seu desempenho nas avalia��es de matem�tica e ci�ncias da natureza. Ela foi a primeira a sair da Universidade Paulista (Unip) Vergueiro, no Centro de S�o Paulo. Tamb�m disse que estava zonza e com dor de cabe�a por causa do desgaste causado pelas provas.
A maratona dos atrasados
Tanto na PUC Minas quanto na UFMG, a cena dos atrasados se repetiu e muita gente se atrapalhou com o tempo para entrar nos locais de prova. A estudante Sara Santos, moradora do Bairro Bonfim, chegou 30 segundos ap�s o port�o da PUC fechar. Ela disse que o �nibus atrasou, mas reconheceu que poderia ter sa�do mais cedo de casa, em vez de ao meio-dia. No mesmo local, uma outra aluna foi salva por uma amiga. Ela caiu duas vezes correndo em dire��o � universidade e foi auxiliada pela colega. Conseguiu entrar, nos �ltimos momentos.
A carteira de identidade foi vil� na Fafich. Duas alunas esqueceram o documento e n�o puderam passar pelos port�es. Uma das atrasadas deixou o registro em um carro de transporte privado, contatou o motorista, mas n�o conseguiu entrar a tempo. A outra candidata cometeu a desaten��o em casa e foi advertida pelo pai. “Isso � para ela ver que a vida � um pouco mais s�ria”, lamentou.
Atrasado em edi��o anterior, Wallace Milit�o chegou com anteced�ncia neste ano. “Quando cheguei atrasado, nem fui pra grade tentar entrar. Tem gente que fica igual zumbi de The Walking Dead (s�rie televisiva exibida pelo canal por assinatura Fox). Agora, estou fazendo o Enem para ingressar no curso de Cinema via ProUni”, contou.


