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Estado de Minas BEM-VINDO, FUTURO

'Revolu��o': economista comanda tecelagem mineira em momento de mudan�as

Al�m de alterar o nome, a Cataguases passa a se mostrar ao mercado como uma empresa que constr�i o futuro com inova��o, ousadia e agilidade


13/11/2022 04:00 - atualizado 11/11/2022 10:52

Tiago Peixoto CEO da Cataguases
(foto: Leo Aversa/Divulga��o)

“Estamos fazendo uma pequena revolu��o dentro do nosso contexto.” Assim Tiago Peixoto, de 37 anos, bisneto do fundador, explica o novo momento da tecelagem Cataguases, que deixou para tr�s o nome Companhia Industrial Cataguases. A mudan�a ultrapassa (e muito) a dimens�o do nome, o mesmo da cidade onde fica a f�brica, na Zona da Mata mineira.


A partir de agora, a ind�stria de tecidos planos se mostra ao mercado como uma empresa que constr�i o futuro com inova��o, ousadia e agilidade. Mais que isso, a Cataguases de hoje quer deixar de ser vista apenas como ind�stria para ser reconhecida como uma marca que conversa com todos os p�blicos, inclusive o consumidor final. Para o pr�ximo ano, est�o previstas visitas guiadas � f�brica.

Movido pelo desejo de continuar o legado da fam�lia, Tiago assumiu o cargo de CEO no in�cio deste ano e, com entusiasmo, guia o neg�cio quase secular nesta nova fase.
 
Quem � e o que faz a Cataguases?
Somos um neg�cio familiar com 86 anos rec�m-completados e carregamos o nome da cidade onde estamos inseridos desde o in�cio. Hoje, talvez sejamos a mais completa estrutura produtiva de tecidos planos das Am�ricas. Quando falo em tecido plano, que � o nosso DNA, s�o tecidos usados para fazer camisas, chemises, vestidos, cuecas samba-can��o, artesanato e decora��o. S�o tricolines, cetins e voais. Temos uma atua��o forte no segmento de moda e vestu�rio. Atendemos principalmente �s marcas que usam tecido plano de algod�o. Temos uma estrutura produtiva bem completa, com tr�s plantas. Usamos mais de 95% de algod�o brasileiro, principalmente dos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Bahia. Transformamos o algod�o em fio. Depois o fio vai para os teares para se transformar em tecido. Na planta de beneficiamento, damos vida aos tecidos com estampas e tingimentos em qualquer cor que voc� imaginar. Trabalhamos com fio tinto, um processo em que se tinge o fio antes de entrar na tecelagem. Isso d� origem �s listras do xadrezes, por exemplo, muito usados na camisaria e na alfaiataria. A Cataguases � um mundo incr�vel de in�meras possibilidades, falando de produtos e perfis de clientes.
 
Qual a participa��o da empresa no mercado?
Dif�cil dizer, porque atuamos em categorias espec�ficas de consumo, mas posso dar uma dimens�o pelo volume de produ��o. Temos uma capacidade produtiva de 27 milh�es de metros lineares de tecidos planos por ano, o que � bastante consider�vel. Atuamos 75% no mercado nacional e 25% no internacional, exportando para mais de 30 pa�ses (todos da Am�rica Latina, sem exce��o). Temos uma posi��o de lideran�a e somos refer�ncia em tecidos planos. O Brasil � um dos poucos pa�ses do mundo que tem uma cadeia t�xtil e da moda completa, do campo ao varejo, que transforma a mat�ria-prima em pe�as de confec��o. N�s estamos em todas as pernas do meio do processo. N�o estamos no campo nem no varejo, mas temos fia��o, tecelagem, beneficiamento e confec��o.

Como come�a a hist�ria da Cataguases?
O meu bisav� era filho de um comerciante portugu�s, que emigrou para o Brasil em 1890 e poucos e se instalou no interior de Minas. Em determinado momento, ele vislumbrou a possibilidade de comprar a massa falida de uma ind�stria t�xtil e deu in�cio ao neg�cio, que prosperou. O meu bisav� saiu da sociedade com os irm�os na ind�stria da fam�lia, que tinha o nome de Irm�os Peixoto, para fundar junto com outro s�cio a Companhia Industrial Cataguases, em 1936. De l� pra c�, essa companhia vem crescendo. O meu bisav� morreu jovem, quando a empresa tinha pouco mais de 10 anos de vida, e o meu av�, junto com a vi�va (m�e dele), deu prosseguimento ao neg�cio, desde a d�cada de 1960 at� o fim dos anos 1990. Meu av� tamb�m faleceu relativamente jovem e meu pai fez a sucess�o.

