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Estado de Minas Culin�ria para ler

Livros que despertam o apetite

Alguns livros aquecem o est�mago e despertam a cabe�a - E�a de Queir�s tem esse tempero a mais


08/01/2023 04:00

Cabidela de frango
Cabidela de frango (foto: fotos reprodu��o)


Uma das boas lembran�as que guardamos de viagens ao exterior s�o sem d�vidas os livros, que nunca saem da moda, nunca ficam velhos e s�o uma alegria quando encontrados. Sempre tive essa mania de correr livrarias em busca de novidades que n�o s�o encontradas por aqui. No meu caso espec�fico e profissional, muita moda e gastronomia. E foi um desses livros raros que descobri num desses dias de viagem por Portugal.
 
Trata-se de uma preciosidade, “� mesa com E�a de Queir�s”, da portuguesa Maria Ant�nia Goes, que at� onde eu sei, n�o deve ser conhecida por aqui. Na introdu��o � sua obra, a autora diz: “Leitora compulsiva de E�a de Queir�s desde a adolesc�ncia, sempre me impressionei com quantidade de cita��es gastron�micas na obra do grande mestre. Quantas cenas se passam � mesa em Tormes, na casa da Torre de Gon�alo Ramires, na Rua das Flores, no Ramalhete de “Os Maias, na Leiria do Padre Amaro ou em restaurantes?”
 
Eça de Queirós
E�a de Queir�s (foto: Reprodu��o)
 
 
Mais adiante: “Depois de selecionados os pratos, encontrei o livro 'Era Tormes e amanhecia', do embaixador D�rio Moreira de Castro Alves, que me prestou um precioso aux�lio a que se seguiu uma paciente e empenhada pesquisa das receitas em livros de �poca, pois era meu prop�sito respeitar os sabores daquele tempo”.
 
Reprodução
Queijadinha (foto: Reprodu��o)
 
 
Para falar pouco, os livros de E�a de Queir�s podem ser comparados, na qualidade e excel�ncia, com os livros de mem�rias do mineiro Pedro Nava, todos eles recheados com a cozinha brasileira.
Diferentemente, Nava relatava principalmente os pratos que apreciava na fam�lia, entre amigos e at� em algumas lendas belo-horizontinas, com as empadinhas do bar Estrela, reduto cultural de sua �poca, na Rua da Bahia. Nava compara comidas mineiras com as de outros estados e uma dela � a feijoada, servida pela sua fam�lia e em outras casas. Ele entra em min�cias, relatando que couve boa, para acompanhar pratos, n�o � picada com faca, mas rasgada com as m�os.
 
A escritora portuguesa criou um livro que aparecem no texto de E�a de Queir�s, come�ando com as entradas e indo at� sorvetes e sobremesas. Nas entradas, cita pratos dif�ceis de serem copiados aqui, como o foie-gras (que aparece em “A cidade e as serras”), receitas de caf�, bebidas, refrescos, sucos e at� um rebu�ado de avenca (de “O primo Bas�lio”) dif�cil de reproduzir porque n�o sabemos que aquela folhagem que temos aqui, para decora��o, pode ser usada na cozinha.
 
Algumas das receitas s�o encontradas at� hoje em Portugal, como as queijadas de Sintra (“Os Maias”) que s�o preparadas at� hoje na bela cidade. Quem quer manter a tradi��o encomenda os doces e espera sua vez de receb�-los tomando um bom vinho no caf� que fica um pouco abaixo, na pra�a a cidade, em frente ao castelo. A receita � a mesma que conhecemos por aqui, preparada com 24 gemas de ovos, queijo fresco, a��car e farinha de trigo. Para fazer, bate-se o queijo fresco e um pouco de farinha. Com a farinha de trigo e um pouco de sal se prepara uma massa que ser� transformada em forminhas assadas para conter a mistura de ovos, ou seja, a queijada. Depois, as forminhas assadas s�o recheadas com a mistura de ovos e v�o ao forno para completar o doce.
 
Receita de fazer goiabada (“Correspond�ncia de Fradique Mendes”) n�o falta. S� que, depois de pronto, o doce passa v�rios dias sendo secado ao sol – os ladrilhos de marmelada – levam sete dias para secar. Outra receita do livro que � f�cil de fazer � o xarope de groselha (“Ecos de Paris”), feito com groselhas vermelhas, a��car e �gua.

CONHE�A O AUTOR E�a de Queir�s foi um dos mais importantes escritores do realismo portugu�s sendo considerado o maior representante da prosa realista da l�ngua portuguesa. Al�m de escritor, exerceu tamb�m a profiss�o de jornalista e advogado. Passou grande parte de sua inf�ncia na cidade de Aveiro aos cuidados de sua av�. Mais tarde, foi morar no Porto a fim de estudar no Col�gio Interno da Lapa, no qual se formou em 1861.Seguiu os passos de seu pai (Magistrado e Par do Reino) e foi estudar direito na Universidade de Coimbra, graduando-se em 1866. Chegou a exercer a profiss�o de advogado e, mais tarde, de jornalista na cidade de Lisboa. Al�m disso, entrou para a carreira pol�tica sendo nomeado Administrador do Concelho de Leiria (1870); c�nsul de Portugal, em Havana (1872); c�nsul de Newcastle e Bristol, na Inglaterra (1874); e c�nsul de Portugal, em Paris (1888). J� em Paris, em 1886, casou-se com Em�lia de Castro Pamplona Resende com quem teve quatro filhos: Alberto, Ant�nio, Maria e Jos� Maria. Caracter�sticas das obras E�a de Queir�s foi um inovador da prosa realista portuguesa ao criar formas de linguagens, neologismos e mudan�as na sintaxe.

UM POUCO DAS OBRAS Em 1875 � considerado o marco inicial do realismo em Portugal, com o lan�amento do romance "O Crime do Padre Amaro". Na obra, E�a faz duras e diretas cr�ticas � vida social portuguesa, denunciando a corrup��o do clero e a hipocrisia escondida pelos valores burgueses. O autor continua com essa linha de cr�ticas sociais em seu pr�ximo romance "O Primo Bas�lio", publicado em 1878 e tamb�m em "Mandarim", de 1880 e em "Rel�quia", 1887. Em 1888, foi nomeado c�nsul em Paris e publicou "Os Maias", hist�ria de uma fam�lia durante tr�s gera��es. Nesse romance, o escritor deixa transparecer uma profunda descren�a no progresso, trazendo coloca��es recheadas de ironia e pessimismo. Outros livros trazem algumas receitas curiosas, como a “cabidela” ancestral de nosso frango ao molho pardo, que aparece no livro “A cidade e as serras”: “Ao matar a galinha � preciso recolher o sangue dentro de uma tigela com um pouco de vinagre no fundo, tendo o cuidado de mexer sempre para n�o coalhar. Aloura-se cebola picada em azeite, junta-se a galinha cortada aos bocados e aloira-se. Tempera-se com sal e pimenta e um ramo de salsa. Vai-se deitando �gua aos poucos para a galinha cozer. Depois da galinha cozida, deita-se uma concha de molho na tigela de sangue, mexe-se e junta-se ao guisado de galinha. Leve-se ao lume s� para cozer o sangue, tempera-se com uma pitada de cominhos e serve-se com fatias de p�o.”


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