
Refer�ncia em bom atendimento de c�es, gatos e animais silvestres, a Cl�nica Ve- terin�ria S�o Francisco de Assis tem hoje cinco s�cios, e uma estrutura de deixar qualquer um de boca aberta. Fundada em 5 de dezembro de 1973 por Homem Israel Ferreira, Quintili�o Francisco Lemos, Carlos Augusto Campos de Assis e Manfredo Werkhauser, passou por uma dan�a de cadeiras. Dos fundadores, o �nico que conti- nua � Carlos Augusto, ao lado de Carlos Alberto Alencar – os mais antigos – e em 1999 entraram mais tr�s colegas: Alexandre Najem, Ana Let�cia Bicalho e Arilda Moreira Faria. Al�m de consult�rios, sala de fisioterapia, UTI, salas cir�rgicas, espa�o para c�es doadores de sangue, �rea ac�stica, espa�o para gatos, tem uma �rea para animais com doen�as contagiosas, totalmente isolado. O investimento mais recente foi a cria��o do Visiovet, um centro avan�ado de diagn�stico, com maquin�rio de �ltima gera��o, em parceria com a Cl�nica Santo Agostinho.
Como surgiu o desejo de ser
veterin�rio?
Carlos Augusto – Nasci em Belo Horizonte, e aos 5 anos ganhei um balaio com uma galinha e oito pintinhos, e nessa hora eu disse que seria veterin�rio. Morava em uma casa de 360 metros quadrados com meus pais, seis irm�os e empregada, mas n�o abri m�o de meus animais. Fui o �nico filho apaixonado por bichos. Criei galinha, marreco, pato, papagaio e cheguei a ter 300 pombos. Levava para Nova Lima para fazer interc�mbio com outros pombos.
Carlos Alberto – Minha origem � de fam�lia de fazendeiro, da regi�o de Montes Claros. Vim fazer faculdade de veterin�ria para voltar para a fazenda. A fazenda do meu pai produzia tudo, s� compr�vamos sal e querosene, porque n�o tinha luz. Estudei l�, em escola p�blica.
"Tenho milhares de clientes que se tornaram meus amigos. Mudamos o conceito. Hoje, cachorro virou gente, e o propriet�rio quer que ele seja tratado como gente"
E como foi na faculdade?
C. Augusto – Quando chegou a �poca de entrar para a faculdade, as pessoas tentaram me tirar da cabe�a de fazer veterin�ria. Naquela �poca, o curso n�o era socialmente aceito, principalmente para veterin�rio de cidade. Quando fiz vestibular, 50% das vagas eram separadas para filhos de fazendeiros, e 50% para o pessoal da cidade. A faculdade, antigamente, e ainda hoje perdura isso um pouco, tinha o foco de formar fazendeiros. Mas estava determinado, e tinha o apoio dos meus pais, mas minhas tias falavam que eu ia morrer de fome.
C. Alberto – S� tinha veterin�ria em BH e em Uberaba. Passei na UFMG e vim morar em uma rep�blica. Foi dif�cil.
Como era o curso?
C. Augusto – Voltado para grandes animais. A parte de pequenos animais, mal, mal tinha algum ensinamento mais profundo. Se quisesse aprender tinha que pegar livros e estudar por conta pr�pria, e a literatura era toda em ingl�s, n�o tinha nem apostila em portugu�s. Para mim n�o tinha problema, porque estudava ingl�s desde 1961. Sempre gostei muito de estudar, e estudo at� hoje.
Qual o interesse de voc�s? Grandes ou pequenos animais?
C. Augusto – Sempre quis tratar de pequenos animais. Nem assistia �s aulas de grandes animais direito, n�o sabia nada de grandes animais. Jogava futebol muito bem, ent�o ia jogar com os professores, e eles n�o ligavam de eu faltar �s aulas dessas disciplinas. Plantas t�xicas, piscicultura, suinocultura, eu n�o estava nem a�. Meu neg�cio era cachorro. Cirurgia e toque em vaca? N�o nasci para isso, nem eu e nem o Manfredo, que era meu colega. Em 1972, eu e Manfredo come�amos a trabalhar na cl�nica do Quintili�o. Eu n�o sabia nada de cl�nica ainda, e foi quando criei o retorno. Olhava para o cachorro, examinava, anotava tudo e pedia para voltar em dois dias. Estudava e pesquisava nos livros. E aprendi cl�nica assim, sozinho, fui um autodidata. E o Manfredo na cirurgia. Quintili�o viajava e n�s dois praticamente toc�vamos a cl�nica sozinhos. Nesse per�odo come�amos a ter aula de cirurgia com o Israel.
