Nem a combina��o de refor�o policial, chuva e o medo pelo assassinato nesta semana de um travesti com nove tiros, na Avenida Afonso Pena, foi capaz de afastar, na madrugada fria de sexta-feira, transtornos que v�m a reboque da prostitui��o no principal corredor de tr�nsito do Centro e Regi�o Centro-Sul da capital. Lado a lado da a��o de militares, que desde a noite de quinta-feira intensificaram a presen�a na via, o Estado de Minas flagrou cenas de sexo em ve�culos estacionados nas ruas pr�ximas, pessoas urinando em cal�adas sem qualquer pudor, al�m de shows de exibicionismos de travestis e ind�cios do com�rcio de entorpecentes. A boa not�cia � que, depois de tratar a execu��o do homossexual, por suposto envolvimento com tr�fico de drogas, como pontual, a Pol�cia Militar (PM) mudou de posi��o e decidiu acionar seu sistema de intelig�ncia para atuar em conjunto com a Pol�cia Civil e se reunir com a comunidade para tentar devolver a tranquilidade de quem vive pr�ximo � avenida.
Esse trabalho exigir� perspic�cia e empenho da corpora��o, pois n�o faltam artimanhas para driblar o cerco policial no mais famoso reduto de prostitui��o da cidade. Na madrugada de sexta-feira, as luzes da viatura eram o alerta para infratores se esconderem. Muitos dos “fugitivos” s�o adolescentes, que, a todo momento, s�o vistos entregando pequenos pacotes a garotas de programa e travestis, um forte de ind�cio do tr�fico de drogas. Na Pra�a ABC, no cruzamento das avenidas Afonso Pena e Get�lio Vargas, a um quarteir�o do Departamento de Investiga��o Antidrogas da Pol�cia Civil, um jovem, aparentando ser menor de 18 anos, ficou horas em comportamento suspeito, pr�ximo a uma suposta prostituta, vestida de roupa de couro. A todo momento ela ia at� o rapaz para conversar ou pegar algo.
A prostitui��o no alto da Avenida Afonso Pena fica evidente a partir das 22h, quando come�am a surgir os grupos de travestis, a maioria ocupando o lado da via no sentido bairro/Centro. O ponto de maior concentra��o � entre as ruas Maranh�o e Piau�, onde o travesti Gustavo Brand�o de Aguilar, de 22 anos, foi assassinado quarta-feira. S�o pelo menos 14 quarteir�es de “ofertas” para clientes, que chegam em carros populares ou em luxuosos esportivos importados.
Estudante universit�rio, o travesti V., de 27 anos, conta que a clientela � diversa. “Funcion�rio p�blico de alta posi��o, empres�rio, religioso, solteiro ou casado, eles querem apenas prazer", explica o rapaz, que cobra a partir de R$ 20 por sexo oral na rua. “H� cliente que, com medo, quer fazer sexo oral com o carro em movimento. Mas h� sempre um local discreto, em que se pode fazer o que for sem prejudicar ningu�m." Conforme a den�ncia de moradores e o relato de V., o EM comprovou que os programas podem ser feitos em via p�blica, sendo as ruas mais escuras os destinos preferidos.
Um jovem que dirigia um Voyage modelo novo, de cor verde-escuro, apanhou um travesti na Afonso Pena, na esquina com a Rua Maranh�o, pr�ximo ao Corpo de Bombeiros, e seguiu para a Rua Inconfidentes. O jovem, que aparentemente j� era cliente do homossexual, escolheu um ponto escuro da rua para estacionar o carro. A vaga eleita para o programa se situa bem em frente a um pr�dio residencial e o detalhe � que a janela do ve�culo ficou aberta. Momentos antes, o mesmo travesti protagonizava um show de exibicionismo, com � genit�lia � mostra em plena avenida.
A��es
O comando do 1º Batalh�o da PM, que divide com o 22º BPM a responsabilidade pela vig�lia da �rea, promete agir para controlar abusos decorrentes da prostitui��o e do tr�fico de drogas na Afonso Pena. De acordo com a tenente D�bora Santos, assessora de comunica��o do Comando de Policiamento da Capital (CPC), al�m da viatura exclusiva rondando a avenida, homens do servi�o de intelig�ncia da PM v�o atuar em conjunto com policiais civis para identificar traficantes. Segundo a PC, o Departamento de Investiga��o Antidrogas trabalha em investiga��o sigilosa para fechar o cerco ao com�rcio de entorpecentes na Afonso Pena.
Al�m do trabalho investigativo, a PM convocar� representantes de bairros pr�ximos � Afonso Pena para tra�ar estrat�gias de combate ao tr�fico de drogas, atos obscenos e brigas bem debaixo da janela dos cidad�os. De acordo com o comandante do 1º BPM, tenente-coronel M�rcio Cassavari, os moradores ser�o tamb�m convidados a fazer parte do Conselho Comunit�rio de Seguran�a P�blica. “Depois do carnaval, vamos chamar a comunidade e buscar solu��es para esses problemas”, afirma o comandante, que at� a noite ainda n�o tinha o balan�o completo das a��es na madrugada de sexta. Numa lista preliminar, houve a apreens�o de um carro com documento irregular, o cadastramento de prostitutas e travestis e identifica��o de usu�rios de drogas.
O 22º BPM, que come�ou sexta-feira opera��o especial de fim de semana na Pra�a do Papa, no Bairro Mangabeiras, na Regi�o Centro-Sul, depois de den�ncias do EM sobre viola��es da lei do sil�ncio e abuso de drogas no cart�o-postal, tamb�m promete estender as a��es ao trecho da Afonso Pena entre a Pra�a da Bandeira e a Pra�a Milton Campos. “Rotineiramente, faremos a abordagem de pessoas e ve�culos suspeitos e quando moradores verificarem algum crime, como atos obscenos”, afirma o Capit�o Washington Mendes Pereira, comandante da 127ª Companhia, do 22º BPM.
As iniciativas acendem a esperan�a da comunidade. “Estamos abertos � pol�cia e esperamos que n�o sejam apenas medidas tempor�rias, mas solu��es permanentes”, afirma o presidente da Uni�o das Associa��es de Bairro da Zona Sul, Marcelo Marinho Franco.