"Como bons mineiros, sempre fomos uma empresa low profile, muito fechada em si mesma, mas esse processo de mudan�a de mentalidade pressup�e uma abertura. N�o temos nada para esconder"

 

Quais s�o as suas mem�rias de inf�ncia na f�brica?
Me lembro, quando crian�a, no colo do meu pai, recebendo o brinquedo de Natal que a f�brica distribu�a para todos os funcion�rios. Passei toda a minha inf�ncia aqui ao redor, vindo visitar meu pai e meu av�. De certa forma, isso est� no sangue. Me desconectei do neg�cio por um tempo, mas sempre acompanhei os bastidores, mesmo distante, com outros compromissos profissionais. At� que recebi o convite para participar da sucess�o. Aceitei sem saber onde estava embarcando, mas logo me apaixonei.

Voc� se imaginava trabalhando na empresa?
A minha hist�ria � um pouco diferente da do meu av� e do meu pai. Acabei seguindo minha trajet�ria. Sou nascido em Cataguases e vivi na cidade at� os 15 anos. Depois me mudei para BH, fiz faculdade e me formei em economia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Quando terminei o curso, segui carreira solo, independente do neg�cio familiar. Me mudei para S�o Paulo para trabalhar no mercado financeiro. Em 2016, a minha fam�lia, especialmente meu pai, manifestou interesse em iniciar o processo de sucess�o e me convidou. Aceitei o convite, mesmo sem ter ideia do que encontraria.

Por que voc� aceitou o convite?
Um pouco de ingenuidade, um pouco de paix�o. Um desejo que n�o conseguia explicar, mas que estava escondido l� dentro, de continuar o legado. Essa � uma hist�ria quase secular da minha fam�lia. Quando voc� mergulha nessa realidade, n�o tem como n�o se apaixonar. O contexto � muito especial. S�o v�rias gera��es de fam�lias que empreenderam junto com a minha fam�lia.

Como se deu seu percurso dentro da empresa at� o cargo de CEO?
Entrei na empresa em 2017 como diretor comercial e assim fiquei at� o fim do ano passado. Minha vida mudou por completo. Entrei em um momento especialmente delicado do Brasil, de recess�o econ�mica forte, impeachment da Dilma Rousseff, chegada do Michel Temer, e a Cataguases vinha de anos dif�ceis. Somado a isso tudo, uma inexperi�ncia grande do meu lado, assumindo a gest�o empresarial do neg�cio. Foi um per�odo dif�cil, de grandes aprendizados e muito amadurecimento. Mas fui muito bem recebido na empresa. Meu pai contratou por um per�odo um profissional de mercado para fazer essa transi��o e virou presidente do conselho. Quando estava me preparando para retomar o plano de voo, tendo feito dever de casa, j� familiarizado com a minha fun��o, com os meus desafios, me apropriando dos relacionamentos comerciais, veio a pandemia. Ficamos parados por quase 45 dias, mas conseguimos aproveitar esse momento para fazer ajustes necess�rios e chegar aonde estamos hoje.

exposicao de arte imersiva galpao de algodao cataguases
'Fizemos a primeira exposi��o de arte imersiva da Cataguases, no galp�o de algod�o, mostrando o nosso desejo de construir o futuro com uma mentalidade diferente', comenta o CEO (foto: Cataguases/Divulga��o)


Que momento � esse da Cataguases?
Estamos olhando para o futuro, atentos ao que est� acontecendo no mundo de hoje. Queremos ser uma empresa que reverencia sua hist�ria e seu passado, mas que est� preocupada em construir o seu futuro, os pr�ximos 86 anos. O nosso intuito, dentro da minha gest�o, � preservar a ess�ncia de tradi��o, qualidade e solidez e unir a isso algumas outras caracter�sticas que julgamos muito relevantes: ser digital, buscar a inova��o, antecipar novos comportamentos, ter uma mentalidade mais aberta e mais diversa. Estamos fazendo uma pequena revolu��o dentro do nosso contexto. Imagina que somos uma ind�stria t�xtil, com um maquin�rio robusto, mineira, do interior, tem toda a quest�o do tradicionalismo, mas estamos quebrando uma s�rie de paradigmas. Queremos preservar a nossa ess�ncia, o nosso jeito simples, respons�vel com as pessoas e o meio ambiente, mas trazendo uma dose de ousadia, inova��o, mudan�a de mentalidade, contemporaneidade e agilidade. Queremos desfazer a imagem do tradicional velho. Queremos mostrar uma imagem do tradicional confi�vel, que olha para o futuro com inova��o. Que est� conectado com as novas gera��es, que podem vir a integrar nossos quadros, para que sintam desejo de estar aqui e continuar essa hist�ria.

Com essas mudan�as, voc�s querem atrair olhares de investidores, de clientes, de consumidores ou de todos?
Investidor � o que menos interessa neste momento. A empresa � familiar e, se depender de mim, pode continuar assim. Queremos ser menos percebidos, aos olhos do mercado, apenas como fornecedor ou ind�stria. O nosso esfor�o � para come�ar a ser percebido como marca, o que � um desafio. Em um modelo de neg�cio business to business (B2B), somos uma ind�stria que atua nos bastidores e n�o dialoga com o consumidor final, mas isso pode e deve acontecer dentro dessa mudan�a de mentalidade.