C. Alberto – Meu neg�cio
eram grandes animais, queria
voltar para a fazenda.
Como nasceu a cl�nica?
C. Augusto – O Israel queria abrir uma cl�nica em sociedade com um grupo de professores da escola, mas antes mesmo de come�ar j� se desentenderam. Como ele queria de fato montar uma cl�nica, e precisava de um �ncora porque ele s� era conhecido dentro da UFMG, como professor de cl�nica cir�rgica de grandes animais, procurou o Quintili�o, que j� tinha a cl�nica. Era m�dico do Jardim Zool�gico e diretor da Sociedade Mineira de Pastor Alem�o, olhava tudo de exposi��o, era bem conhecido. Depois de muita conversa, resolveram montar a cl�nica
E chamaram voc�s para
entrar de s�cios?
C. Augusto – Manfredo e eu. Eles eram muito ocupados e perceberam que n�o dariam conta de tocar a cl�nica sozinhos. Cada uma pagou sua cota de participa��o e fizemos a sociedade. Come�amos a procurar uma casa e encontramos esta. Quem achou foi o Manfredo, em 1973, justi�a seja feita, ele foi o grande entusiasta da cl�nica, e temos que fazer esta homenagem a ele, porque sem ele provavelmente a cl�nica n�o sairia. Naquela �poca, ningu�m vacinava seus c�es, n�o existiam muitos pr�dios na cidade, a maioria eram casas e os animais tinham uma vida mais saud�vel, porque corriam no quintal e vivam na rua, tomavam sol, a comida era natural, carne mo�da, bofe, angu, resto de comida. Ningu�m dava ra��o. Os donos, ou tutores, como chamamos, n�o se preocupavam com essas coisas. Manfredo colocou faixas no entorno da cl�nica e praticamente fez um corpo a corpo com os vizinhos. Foi realmente um grande empenho. Tenho que dar esse cr�dito a ele. Ele foi o primeiro a sair da sociedade, mas somos amigos at� hoje.
Quando voc� come�ou na cl�nica?
C. Alberto – Entrei para o D.A. Na escola, apesar de ser um movimento de esquerda, eu era mais ou menos de centro, e fiquei amigo dos professores. Virei representante dos alunos no colegiado, e o professor Israel pediu para eu arrumar um estudante para morar na cl�nica. Como eu precisava de um lugar melhor para morar, eu fui. Muito melhor morar em Lourdes, sem pagar nada e ainda ganhar uns trocados, porque eu atendia. A cl�nica j� era nesta casa, onde foi fundada. Vim em agosto de 1976, eu e mais dois colegas, e �ramos os veterin�rios de plant�o, e cuid�vamos dos animais e da limpeza � noite. Mas continuava querendo me formar e voltar para fazenda para cuidar de grandes animais. Naquela �poca, era pejorativo mexer com cachorro. Os colegas nos apelidaram de cachorreiros. Sempre tive um princ�pio, fazer bem-feito aquilo que estou fazendo no momento. Se vou fazer o resto da vida, n�o interessa, mas enquanto estou fazendo tem que ser da melhor forma. Comecei a me dedicar, acompanhava as cirurgias do Israel para aprender o m�ximo que pudesse, sem saber se iria um dia ser veterin�rio de pequenos animais. Quando me formei, tive v�rias oportunidades de emprego, mas o Israel e o Manfredo me chamaram para trabalhar aqui, acharam que eram a maioria e decidiram. Carlos Augusto ficou desconfort�vel, porque n�o foi consultado. At� brinco que ele n�o gostou em um primeiro momento. Fui contratado em janeiro de 1978. Em meados de 1979, o Quintili�o queria colocar um filho de um amigo e cismou que queria me mandar embora, mas o Israel e o Carlos Augusto n�o deixaram. O Quintili�o saiu e eles me propuseram sociedade. Meu pai pegou um dinheiro emprestado na Caixa Econ�mica, e entrei de s�cio em igualdade, em setembro de 1979. Assumi a gest�o da cl�nica. Em 1999, Israel saiu para abrir uma cl�nica com o filho, e convidamos o Alexandre, a Let�cia e a Arilda para entrar na sociedade.
