Novas den�ncias envolvendo a atua��o miliciana de PMs aumentam a hostilidade entre parte da pol�cia e moradores do alto do Aglomerado da Serra e, amedrontadas, fam�lias decidem descer o morro em busca de prote��o. Preocupados com telefonemas an�nimos amea�adores, passados tr�s dias da execu��o do adolescente e auxiliar de padeiro Jeferson Coelho da Silva, de 17 anos, e de seu tio e enfermeiro Renilson Veriano da Silva, de 39, moradores decidem ir para a casa de parentes, distante do aglomerado, em busca de seguran�a at� a poeira baixar e a rotina voltar ao normal.
Agress�o a crian�as e adultos, recebimento de vantagens indevidas, coniv�ncia com o tr�fico de drogas, aliciamento de ex-presos, trucul�ncia nas abordagens, suspeita de execu��es e at� envolvimento com esquema de ca�a-n�queis. A lista de den�ncias contra os maus policiais a ser investigada, j� extensa, aumenta a cada dia, revelando o comportamento nada compat�vel com as fun��es de um agente da lei. As acusa��es levaram na ter�a-feira a Comiss�o de Direitos Humanos da Assembleia e especialistas em seguran�a p�blica a pedir a extin��o do Batalh�o de Rondas T�ticas Metropolitanas (Rotam), ao qual pertencem os militares apontados como autores da execu��o dos dois trabalhadores.
“A comunidade nos denunciou alguns casos de transgress�es dos policiais no cumprimento do dever e a Corregedoria trabalha para identificar mais cinco nomes”, afirmou o chefe do Comando de Policiamento Especializado, confirmando a s�rie de den�ncias. Ao todo, nove militares s�o investigados. Os outros quatro, supostos autores das execu��es dos dois inocentes na madrugada de s�bado, tamb�m s�o investigados e, enquanto durar o inqu�rito, ficar�o afastados.
Apesar da presen�a constante de mais de 100 PMs nas ruas e becos do maior conjunto de favelas de Belo Horizonte, a popula��o, ainda assim, se sente acuada e tem medo de repres�lias tanto por parte de traficantes quanto de militares envolvidos no esquema de mil�cia. Equipe do Estado de Minas percorreu a p� ruelas e becos do aglomerado e, enquanto deputados e vereadores discursavam na Pra�a do Cardoso, na �rea central do conjunto de favelas, em outras partes o clima ainda � de muita desconfian�a em rela��o ao que vai ocorrer depois que o morro for desocupado e a imprensa tirar a Serra do foco.
“No fim de semana, os homens v�o arrepiar l�. N�o vai ficar assim”, diz o gar�om L.A.S., que morava na Serra e, ontem, atendeu ao pedido dos tr�s filhos e os tirou da favela, levando-os para sua casa no Barreiro. “Os meninos est�o com muito medo e me ligaram, anteontem � noite, pedindo para ficar uns dias comigo fora do morro”, relata o gar�om, que conviveu por muitos anos com a fam�lia de Jeferson, tendo, inclusive, estudado na Escola Estadual Professor Pedro Aleixo com Renilson. Ele s� deixou o aglomerado depois de se separar da mulher.
A situa��o do l�der comunit�rio Paulo (nome fict�cio) � ainda mais grave. Depois de denunciar ao EM todo o esquema de forma��o de mil�cia no morro, ele recebeu dois telefonemas amea�adores e decidiu passar uns dias na casa da m�e, at� o clima amenizar. “Eles n�o v�o deixar barato, mas � preciso enfrentar, mesmo com o medo.” Ele diz ainda que, se passar uma noite em casa no aglomerado, tem medo de ser assassinado. Ele foi um dos que, na noite de domingo, ouviram policiais do Rotam passar por ruas do morro gritando com fuzil na m�o: “Quem abrir a boca vai morrer. N�s vamos matar mesmo’”.
Duas novas den�ncias relatadas por moradores �s autoridades � que PMs comandariam o esquema de explora��o de m�quinas ca�a-n�queis e, sob amea�as, aliciavam jovens rec�m-libertados da pris�o para envolv�-los no tr�fico de drogas. Quanto �s m�quinas de jogo eletr�nico, a den�ncia foi feita � Comiss�o de Direitos Humanos da Assembleia e policiais seriam donos dos ca�a-n�queis instalados em bares do aglomerado.
Apelidos
Entre os policiais investigados est�o dois identificados s� por apelidos: os PMs Cabe�a de Repolho e Pica-pau – o primeiro, inclusive, seria chefe de uma boca de fumo no Alto Vera Cruz. Os dois estariam diretamente envolvidos no esquema de mil�cia no morro, den�ncia em apura��o na Ouvidoria de Pol�cia de Minas Gerais. “Identificamos tr�s pessoas apelidadas de Repolho na PM em tr�s batalh�es da capital. Por isso, devemos investigar um pouco mais para n�o pegarmos um inocente. Mas n�o � muito complicado”, afirmou o coronel Ant�nio Pereira Carvalho, chefe do Comando de Policiamento Especializado (CPE). A facilidade se d� porque um deles est� lotado no 22º Batalh�o – os outros dois est�o no 16º e no 1º –, este respons�vel pelo patrulhamento na regi�o. Al�m disso, Repolho andaria a tiracolo com um comparsa da PM identificado como L�zaro, o que tamb�m � confirmado por Carvalho. Outro investigado � conhecido como Leoc�dio.
O que dificulta a identifica��o dos policiais � que, muitas vezes, para subir os morros eles tiram da farda a tarja com seus nomes e, assim, passam a ser chamados pelos moradores por apelidos. “Nos passaram apenas codinomes ou apelidos. Por isso, n�o temos como afirmar ainda a qual batalh�o eles pertencem”, disse o ouvidor de pol�cia Paulo Alkimin.