Voc� enfrentou alguma resist�ncia nesse processo?
Esse � um trabalho que vem sendo feito desde novembro do ano passado. Em um ano, mergulhamos no mundo Cataguases, ouvimos parceiros, clientes e pessoas da cidade. A partir desse diagn�stico, fomos desenhando o que para n�s � valor, o que n�o aturamos, o que � inegoci�vel e n�o queremos abandonar de jeito nenhum e isso est� se materializando na nossa nova marca. Mudan�a de cultura n�o se faz da noite para o dia. As pessoas v�o se adaptando e n�s estamos respeitando o ritmo.

Voc�s anunciaram investimento de R$ 10 milh�es em a��es de reposicionamento da marca. O que est� programado?
Estamos programando uma s�rie de iniciativas, dentro desse novo momento da marca. Fizemos a primeira exposi��o de arte imersiva da Cataguases, no galp�o de algod�o, mostrando o nosso desejo de construir o futuro com uma mentalidade diferente. Esse foi o marco zero. Costumo dizer que a nova marca est� acontecendo h� muito tempo, mas agora, sim, vamos dar vida a ela, tangibilizar essa nova fase. Apesar de todas as dificuldades, este ano tem sido especial, de consolida��o de in�meros projetos. Estou aqui desde 2017 e tinha o sonho de transformar a nossa realidade desde o dia em que cheguei. Mas que bom que foi depois de tudo o que passei. J� alteramos a fachada com a nova marca, criamos pontos de descompress�o na f�brica, come�amos a levar conte�dos relevantes para as m�dias sociais e o pr�prio e-commerce, que est� se fortalecendo como ferramenta de relacionamento, mais amig�vel, que pode ser usado pelos clientes e representantes comerciais.

Entre as a��es previstas neste novo momento est� a abertura da f�brica para visita��o. Como isso vai funcionar?
Esse � um projeto para o ano que vem, como desdobramento do novo momento da marca. � interessante ver a rea��o das pessoas que n�o conhecem a Cataguases e, quando chegam aqui, se impressionam com a estrutura que existe. Acho que � porque tudo � muito grandioso, s�o instala��es muito grandes. Gostar�amos de transformar isso em um roteiro de experi�ncias, inclusive fomentando o turismo da regi�o, para atrair um p�blico de estudantes de moda, criativos, designers. Que eles possam conhecer a nossa estrutura, mais do nosso processo, iniciativas sustent�veis e vejam que existe um pessoal literalmente apaixonado pelo que faz. Queremos dizer: estamos abertos, podem entrar, esse � o lema do novo branding. Como bons mineiros, sempre fomos uma empresa low profile, muito fechada em si mesma, mas esse processo de mudan�a de mentalidade pressup�e uma abertura. N�o temos nada para esconder. Somos uma casa mineira, ent�o podem entrar, estamos abertos.

Qual � a rela��o da empresa com a comunidade?
Estamos em uma cidade do interior com 70 mil habitantes e, imagina, temos 1.300 colaboradores. Como � um neg�cio muito longevo, v�rias pessoas da cidade j� tiveram alguma passagem por aqui ou conhecem algu�m que j� trabalhou aqui. Temos uma rela��o muito umbilical com a comunidade. Somos dependentes, com muito orgulho, do capital humano. Temos uma paix�o pelas in�meras possibilidades de transforma��o que conseguimos alcan�ar. N�o s� da mat�ria-prima bruta, que ganha vida nas passarelas, com a criatividade dos estilistas. Mas da vida das pessoas. Dentro desse processo de rebranding, entendemos que a nossa marca se chama Cataguases. Us�vamos o nome completo, Companhia Industrial Cataguases, como marca para diferenciar a empresa da cidade. Mas, na verdade, somos quase que uma coisa s�. O mercado sempre nos conheceu como Cataguases, e esse nome � muito forte. N�o somos s� um neg�cio. Falo que somos um ecossistema de pessoas, colaboradores, a comunidade, clientes e parceiros, que � realmente muito especial. � �bvio que o neg�cio sustenta tudo. Sou muito pragm�tico, at� pela minha forma��o. O que torna poss�vel os nossos sonhos � ter um neg�cio saud�vel e em condi��es de assumir riscos em prol da sua marca e do que acredita.

Como � para voc�s sobreviver em um pa�s que tem uma ind�stria t�xtil sucateada?
Como toda hist�ria de empreendedorismo, vivemos dias de lutas e gl�rias, de dificuldades e alegrias. Mas o importante � que, com tantos desafios pelo caminho, temos essa capacidade de nos reinventar. Estamos firmes e fortes – posso dizer mais fortes do que nunca – para consolidar esse novo momento de marca e com mais for�a para olhar para o futuro.

O que o seu bisav� e o seu av� diriam sobre as mudan�as?
Eles viveram em outros tempos, mas acho que, se estivessem vivendo no tempo em que eu vivo, ficariam orgulhosos. O meu pai est� vibrando, do jeito dele. Essa chacoalhada � muito importante para olhar para dentro com sinceridade, entender o que queremos ser na ess�ncia e construir o futuro. 


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