Como foi vencer o preconceito da
sociedade e conquistar clientes?
C. Augusto – O cliente antigamente trazia o cachorro por obriga��o, poucos traziam por gostar mesmo do animal. A maioria eram c�es grandes, como pastor- alem�o, dog alem�o, s�o-bernardo, afghan hound. A cidade foi crescendo, e come�aram a surgir os c�es de pequeno porte. A maioria era pequin�s, e dava muito lucro para o veterin�rio, porque o olho era muito grande e sa�a muito para fora. Sempre gostei muito de conversar com o cliente, ent�o com isso fui mudando esse “preconceito” e vencendo essa barreira. Tenho milhares de clientes que se tornaram meus amigos. Mudamos o conceito. Hoje, cachorro virou gente, e o propriet�rio quer que ele seja tratado como gente.
O tutor hoje demanda mais aten��o?
C. Alberto – Voc� precisa ter preparo e sabedoria para atender o tutor hoje. O animal agora faz parte da fam�lia, ent�o a preocupa��o � maior. Temos que acolher o tutor, para dar conforto e suporte, explicar tudo. As pessoas, quando deparam com uma situa��o grave, costumam fazer a pergunta: “Se fosse seu, doutor, o que voc� faria?”. N�o adianta eu dar minha opini�o, eu n�o estou vivenciando o lado emocional do problema. Posso ajudar, mas a decis�o de fazer eutan�sia � estritamente do propriet�rio, porque � ele quem vai sentir o peso dessa decis�o. Hoje, fazem luto, vel�rio, cremam o animal, jogam as cinzas onde passeava com o cachorro. Isso tudo existe hoje em dia.
Voc� acha que isso � por causa da
solid�o humana?
C. Augusto – Acho. Essa falta de entendimento dentro da pr�pria esp�cie, as pessoas procuram outros caminhos para sobreviver. O cachorro � um ser fiel, n�o importa se voc� � um mendigo ou se mora em um palacete. Ele n�o quer saber. Pode estar com o cara passando fome, mas est� abanando o rabinho. Essa rela��o com o animal muda muito o temperamento das pessoas, elas ficam mais am�veis e receptivas.
Tem aumentado o n�mero de pessoas que t�m optado por gatos como animais de estima��o?
C. Augusto – A tend�ncia mundial � gato suplantar o n�mero de cachorros como animais de estima��o. V�rios pa�ses j� t�m mais gatos. � mais independente, mas interage bem, e algumas ra�as desenvolveram pelos hipoalerg�nicos. A medicina � completamente diferente. Eu n�o atendo felinos h� mais de 20 anos. Aqui na cl�nica tem a Let�cia, a L�via e a Mariane. Gato � uma especialidade.
C. Alberto – Temos uma �rea especifica para interna��o de gatos, isolada, com total seguran�a. E atendemos animais silvestres tamb�m, como passarinhos, coelhos, tartarugas. Temos aqui colegas especializados nesses animais. Temos tamb�m animais cadastrados como doadores de sangue. Sempre cachorros de grande porte, saud�veis, que n�s mesmos entramos em contato com o tutor e perguntamos se querem cadastr�-lo como doador. Nossos doadores n�o pagam nada na cl�nica, s�o clientes VIPs.
O retorno continua sendo praticado?
C. Augusto – Eu criei este conceito na cl�nica, o retorno � obrigat�rio. Porque tem coisas que passam batido, n�o adianta. Tem uma coisa que se chama miopia cient�fica, est� na sua frente e voc� n�o enxerga da primeira vez, e quando voc� fica com aquilo na cabe�a, voc� vai mais ou menos elaborando, pensando, pesquisando, e no retorno voc� fecha o diagn�stico. N�o pode fugir do protocolo cl�nico. Cl�nica � gen�rica, absoluta, soberana. Tem que olhar o animal do focinho � pontinha do rabo. Voc� pode errar, mas tem que reduzir ao m�ximo a chance de erro.
