O envenenamento de oito moradores de rua que viviam h� quase dois anos na Pra�a Iron Marra, no Bairro Santa Am�lia, Regi�o da Pampulha, movimentou a Pol�cia Militar e muitas equipes m�dicas ontem de manh�. Os mendigos foram intoxicados ao ingerir cacha�a misturada com uma subst�ncia granulada preta que pode ser chumbinho (veneno usado para matar ratos). Moradores que ajudaram a socorr�-los contaram que os mendigos encontraram a garrafa de cacha�a largada na grama, no in�cio da manh� de ontem, e consumiram a bebida. Todos est�o em estado grave. Eles foram socorridos pelo Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu) e levados para quatro unidades de Pronto Atendimento (UPA) e para o hospital Risoleta Neves, em Venda Nova, e Pronto-Socorro Jo�o XXIII, no Centro de Belo Horizonte.
Policiais que registraram a ocorr�ncia avaliam a hip�tese de que o respons�vel pela tentativa de homic�dio tenha deixado a garrafa com a bebida envenenada durante a madrugada, para evitar ser visto e dificultar sua identifica��o. Habitantes da regi�o contaram que n�o foi a primeira vez que algu�m tentou matar os mendigos. H� alguns meses, algu�m deixou comida envenenada na pra�a, mas os moradores de rua desconfiaram e n�o consumiram o alimento. Um cachorro comeu e morreu.
Os primeiros a perceber que havia algo grave com os mendigos, sete homens e uma mulher com idades entre 21 e 33, foram pessoas que moram nas proximidades. A aposentada peruana J�lia Bernuv, de 66 anos, contou que encontrou o grupo agonizando por volta das 7h. “N�o consigo esquecer o rosto deles de agonia, gritando de dor. Eles olhavam para mim pedindo socorro. Todos estavam vomitando, evacuando sangue. As pessoas olhavam aquilo tudo e n�o faziam nada. At� os bombeiros duvidaram de mim, quando liguei, dizendo que n�o iam atender mendigos b�bados de cacha�a. Expliquei que eles tinham sido envenenados por chumbinho”, disse ela.
O jornaleiro Maur�cio Pereira, de 44, acompanhou tudo de perto. Com a banca instalada no local, ele disse que os moradores de rua come�aram a passar mal depois de beber o conte�do da garrafa de vidro. “Quando abri a banca, por volta das 6h30, dois j� estavam vomitando. Os outros estavam sentados em volta de uma �rvore, bebendo tamb�m. Meia hora depois, eles passaram a reclamar de dor na barriga”, contou. “Em outubro faz dois anos que esse grupo dorme sob as marquises e passa o dia inteiro na pra�a. Usam drogas, brigam entre eles, pedem dinheiro e fazem a porta dos moradores de banheiro, o que causa inc�modo em todo mundo. Mas da� a dar veneno, � demais”, lamentou o jornaleiro.
A dona de casa Maria de F�tima Cardoso, de 54, ia comprar ra��o para seus c�es,quando ouviu uma vizinha gritando por socorro. Ela ajudou a socorrer as v�timas de envenenamento e lembra que esta n�o foi a primeira vez que tentaram “exterminar” a popula��o de rua que vive na pra�a. “H� uns meses, misturaram chumbinho em pratos de comida e espalharam pela grama. Quem passou mal foram os cachorros deles. Desta vez, conseguiram fazer essa maldade. Eles estavam tr�mulos, uivando de dor. O governo n�o toma nenhuma atitude , eles tamb�m n�o querem sair das ruas e eu acabo ajudando. Sei que as pessoas se incomodam com essa situa��o, mas ningu�m tem o direito de tirar a vida”, alegou a moradora.
Os oito moradores de rua chegaram �s unidades m�dicas com diarreia, n�useas, v�mito, dores abdominais e sonol�ncia. A garrafa com um resto de l�quido e subst�ncia granulada preta foi recolhida por policiais militares, que registraram o caso na 7ª Delegacia Seccional de Venda Nova. � tarde, o material foi encaminhado ao Instituto de Criminal�stica para an�lise.