“S�o verdadeiros urubus. N�o respeitam nossa dor e o momento de tristeza que estamos passando”. Foi assim que a agente comunit�ria de sa�de Elis�ngela Taffner, de 32 anos, definiu o ass�dio de representantes de funer�rias num hospital de Venda Nova, onde o primo morreu no domingo. Depois do an�ncio da morte, funcion�rios da empresa que tem uma sala ao lado do necrot�rio da unidade hospitalar abordaram a mo�a oferecendo o servi�o. “Ela estava todo empolgada, falante. Quando dissemos que meu primo tinha um plano funer�rio, ela ‘murchou’ e perdeu o interesse na gente. Queria saber como descobrem que somos familiares de uma pessoa que faleceu”, afirmou Elis�ngela ao lado do caix�o do primo, enterrado na tarde de ontem no Cemit�rio da Paz, na Regi�o Noroeste da capital.
Situa��es como essa s�o frequentes, conforme o Estado de Minas vem denunciando desde domingo, como o ass�dio das funer�rias em hospitais e at� sobre agentes da Pol�cia Civil que dirigem os rabec�es e levam os corpos para as empresas, e n�o para o Instituto M�dico-Legal (IML).
Mande seu relato sobre abusos de funer�rias para a comunidade Morte S/A
Contudo, pouco pode mudar, j� que a Pol�cia Civil informou que a corregedoria da corpora��o aguarda den�ncias formalizadas para investigar, mesmo havendo apenas quatro rabec�es em BH e outros quatro para atender a regi�o metropolitana. O Minist�rio P�blico Estadual informou que n�o h� qualquer investiga��o em curso sobre funer�rias.
O presidente do sindicato das empresas funer�rias de Minas Gerais, Jos� Afonso do Real, admite que os esquemas existem, mas diz que a entidade � contra. “O setor das funer�rias � honesto, mas acaba malvisto por causa da fun��o e das atitudes de maus profissionais, como ocorre em toda profiss�o”, disse. “Estamos tentando informar as pessoas para que cobrem seus direitos. Assim, essas funer�rias que t�m essa atitude errada v�o mudando de postura com o tempo. N�o � f�cil mudar ‘ind�strias’ de 40 anos do dia para a noite”, admite.
C�digo de �tica
De acordo com o presidente do sindicato, uma das formas de tentar acabar com a “ind�stria” que lucra com a dor alheia subornando funcion�rios p�blicos e conseguindo vantagens indevidas ´ï¿½ por meio de um c�digo de �tica, que est� sendo preparado. “Na sexta-feira vamos nos reunir e come�ar a planejar esse c�digo de condutas para disciplinar a profiss�o. Quem n�o seguir pode ser desfiliado e investigado pelo Minist�rio P�blico”, disse.
Ela conta que, h� quatro anos, quando o pai dela morreu, chegou a ser puxada pelo bra�o na porta do hospital, no Bairro S�o Cristov�o, na Regi�o Noroeste. “Era uma legi�o de funcion�rios de funer�rias. Alguns j� falam com a gente dentro do hospital, na sala da assistente social. Eles se apresentam, inclusive, vestidos com uniformes do hospital”, comenta. “S�o muito frios. S� pensam em dinheiro, n�o se preocupam com o que estamos sentindo. Acham que o dinheiro � mais importante do que qualquer coisa”, afirma.
A irm� dela, a educadora infantil Sheila Lopes, de 30 anos, tamb�m reclama do tratamento e diz que o ass�dio fez com que optassem por um servi�o funer�rio mais caro na ocasi�o da morte do pai. “Como est�vamos fragilizadas, nem mesmo pensamos na possibilidade de procurar um funeral mais barato. Pagamos cerca de R$ 2,5 mil na �poca, enquanto tem vel�rio que sai at� por R$ 1,2 mil. Falaram que poder�amos dividir no cart�o de cr�dito e fizeram v�rias promessas de que o servi�o seria de melhor qualidade”, conta a mo�a.