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Estado de Minas

Risco de enchentes amea�a dez mil pessoas em BH

O EM acompanhou a rotina de medo dos moradores na noite �s margens do Ribeir�o do On�a


postado em 17/12/2011 06:00 / atualizado em 17/12/2011 07:14

Nível elevado do ribeirão do onça tirou o sono dos moradores na região nordeste (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
N�vel elevado do ribeir�o do on�a tirou o sono dos moradores na regi�o nordeste (foto: T�LIO SANTOS/EM/D.A PRESS)

Os pingos grossos e frios da chuva que aperta na escurid�o n�o det�m o avan�o da m�e que procura o �nico filho. Cruzando vielas enlameadas e contornando becos escorregadios, na madrugada dessa sexta-feira, a diarista Nanci C�ndido de Freitas, de 39 anos, uma das moradoras de �reas de risco amea�adas pelas tempestades que devastam BH, vasculhou lugares � beira do Ribeir�o do On�a � procura do adolescente de 14 anos que j� deveria ter retornado para casa. A precipita��o de mais de 24 horas, desde quarta-feira, s� engrossou o turbilh�o malcheiroso do c�rrego que toma propor��es de um rio escondido pela noite. O ru�do alto da correnteza, como o de uma catarata, s� deixou a diarista mais preocupada. A �gua por v�rias vezes entrou na casa humilde onde Nanci vive sozinha com o garoto, destruiu m�veis, roupas e mantimentos. “Ele tinha de ter voltado. J� est� tarde. Chovendo muito. O rio (Ribeir�o do On�a) pode subir, e ele arrasta tudo quando vem. N�o vou sossegar enquanto n�o tiver certeza de que ele n�o corre perigo”, diz a mulher, aflita.

A ang�stia dos moradores � consequ�ncia da chuva dos �ltimos dias em BH. Nessa sexta-feira, na regi�o da Avenida Cristiano Machado, o dia foi de contar preju�zos. O prefeito Marcio Lacerda assinou o decreto de emerg�ncia que prev� contrata��o de obras sem licita��o. Enquanto isso, a Defesa Civil confirmou a morte de uma mais uma pessoa em decorr�ncia da chuva no estado.

A via crucis da diarista Nanci em busca do filho desaparecido foi na Vila Novo Aar�o Reis, na Regi�o Noroeste de BH. Ela encarna a ang�stia de cerca de 10 mil pessoas que habitam �reas de risco � beira de rios e c�rregos em perigo iminente de inunda��o na capital. Para mostrar a afli��o e o medo de quem convive com as amea�as, � beira dos rios ou dependurado nas encostas, a reportagem do Estado de Minas passou a noite de quinta-feira e a madrugada dessa sexta-feira entre seis vilas em �reas de risco durante a chuva que j� causou alagamentos e preju�zos.

De acordo com a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), em 2009, �poca do �ltimo levantamento, havia 3.789 edifica��es em situa��o de risco de deslizamento de encosta classificados como alto e muito alto. Contudo, as enchentes e enxurradas em favelas se tornaram os principais vil�es dessa �reas, matando 12 pessoas nos �ltimos seis anos. Os desabamentos em �rea de risco n�o vitimam ningu�m h� oito anos. A �ltima vez foi em 16 de janeiro de 2003, quando nove crian�as de uma mesma fam�lia morreram sufocadas pela lama, que invadiu o barraco onde elas dormiam, no Morro das Pedras, na regi�o Oeste.

Passa da meia-noite. Nos caminhos estreitos da Vila Novo Aar�o Reis, Nanci encontrou moradores inquietos. Um homem fumando da janela do segundo andar de seu sobrado sem reboco observou o c�u carregado e o ribeir�o ao fundo. Na esquina, de guarda-chuvas, outro vizinho percorreu de um lado ao outro o passeio. Como muitos, n�o conseguiram dormir nessas noites de chuva forte em que o On�a poderia avan�ar sobre suas moradias e amea�ar suas fam�lias. “Viu meu filho a�? Ele t� com os amigos? Com a namorada?”, perguntou a mulher, sem obter resposta dos moradores. Ela mostrou que, quando a chuva engrossou, mais gente apareceu nas ruas. Janelas escuras come�aram a ser acesas. Nelas, as silhuetas preocupadas e insones dos moradores perambularam de um lado para o outro.

Reencontro

Sob chuva, a diarista Nanci Freitas saiu em via crucis noite afora em busca do filho (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
Sob chuva, a diarista Nanci Freitas saiu em via crucis noite afora em busca do filho (foto: T�LIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
O estrondo do ribeir�o ficou mais forte. No beco, a ilumina��o fraca permitiu v�-lo ao longe, com suas �guas barrentas. Da janela do �ltimo barrac�o, � beira do On�a, veio o al�vio: l� est� Robert, o filho da diarista. Ela correu. Os p�s afundaram em mais de tr�s dedos de lama, sacolas de lixo, trapos de roupas, embalagens de alimentos trazidos pela correnteza. O garoto desceu, levou um pux�o de orelha e voltou arrastado para casa. “Gra�as a Deus, ele est� bem. Agora vamos de volta para casa, rezar para que a �gua n�o entre l�”, desabafou.

Na casa onde estava, mais hist�rias de medo e apreens�o. No barrac�o alto, com uma mancha de barro do ribeir�o atingindo um metro e meio da parede, vive a aposentada Maria Salete Braz dos Santos, de 35 anos, suas tr�s filhas de 16, 14 e 12. Al�m delas, um sobrinho de 5 anos e uma de 11 anos foram trazidos �s pressas. “A �gua do On�a subiu r�pido e por isso busquei os meninos na casa da minha irm�, onde estavam sozinhos”, conta. A fam�lia passou o dia esperando baixar a �gua f�tida que os cercou. � noite, fizeram vig�lia para n�o serem surpreendidos. “A gente n�o dorme. Parece que um caminh�o de areia � despejado nas telhas quando chove forte e o ribeir�o sobe r�pido. Vou l� fora. Vejo minhas meninas uma por uma”, conta.

Os sobrinhos pequenos brincam com os primos como se estivessem alheios. Mas � s� perguntar sobre as enchentes que admitem o medo, principalmente quando est�o sozinhos. “A gente tenta tapear o tempo. Passar o m�ximo acordada. Se a �gua subir, a gente liga para os bombeiros, mas j� aconteceu de gente ter de pular as janelas de casa em casa para escapar. Perdi fog�o, geladeira, m�quina de lavar, mantimento, muita coisa. S� a vida � que n�o tem jeito”, admite.

Em locais onde os moradores j� deixaram as beiras dos ribeir�es, o que domina a regi�o s�o os traficantes de drogas e marginais. No Bonsucesso (Regi�o Oeste), as margens do c�rrego de mesmo nome foram abandonadas. A madrugada de tens�o pelas enchentes deu lugar ao tr�fego de homens armados em garupas de motocicletas. Na Vila S�o Tom�s, na Pampulha, as ru�nas das casas � beira do C�rrego do On�a se transformaram em currais para cavalos, chiqueiro de porcos e criat�rios de animais dom�sticos. A chuva que faz o ribeir�o subir amea�a apenas esses animais presos em seus redis. Pelo terreno desolado tamb�m perambulam homens que vendem drogas e que transitam armados.

 

 


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