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Estado de Minas

Livro de Monteiro Lobato pode ser vetado por conte�do racista

Conselho Nacional de Educa��o aprova parecer de especialista de Minas que identificou conte�do 'racista' em um dos cl�ssicos do consagrado autor brasileiro. Recomenda��o � de que o MEC retire obra das prateleiras das bibliotecas de escolas p�blicas


30/10/2010 07:53 - atualizado 30/10/2010 12:53

No Dia Nacional do Livro, celebrado nesta sexta-feira, um dos maiores cl�ssicos da literatura infantojuvenil brasileira – Ca�adas de Pedrinho, de Monteiro Lobato (1882-1948), paulista de Taubat� – entra para a lista de vetados pelo Conselho Nacional de Educa��o (CNE) e corre o risco de ser retirado das bibliotecas escolares. Conforme parecer da conselheira e professora da Faculdade de Educa��o da UFMG Nilma Lino Gomes, a obra, publicada em 1933, que narra as aventuras da turma do S�tio do Pica-pau Amarelo em busca de uma on�a-pintada, tem conte�do racista. Os alvos principais seriam a personagem Tia Nast�cia e alguns animais, como o urubu e o macaco. A pol�mica come�ou no Distrito Federal, e a proibi��o valer� para todo o pa�s, se o relat�rio do CNE for homologado pelo ministro da Educa��o, Fernando Haddad.

O parecer de Nilma, que provoca indigna��o no meio cultural, foi aprovado por unanimidade pela C�mara de Educa��o B�sica/CNE e elaborado a partir de den�ncia da Secretaria de Promo��o da Igualdade Racial. Na pr�xima quinta-feira, no Rio de Janeiro (RJ), a Academia Brasileira de Letras (ABL) vai se reunir em plen�ria para discutir a quest�o e fazer um pronunciamento, segundo informou o presidente da institui��o, Marcos Vinicios Vila�a.

De acordo com o relato de Nilma, "� essencial considerar o papel da escola no processo de educa��o e reeduca��o das rela��es raciais, a fim de superar o racismo, a discrimina��o e o preconceito racial. A despeito do importante car�ter liter�rio da obra de Monteiro Lobato, o qual n�o se pode negar, � necess�rio considerar que somos sujeitos da nossa pr�pria �poca, por�m, ao mesmo tempo, somos respons�veis pelos desdobramentos e efeitos das op��es e orienta��es pol�ticas, pedag�gicas e liter�rias assumidas no contexto em que vivemos".

Nilma escreveu ainda que "a literatura em sintonia com o mundo n�o est� fora dos conflitos, das tens�es e das hierarquias sociais e raciais, nas quais o trato � diversidade se realiza. S�o situa��es que est�o presentes nos textos liter�rios, pois esses fazem parte da vida real. A fic��o n�o se constr�i em um espa�o social vazio". O livro foi distribu�do pelo MEC a institui��es de ensino fundamental pelo Programa Nacional de Biblioteca na Escola (PNBE). Em nota t�cnica citada pelo CNE, a Secretaria de Alfabetiza��o e Diversidade do MEC diz que a obra s� deve ser usada "quando o professor tiver a compreens�o dos processos hist�ricos que geram o racismo no Brasil".

IDEIA INFELIZ Admirador de Lobato, de quem leu toda a obra na juventude, o secret�rio geral da Academia Mineira de Letras (AML), Alo�sio Garcia, considera ideia infeliz pensar em proibir Ca�adas de Pedrinho. "Quem perde com isso s�o as novas gera��es, que n�o ter�o oportunidade de conhecer este livro", diz Garcia. Ele lembra "que se trata de um cl�ssico de grande valor, que ser� sempre fonte de conhecimento e cultura. Muitos livros, quando publicados numa determinada �poca, podem ganhar, no futuro, outra tradu��o para palavras e express�es, mas isso n�o significa racismo e preconceito". Alguns trechos da obra dizem: "Tia Nast�cia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carv�o"; e "N�o � � toa que macacos se parecem tanto com os homens. S� dizem bobagens."

Para a diretora de A��es de Incentivo � Leitura da Biblioteca P�blica Estadual Luiz de Bessa, no Bairro Funcion�rios, Regi�o Centro-Sul de BH, Mariana de Faria, a medida � exagerada e tem ares de cerceamento. "Limitar o acesso � leitura � ser, de certa forma, preconceituoso tamb�m. N�o podemos definir o que o outro pode ler. Cada indiv�duo deve ter essa liberdade, que � o desejado pela pr�pria literatura. Por meio desses aspectos, as pessoas formam senso cr�tico e analisam se h� algo racista ou n�o, se quer ferir os negros ou se se trata de uma met�fora", observa Mariana, enfatizando que expressa sua opini�o, e n�o a da institui��o que dirige.

A diretora da biblioteca defende o acesso irrestrito � leitura, certa de que, no ambiente escolar, as interpreta��es v�o depender do trabalho feito pelos educadores. "Se o professor explicar que se trata de uma express�o liter�ria, que permite tudo e cabe ao leitor atribuir sentido ao que l�, qualquer livro � v�lido", afirma. Ela ressalta que Lobato � um cl�ssico e n�o pode sair das prateleiras das bibliotecas das institui��es de ensino. "A liberdade do leitor de se interessar por determinada obra e entender as mensagens dela partem do pr�prio senso cr�tico, que a escola ajuda a construir, mas n�o define", ressalta. "V�rias gera��es leram Ca�adas de Pedrinho e n�o se tornaram racistas."

Na estante de casa, a ambientalista Ana Eduarda Morais, de 38 anos, mant�m, com orgulho, a cole��o inteira de Monteiro Lobato. O livro Ca�adas de Pedrinho est� entre os volumes e continuar� com lugar cativo. "O Brasil � um pa�s racista, isso faz parte da hist�ria e n�o h� como negar. N�o acho que o livro tenha que ser banido. O certo � levar o assunto para discuss�o. � uma forma de refletir e incentivar o pensamento cr�tico", afirma. Nesta sexta-feira, na Biblioteca P�blica Estadual Luiz de Bessa, onde h� quatro exemplares da publica��o, Ana Eduarda foi enf�tica ao dizer, entre as duas filhas, Marcela, de 8, e Maria Clara, de 6, que elas ter�o acesso ilimitado �s hist�rias do personagem de Monteiro Lobato. "Ca�adas de Pedrinho tamb�m fala para as crian�as sobre o contato com a natureza e as brincadeiras ao ar livre."

O Estado de Minas tentou, sem sucesso, contato com a professora Nilma Lino Gomes, autora do parecer aprovado pelo CNE contra a obra de Lobato. De acordo com o conselho, apenas a conselheira falaria sobre o assunto � reportagem do EM. E informou ainda que ela estava em viagem, participando de um evento no Sul do pa�s.


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