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Estado de Minas

Saiba por que alunos e professores de BH se juntaram ao protesto nacional contra cortes no ensino superior

Manifesta��o na capital, onde 11 institui��es p�blicas federais tiveram R$ 368 milh�es bloqueados, foi uma das maiores desde 2013


postado em 16/05/2019 06:00 / atualizado em 16/05/2019 07:45

Os manifestantes tomaram as principais ruas da capital mineira, se encontraram na Praça da Estação e seguiram para a Raul Soares, em ato marcado pela internet(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
Os manifestantes tomaram as principais ruas da capital mineira, se encontraram na Pra�a da Esta��o e seguiram para a Raul Soares, em ato marcado pela internet (foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)

Em 2013, uma alta de R$ 0,25 centavos foi o gatilho para milhares de estudantes sa�rem �s ruas em protesto, inicialmente, contra o aumento da passagem de �nibus. Quase seis anos depois, jovens de todo o pa�s se levantaram novamente. Desta vez, contra o corte de verbas nas institui��es da rede federal de ensino promovido pelo Minist�rio da Educa��o (MEC).

Em Minas, as manifesta��es foram pela cifra de R$ 368,5 milh�es que deixar�o de entrar no caixa, segundo n�meros levantados pelas institui��es, comprometendo o funcionamento das 11 universidades, dos cinco institutos e do Centro Federal de Educa��o Tecnol�gica (Cefet-MG) presentes em territ�rio mineiro. Ontem, foi dia de apelos ao governo federal, de dizer n�o � redu��o no or�amento e de tentar garantir a continua��o do ano letivo. No Centro de BH, segundo estimativa de organizadores, pelo menos 200 mil alunos tomaram conta das principais ruas e avenidas.

Os manifestantes, que inclu�am tamb�m professores, sa�ram de diferentes pontos da cidade e se encontraram na Pra�a da Esta��o, �s 9h30, de onde seguiram para a Pra�a Raul Soares. Eles usaram a hashtag #15M, em refer�ncia a 15 de maio, data dos protestos, para marcar os atos. Voltaram ainda a entoar o grito de junho de 2013 – “vem pra rua” –, convocando as pessoas a aderirem aos protestos. Os organizadores disseram que foi uma das maiores manifesta��es na capital mineira depois de junho de 2013, tendo seu �pice na concentra��o na Raul Soares.

O n�mero de manifestantes n�o foi confirmado pela Pol�cia Militar de Minas Gerais nem pela Guarda Municipal. As corpora��es disseram que n�o informam a quantidade de manifestantes. Por volta das 9h, centenas deles se reuniram em frente � Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Bairro Floresta, na Regi�o Leste da capital. Outro grupo saiu do Cefet, no Bairro Nova Su��a, na Regi�o Oeste, e do c�mpus da UFMG, na Pampulha, em dire��o � Pra�a da Esta��o.

Os estudantes empunharam cartazes em defesa da educa��o p�blica, com frases como “Contra o retrocesso”, “Esse ano eu vou formar”, “Lutei pra entrar, vou lutar pra ficar”, “Tira a m�o do meu futuro”, “Universidade n�o � balb�rdia”. Nos cartazes, professores e estudantes tamb�m apontaram como os cortes impactam na descontinuidade das pesquisas.


Um grupo de ind�genas participou da passeata, alguns com rostos pintados e cocares. Eles trouxeram cartazes, entre eles um com o escrito: “O governo n�o pode dar educa��o, pois a educa��o derruba o governo”. A estudante ind�gena Ja�an� Patax�, de 25 anos, aluna do curso de forma��o intercultural para educadores ind�genas na UFMG, sente os efeitos do contingenciamento das verbas. “Os cortes nas verbas de educa��o p�blica est�o afetando minha forma��o em matem�tica intercultural”, disse.

O tr�nsito precisou ser desviado em diversos pontos por onde os manifestantes passaram. Eles ocuparam uma das faixas da Avenida Afonso Pena para se deslocar da Faculdade de Medicina, na Avenida Alfredo Balena, na Regi�o Hospitalar, at� a Pra�a da Esta��o, onde se espalharam pelas duas faixas da Avenida dos Andradas. O mesmo ocorreu na Avenida Amazonas, por onde seguiram em dire��o � Pra�a Raul Soares. Por volta do meio-dia, uma garoa caiu sobre a regi�o, sem afetar os manifestantes, que cantaram: “Pode chover, pode molhar. Pela ci�ncia eu n�o paro de lutar”.

Em meio � multid�o, houve espa�o tamb�m para outras reivindica��es. No pirulito da Pra�a Sete, uma bandeira foi levantada em homenagem � vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em mar�o de 2018. O crime n�o foi esclarecido at� hoje. Tamb�m apareceu uma faixa de protesto contra a proposta de emenda � Constitui��o (PEC) que tramita no Congresso Nacional para reformar a Previd�ncia. Houve in�cio de tumulto envolvendo um motorista, que tentou passar com o carro na Rua S�o Paulo com Avenida Amazonas, furando a passeata. O homem foi chamado de “bolsominion”, uma refer�ncia jocosa aos eleitores do presidente Jair Bolsonaro, e a PM teve de intervir para controlar os �nimos. Os manifestantes se dispersaram na Pra�a Raul Soares.

