
A falta de necrot�rios para a Medicina Legal e de ve�culos de traslado para a Pol�cia Civil, os chamados rabec�es, p�s nas m�os de algumas funer�rias do interior de Minas o controle sobre quase todo o processo que envolve sepultamentos nesses munic�pios. Cidades como Bom Despacho, no Centro-Oeste mineiro, usam at� os laborat�rios das empresas f�nebres para periciar os cad�veres. “N�s, legistas, achamos bom, porque de outra forma ficaria dif�cil de trabalhar. S� que h� empresas que aproveitam para negociar seus servi�os com os familiares”, conta um m�dico do Instituto M�dico Legal (IML) de Belo Horizonte, que n�o tem permiss�o oficial para dar entrevistas, mas trabalhou em muitas cidades e conhece de perto essa realidade. “Como s�o s� os carros de funer�rias que recolhem mortos, a pol�cia criou um rod�zio para dar chance a todas. S� que muitas delas recebem dicas dos policiais e furam a fila para ganhar mais um cliente”, afirma o legista.
Mande seu relato sobre abusos de funer�rias para a comunidade Morte S/A
Os ve�culos de funer�rias particulares recolhem corpos em sistema de rod�zio em cidades grandes do interior, como Montes Claros e Pirapora (Norte de Minas), Pouso Alegre (Sul de Minas), Ouro Preto e Ponte Nova (Regi�o Central do estado). O esquema � diferente do que ocorre em Belo Horizonte, onde funer�rias instaladas em hospitais s�o confundidas com o servi�o hospitalar e aproveitam para conseguir clientes. Algumas empresas chegam, segundo relatos de trabalhadores do setor e parentes de mortos, a subornar policiais civis para que levem corpos que deveriam seguir para o Instituto M�dico Legal diretamente para as funer�rias, que t�m seus pr�prios m�dicos para lavrar atestados de �bito, como mostra o Estado de Minas desde domingo.
Em Montes Claros, o sistema de rod�zio no transporte de corpos funciona para suprir a falta de rabec�o na cidade. O delegado regional de Montes Claros, Jos� Messias Sales, diz que, apesar do acordo, a fam�lia n�o � obrigada a contratar os servi�os da funer�ria que leva o corpo at� o IML. “N�o existe essa obriga��o, isso � um mercado”, admite. “Como o Estado enfrenta defici�ncias, fizemos um acordo com as empresas funer�rias, que tamb�m t�m interesse na quest�o. Mas a funer�ria de plant�o � respons�vel somente por transportar o corpo para o IML”, diz Sales.
Na pr�tica, por�m, quase sempre a funer�ria que transporta o corpo at� o IML tamb�m acaba fazendo os funerais. “O que acontece � que a fam�lia, j� fragilizada por causa de uma perda numa trag�dia, n�o se preocupa com a quest�o financeira. A�, aceita a proposta da funer�ria que j� recolheu o corpo no local do acidente. � l�gico que a funer�ria leva alguma vantagem em cima disso”, afirma um servidor aposentado de Montes Claros, que, recentemente, perdeu um irm�o em um acidente na BR-135. “No caso do acidente com meu irm�o, a fam�lia ficou t�o abalada que logo se preocupou em contratar o servi�o da funer�ria que transportou o corpo”, acrescenta. Em outubro, o motorista Oswaldo J. B. perdeu um filho de 20 anos em um acidente em Montes Claros e conta que a fam�lia acabou contratando a mesma funer�ria que levou o corpo ao IML. “Como a funer�ria praticamente j� estava com o corpo, ficava mais f�cil ela fazer o servi�o”, afirma Oswaldo. Os servi�os funerais foram contratados por R$ 2,4 mil e ser�o pagos com o dinheiro do seguro Dpvat, revelou o motorista.
Abordagens
Al�m de permitir direcionamento, o sistema de rod�zio n�o � capaz de impedir que familiares sejam abordados por v�rias funer�rias. H� casos frequentes em que v�rios carros de empresas correm para atender a uma mesma ocorr�ncia , com os agentes funer�rios entrando em disputa pelo servi�o. No �ltimo s�bado, o motorista Antonio Geraldo Santos, de 52 anos, morreu depois de uma batida entre duas carretas na BR-251, pr�ximo ao povoado de Curral de Varas, munic�pio de Gr�o Mogol. Momentos depois da batida, chegou ao local um carro da filial em Gr�o Mogol da Funer�ria Bom Pastor, acionada pelo perito por ser a “plantonista” da semana para transportar os corpos. Mas, menos de uma hora depois, tamb�m apareceu um carro da Funer�ria Avelar (filial de Francisco S�). O carro desta �ltima permaneceu no local por cerca de 10 minutos, e foi retirado depois que o perito comunicou que o “plant�o” era da Bom Pastor.
Depois de transportar o corpo de Antonio Geraldo Santos at� o IML em Montes Claros, a Funer�ria Bom Pastor foi contratada para fazer os servi�os de prepara��o do corpo, o traslado e o enterro, realizado domingo, em S�o Jo�o do Pacu�, tamb�m no Norte de Minas. Os servi�os funerais foram pagos pelo seguro feito pela empresa dona da carreta que ele conduzia, transportando material usado na fabrica��o de explosivos. “�s vezes, uma funer�ria est� de ‘plant�o’. A� acontece um acidente e aparece no local o carro de uma outra funer�ria, que ficou sabendo primeiro do fato, por ter sido avisada antes. N�o sabemos quem, mas pode ser gente da pr�pria pol�cia rodovi�ria que passa a informa��o em troca de alguma coisa”, diz um comerciante do setor, que prefere n�o se identificar.
“Isso � completamente errado e caracteriza crime ou uma infra��o administrativa, pass�vel de puni��o. Mas, para isso tem que ficar demonstrado que o policial agiu por algum interesse particular ou para receber algum tipo de favorecimento”, afirma a chefe substituta da delegacia da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) de Montes Claros, Heloisa Menezes. Segundo ela, todos os integrantes da corpora��o s�o instru�dos a acionar sempre a per�cia civil em casos de acidentes com mortos.
Repercuss�o
Leitores comentam no em.com.br
“Onde anda a fiscaliza��o da prefeitura, direitos humanos,
Pol�cia Federal? Trata-se de um aproveitamento totalmente descab�vel”
Andr� Lemos
“Isso n�o acontece somente na capital. No interior, as funer�rias abusam tamb�m”
Jorge Castro
“Oh, Justi�a! Isto acontece deste que inventaram este seguro (Dpvat). Sempre foi assim e come�a no necrot�rio do hospital. � s� ir � porta do IML e ver muitos que tratam desses assuntos”
Ricardo Gon�alves de Souza