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Estado de Minas ESPORTE

Pa�s do beach tennis? Por que n�mero de praticantes quase triplicou no Brasil

Esporte � febre entre amadores 'profissionais' e Brasil se prepara para sediar terceira Copa do Mundo consecutiva


22/07/2023 06:31 - atualizado 22/07/2023 07:47
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Vários grupos jogando beach tennis
Praticantes de beach tennis em clube em S�o Paulo, uma das cidades n�o litor�neas do Brasil onde o esporte virou febre (foto: NELSON ALMEIDA/AFP via Getty Images)

Rio de Janeiro, Jo�o Pessoa, Natal, Macei�, Vit�ria e sua vizinha Vila Velha. Tamb�m Balne�rio Cambori� e Guaruj�, al�m de Marechal Deodoro e Aquiraz.


Essas s�o algumas das cidades brasileiras que sediaram ou v�o sediar algum torneio do circuito internacional de beach tennis neste ano.


S�o cidades tur�sticas e litor�neas que j� mostram que o Brasil est� entre os pa�ses onde esse esporte � mais popular.


Agora, o que escancara que o Brasil virou o pa�s do beach tennis s�o as cidades-sede do circuito da Federa��o Internacional de T�nis (ITF, na sigla em ingl�s) espalhadas de norte a sul do pa�s, em todas as regi�es brasileiras.


H� capitais que n�o passam nem perto do mar, como S�o Paulo, Bras�lia, Belo Horizonte, Teresina e Palmas, e at� a mais distante do litoral, Cuiab�.


E muitas outras cidades do interior do pa�s, como Ribeir�o Preto, Vinhedo e Sorocaba (SP) ou Maring�, Londrina e Foz do Igua�u (PR) — e tamb�m em Minas Gerais, no Rio Grande do Sul, Goi�s e Rio Grande do Norte.


O beach tennis � praticado no Brasil inteiro, em cada vez mais lugares, e por um n�mero crescente de pessoas.


A Confedera��o Brasileira de T�nis (CBT) estima que o n�mero de praticantes tenha quase triplicado nos �ltimos tr�s anos, de 400 mil em 2021 para 1,1 milh�o em 2023.


Gráfico. Título: O beach tennis no Brasil/ 1,1 milhão de praticantes no país (quase o triplo que em 2021), 54% homens, 46% mulheres, 44% têm de 10 a 19 anos, 22% têm de 40 a 49 anos,15% têm de 30 a 39 anos. Fonte: Confederação Brasileira de Tênis. Imagem: Mulher levantando a raquete
(foto: BBC)

A ilustradora Daphne Lambros, de 49 anos, come�ou a jogar em 2019 em Curitiba e n�o parou mais.


“Sempre gostei de praia, adoro colocar o p� na areia, mesmo morando em Curitiba. Aqui, sempre tivemos que fazer atividades em espa�os fechados, por causa do frio e da chuva. Mas o beach tennis tem um astral praiano. Ao pisar na areia, mesmo sendo uma quadra coberta, eu j� me sinto na praia, � muito bom”, diz.


O Brasil tamb�m tem v�rios atletas entre a elite do esporte e se prepara para sediar a terceira Copa do Mundo de beach tennis consecutiva.


Rafael Westrupp, presidente da CBT, diz que mais de 65% dos torneios internacionais da modalidade hoje acontecem nas areias brasileiras e que isso acaba sendo uma vantagem para os atletas daqui.


“Os brasileiros competem no pa�s, ganham em d�lar e gastam em reais”, resume Westrupp.

As origens

Uma vila italiana do s�culo 3, em Enna, na Sic�lia, exibe afrescos com meninas em trajes semelhantes a biqu�nis jogando uma bola parecida com a de t�nis em uma quadra. Elas usam s� uma m�o e parecem dar tapas na bola, como se os bra�os fossem raquetes.


Essa seria a pr�-hist�ria do beach tennis, segundo a Federa��o Italiana de T�nis (ITF).


O esporte j� n�o est� mais moda no pa�s que teria sido seu ber�o e que � a maior pot�ncia em competi��es.


Segundo a ITF, o beach tennis surgiu nas praias italianas nos anos 1970, quando praticantes de t�nis aproveitaram redes de v�lei instaladas na areia e come�aram a bater uma bolinha. Logo surgiram os primeiros torneios e regras. Nos anos 1990, os atletas se profissionalizaram. Mas o esporte ainda estava confinado ao Mediterr�neo europeu.