CORTES
O caixa das institui��es j� est� na corda bamba h� pelo menos quatro anos, quando bloqueios sucessivos come�aram a ser feitos. No fim do ano passado, a Lei Or�ament�ria Anual (LOA) garantiu �s federais mineiras R$ 910 milh�es para 2019 – o or�amento do Minist�rio da Educa��o (MEC) foi preservado, acrescido da infla��o, o que, diante de um per�odo de sucessivos cortes, daria um alento aos caixas das institui��es. A perda delas soma R$ 273,7 milh�es. Para os institutos federais e o Cefet, a LOA aprovou R$ 299 milh�es e os bloqueios chegam a R$ 94,8 milh�es – alguns tiveram corte superior a 30%. As institui��es dizem ter f�lego apenas at� setembro.

O bloqueio de 30% ocorre nas chamadas verbas discricion�rias, que incluem os recursos de custeio e capital. As verbas de custeio s�o relativas �s despesas correntes e v�o do pagamento de contas de consumo ao gasto com pessoal terceirizado. J� os recursos de capital se referem �s despesas com obras, equipamentos e investimentos. Somente a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) teve uma reten��o de R$ 64,5 milh�es. Na LOA, foram aprovados R$ 215 milh�es. A maior institui��o de ensino superior de Minas tem hoje em caixa recursos equivalentes ao que tinha em 2010, quando concentrava praticamente metade do n�mero de alunos matriculados atualmente.

 

Depoimentos

 

Marina Azevedo, de 20 anos, estudante de geografia UFMG

(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)


“Os cortes j� est�o afetando meu curso. Temos muitos trabalhos de campo, mas agora s� podemos fazer na regi�o metropolitana. O campo � fundamental para a forma��o do ge�grafo. ´ï¿½ quando temos contato com o emp�rico. Por meio da pr�tica em campo � que podemos testar nossos conhecimentos. Fa�o inicia��o cient�fica, mas de maneira volunt�ria. N�o h� mais bolsas de inicia��o cient�fica. Participo do ato pela necessidade de luta para preservar a UFMG. Tenho uma irm� de 14 anos. Sonho que ela estude l�.”

 

(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
Ayla Helena Juli�o Gomes, de 16 anos, estudante da Escola Estadual Villa Lobos

“Quero tentar uma vaga no Coltec. � um absurdo retirar os recursos para educa��o p�blica. Querem tirar o acesso ao ensino de qualidade para quem j� tem pouco acesso aos direitos. Mobilizei os alunos de minha escola. Fui de sala em sala para fazer a convoca��o. Postei nas redes sociais. Participar do ato para mim foi maravilhoso. Mostramos que a educa��o � importante. N�o podemos correr o risco de perder o ensino p�blico”




Murilo Vale Valente, de 26 anos, estudante de Letras do Cefet-MG
(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)


“Ainda n�o percebi o impacto dos cortes. Mas � importante lutar pelo ensino p�blico. Al�m de estudar Letras, fa�o est�gio no Cefet-MG. Com essa perspectiva de cortes, pode ser que meu est�gio fique invi�vel. J� temos problemas nas universidades p�blicas, com os cortes ficar� pior para a gente. Se tiver corte na bolsa, muitos estudantes v�o sofrer. A bolsa � de cerca de R$ 400”





(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
Guilherme Diniz, de 23 anos, estudante de Teatro na Escola de Belas Artes da UFMG

“A gente tem que se insurgir contra governo antidemocr�tico e antipopular, que vem retirar garantias para uma educa��o democr�tica. Estou aqui n�o s� pela defesa das universidades p�blicas, mas para que a educa��o continue inclusiva. Futuramente, serei professor. Temos que lutar contra os cortes, que apontam para desmonte do ensino p�blico. J� tenho v�rios colegas sem bolsas. Na Belas Artes, onde estudo, n�o tem papel higi�nico nos banheiros, falta material art�stico para cria��o. As bolsas do mestrado come�am a ser cortadas”




Michele �lves, professora do Instituto Federal do Piau� e aluna de doutorado na UFMG

(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)


“Estamos sem condi��es de trabalho. A escola onde leciono � no interior do Piau�, em Cocal. N�o temos mais verba para o transporte dos estudantes para chegarem at� a escola. � uma cidade muito quente, com temperatura de 45 graus, mas temos que escolher o hor�rio que vamos usar o ar-condicionado. S� ligamos no per�odo da tarde”




(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
Ana Maria Molinari, de 72 anos, professora

“Estou em luta pela educa��o. Trabalhei 33 anos na rede municipal de ensino. Fiz pedagogia na UFMG, onde tamb�m me p�s-graduei. Meus tr�s filhos estudaram na UFMG, nos cursos de medicina, geologia e comunica��o. Os cortes s�o absurdos e prejudicam at� servi�os b�sicos como �gua e luz. O governo est� atingindo todas as universidades. Sou a favor de crit�rios para distribuir bolsa. Tem que ter rigor no controle, mas cortar as bolsas o governo n�o deveria fazer jamais. As pesquisas cient�ficas n�o podem ficar sem recursos. S�o importantes demais”


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