Quantas especialidades voc�s
oferecem?
C. Alberto – Praticamente todas. Elas foram surgindo por necessidade e demanda do mercado. Temos oncologia, oftalmologia, neurologia, dermatologia, medicina de felinos, acupuntura, fisioterapia, cl�nica geral, nutricionista, ortopedia, cardiologia, odontologia, gastroenterologia, etc. � o caminho natural, j� que a veterin�ria � um espelho da medicina humana.
Como � ter os filhos seguindo
o caminho?
C. Alberto – � uma satisfa��o, � deixar um legado, � uma perspectiva de futuro. Meu filho Guilherme Brant j� trabalha aqui na cl�nica desde 2011, cuida da gest�o cl�nica, � respons�vel pela escolha de todos os veterin�rios. Ele faz cl�nica veterin�ria geral e se especializou em oncologia.
C. Augusto – Meu filho Dimitri Bassalo de Assis � veterin�rio, j� ficou um tempo aqui na cl�nica, mas saiu para completar doutorado. Estudou no Canad�, na Nova Zel�ndia, nos Estados Unidos e est� fazendo doutorado em S�o Paulo. � especializado em ortopedia e neurologia.
Os animais de antes eram mais
saud�veis que os de hoje?
C. Augusto – Teoricamente, tinham uma vida mais saud�vel. Tanto que tem uma discuss�o, e eu que j� sou mais vivido nessa �rea tenho certeza de que os c�es antigamente tinham mais longevidade que os c�es de hoje. Sei que muita gente vai questionar isso. Os c�es de hoje, com 10, 12 anos j� apresentam uma s�rie de doen�as que n�o apresentavam antes. Ou n�o diagnostic�vamos, ou de fato essas doen�as n�o existiam, mas o fato � que eles n�o morriam t�o cedo.
A longevidade daquela �poca passa pela alimenta��o e exerc�cios?
C. Augusto – Exatamente. Comida caseira, natural. Basicamente, era angu e sobras de carne, era o que cham�vamos de retalho. Tem uma linha que � contra essa alimenta��o. O Carlos Alberto tem outra opini�o, e � bom termos duas linhas aqui na cl�nica.
C.Alberto – Eu n�o sou contra a alimenta��o natural, mas n�o sou adepto. Hoje, temos ra��es extremamente qualificadas e balanceadas, as f�bricas t�m �timas estruturas, com mat�rias-primas selecionadas e alto controle de qualidade. � imposs�vel ter isso em alimenta��o natural. Temos nutricionista aqui que prescreve esta dieta, mas eu particularmente sou adepto das ra��es de qualidade.
Diante de tanto avan�o na medicina animal, o que � o ideal?
C.Alberto – Hoje, como rotina, oferecemos para nosso cliente um programa de sa�de com um check up anual. � a medicina veterin�ria preventiva. Nos animais de grande porte, a partir dos 6 anos fazer o check up anual com todos os exames. Nos de pequeno porte, a partir dos 8 anos. Para identificar problemas mais cedo. Isso traz retorno positivo e gera longevidade. Alguns t�m vivido 16, �s vezes at� 20 anos.
Quando come�aram, eram sete
pessoas. Quantos profissionais
a cl�nica tem hoje?
C.Alberto – S� veterin�rios, somos cerca de 30 profissionais, e mais uns 50 profissionais de outras �reas. Temos cerca de 60 leitos para interna��o. Chegamos a fazer cerca de 400 cirurgias por m�s.
Voc�s v�o fazer 50 anos de cl�nica. O que voc� sente quando v� toda essa trajet�ria e quais os planos?
C. Augusto – Passou t�o r�pido que nem senti. Tem 47 anos que olho por essa janela diariamente, e nunca me cansei. � gratificante. Fiz veterin�ria por amor. Gra�as a Deus, foi a melhor escolha para minha vida. Sou 100% realizado. O pessoal mais novo est� querendo abrir filial da cl�nica em outros bairros. Acho complicado dar aten��o a duas cl�nicas, pelo menos do jeito que eu gosto. Na minha opini�o faria subdivis�o por especialidades.