Ele cruzou o oceano s� no s�culo 21. Atualmente, � praticado em cerca de 50 pa�ses, Brasil entre eles. De acordo com a CBT, a pr�tica chegou aqui pelo Rio de Janeiro, em 2008. Dois anos depois, Florian�polis sediou o primeiro torneio no pa�s.

Mas, ao longo de toda a d�cada passada, o beach tennis foi um nicho muito espec�fico. A� veio a pandemia de covid-19, e a sua popularidade explodiu no Brasil.


Praia de Copacabana
Hist�ria do beach tennis no Brasil come�ou no Rio de Janeiro (foto: Getty Images)

Pa�s do beach tennis

Nos tempos mais agudos de confinamento, muita gente procurou novas atividades, e o temor do cont�gio direcionou essa busca para pr�ticas mais seguras contra a covid-19.


“Por ser um esporte ao ar livre, com turmas, em geral, de no m�ximo seis pessoas, o beach tennis ganhou for�a no fim da pandemia”, diz Jassy Ribeiro, psic�loga do esporte da Federa��o Cearense de T�nis e Beach Tennis (FCTBT).


“Al�m disso, ter os p�s na areia, o c�u e o vento, sem d�vida traz uma sensa��o de liberdade, de conex�o com a natureza.”

Para a psic�loga do esporte Gabriella Finatti, o contexto pand�mico pode ter dado o pontap� inicial, mas o que sustenta sua popularidade hoje � que ele cria “grupos de pertencimento”.


“Os praticantes se unem para jogar, mas tamb�m para socializar. Al�m disso, o fato de a modalidade ser relativamente nova despertou a curiosidade das pessoas, permitindo que todos possam aprender do zero quase que ao mesmo tempo em todos os cantos do pa�s. � um jogo relativamente f�cil, com poucos elementos t�cnicos complexos”, explica.


Rafael Westrupp, da CBT, diz que o n�mero de praticantes vinha crescendo desde 2013, mas a pandemia fez isso explodir.


“Houve um apelo exponencial em termos de n�mero de praticantes, instala��es esportivas e n�mero de torneios internacionais oficiais realizados em territ�rio nacional”, explica.


Ou seja, segundo ele, al�m da curiosidade e da demanda das pessoas, o beach tennis tem crescido no pa�s tamb�m gra�as aos incentivos oficiais.


Em 2022, foram 59 eventos, cada um com dois ou tr�s torneios. Neste ano, s�o 62.

O Brasil sediou a Copa do Mundo em 2021 e 2022, e em 2023 ser� sede novamente, em novembro. As prefeituras t�m investido na cria��o de espa�os: se antes reservar uma �rea para esportes de areia significava apenas v�lei e futev�lei, hoje as divis�es s�o diferentes.


A Secretaria de Esporte de Florian�polis informa que “grande parte” dos projetos para futuros espa�os p�blicos, como pra�as e parques, contar� com quadras de areia.


Atualmente, a capital catarinense tem mais de 30 quadras desse tipo administradas pela prefeitura. O Rio de Janeiro regularizou as atividades em espa�os p�blicos em 2021, mas, no ano passado, o beach tennis virou a ponta mais vis�vel de uma disputa pelas praias.


Mulheres e homens levantando troféus e mostrando medalhas
Medalhistas da Copa do Mundo de Beach Tennis 2022, realizada na cidade do Rio (foto: Divulga��o/Marcello Zambrana)

O aumento do espa�o ocupado por quadras esportivas na orla gerou uma onda de descontentamento que foi parar no Minist�rio P�blico.

Entidades como a organiza��o n�o governamental Grupo A��o Ecol�gica alegam que a orla � uma �rea de prote��o ambiental e que est� havendo uma descaracteriza��o da paisagem, um bem protegido por lei.


A pol�mica � mais uma evid�ncia da populariza��o do esporte. Entre todas as atividades f�sicas e esportivas licenciadas, o beach tennis � a mais comum na capital fluminense, com 80 espa�os regularizados.


A Secretaria Municipal de Esportes defende que cada evento realizado na cidade, como a Copa do Mundo, atrai turistas e movimenta a economia.

O Brasil j� ganhou quatro Copas da modalidade, mesmo n�mero da It�lia, e conta atualmente com tr�s atletas no top 10 masculino no mundo e outras tr�s no top 10 feminino.

Amadores, mas competitivos

O sucesso dos profissionais tamb�m tem impulsionado a competitividade entre amadores.


“Mesmo em praticantes por lazer, existe um desejo grande de querer evoluir dentro do esporte, seja por objetivo pessoal ou para participar de mais competi��es”, diz a psic�loga Gabriella Finatti.

Jassy Ribeiro, da federa��o cearense, tamb�m v� muitos amadores levando o esporte bem a s�rio.


“H� atletas amadores que t�m equipe multidisciplinar, com t�cnico, preparador f�sico, nutricionista, psic�logo do esporte. Eles t�m investido na prepara��o com o desejo de estar cada vez mais completos para as competi��es.”


Para encarar o esporte desse jeito, � preciso estar bem psicologicamente.

“Uma grande parte dos atletas que atendo me procurou para aprender a lidar com a frustra��o. Muitos deles sentiam raiva descontrolada na hora do erro, outros se exigiam demais, colocando sobre si uma cobran�a excessiva”, explica Ribeiro.


Entre os estimados 1,1 milh�o de praticantes, por�m, � claro que muita gente est� nessa mais pela sa�de, bem-estar e divers�o.


“A areia traz uma percep��o sensorial diferenciada ao nosso corpo, estimulando diferentes habilidades f�sicas e psicomotoras”, explica Finatti.


“A pessoa desenvolve mais resist�ncia f�sica, t�nus muscular e coordena��o motora sem perceber, simplesmente estando focada na bola.”


Daphne Lambros pratica o esporte na Vita Beach Sports, em Curitiba, escola de Marcela Vita, tricampe� mundial com a sele��o brasileira.


Mesmo no inverno, houve um aumento de 6% de alunos em rela��o a maio, segundo a academia. O n�mero de professores quase dobrou desde 2019.


Daphne conta que nunca foi muito de praticar esportes. Chegou a nadar e a fazer pilates, mas o beach tennis foi a feliz descoberta.


“�s vezes era frustrante no come�o, como aprender a andar de bicicleta. Mas logo vi os resultados, fiz amizades, isso me motivou. Era o momento em que eu deixava de ser uma trabalhadora, de ser uma m�e. L�, sou apenas uma mulher se divertindo com as amigas e com as novas amigas que fiz no esporte.”

Moda passageira?


Quatro pessoas jogando beach tennis na Copa do Mundo 2022, duas delas com camisas do Brasil
Disputa na Copa do Mundo de Beach Tennis 2022; j� h� quem tor�a para que pr�tica se torne esporte ol�mpico (foto: Divulga��o/Marcello Zambrana)

Westrupp, da CBT, acredita que h� espa�o para mais populariza��o.


De acordo com um estudo da Unicamp , caminhada, futebol e muscula��o s�o as atividades f�sicas mais praticadas no Brasil.


Cerca de 7% da popula��o brasileira joga futebol regularmente, o que d� por volta de 14 milh�es de praticantes.


O v�lei, o segundo esporte coletivo mais popular do pa�s, corresponde a 0,3%, ou 610 mil pessoas. O t�nis tradicional � praticado por 380 mil brasileiros. A pesquisa foi publicada no fim de 2019. O beach tennis n�o aparece nem entre as 15 atividades mais comuns.


Mas se o levantamento levasse em considera��o os n�meros mais atuais da CBT, o beach tennis estaria no top 10. At� onde o esporte consegue crescer depende, necessariamente, das condi��es socioecon�micas do pa�s.


O beach tennis pode at� n�o ser uma pr�tica t�o elitizada como o t�nis, mas tem suas limita��es.

Se n�o tiver uma quadra p�blica perto de casa, o praticante precisa pagar pelo uso.
Ainda h� os gastos com as aulas e o material.


H� raquetes que saem por menos de R$ 100, enquanto outras passam dos R$ 2 mil.

Cada bola costuma sair por R$ 10 a R$ 20 cada. Daphne Lambros reconhece que o esporte tem um certo impacto em seu or�amento mensal. Mas n�o pensa em parar.

“Para mim, vale o investimento. N�o � pelas competi��es, estou pela energia, pelo estado de esp�rito. Tor�o para que vire esporte ol�mpico”, diz.

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