(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Anfetaminas e estimulantes alco�licos s�o vendidos livremente �s margens de rodovias

Em paradas nas rodovias mineiras, caminhoneiros admitem cansa�o mesmo sob efeito de subst�ncias


postado em 29/01/2012 06:59 / atualizado em 29/01/2012 07:17

Os rebites usados como estimulantes pelos caminhoneiros são comercializados abertamente em farmácias(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press/Reproducao)
Os rebites usados como estimulantes pelos caminhoneiros s�o comercializados abertamente em farm�cias (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press/Reproducao)

 

Medina – O assunto dos caminhoneiros no banheiro masculino eram as “raparigas” (prostitutas) que se ofereciam no p�tio do posto de abastecimento da BR-116, em Medina, no Vale do Jequitinhonha. Esbaforido, um jovem loiro de camiseta preta chega reclamando com dois conhecidos. “Miseric�rdia, n�o aguento mais!”, grita. “Tenho de chegar a Jequi� (BA) hoje. Minas pernas est�o queimando no motor. T� morrendo de sono e o rebite n�o est� segurando”, reclama, sem pudor de falar sobre drogas. Munido de rebites comprados de um prostituta, o rapaz sai do banheiro e se dirige para sua carreta bitrem. N�o sem antes criticar uma reportagem na TV que mostrou a a��o da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) multando quem sinalizava na estrada com os far�is avisando sobre as blitzes.

Nas paradas de apoio e postos de abastecimento das rodovias estaduais e federais mineiras, caminhoneiros conseguem com facilidade estimulantes que os permitam dirigir por mais tempo. Os rebites, drogas � base de anfetaminas, s�o o recurso mais comum de quem precisa conduzir carretas com mais de 70 toneladas por mais de 24 horas. “A droga � um estimulante do c�rebro que aumenta os batimentos card�acos e a circula��o do sangue. Mas quando o efeito passa, a pessoa desacelera de uma vez e sente todo cansa�o do esfor�o acima de sua capacidade”, alerta o psiquiatra Valdir Campos, coordenador do Ambulat�rio de Depend�ncia Qu�mica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Quem usa muito e se torna viciado n�o melhora nem se tomar mais doses, podendo dormir ao volante”, acrescenta.

O caminhoneiro S.S.P, que fazia a rota Feira de Santana (BA) – Pirapora (MG), admite que teve os reflexos alterados numa das vezes em que dirigiu sob efeito de rebite. “Fiquei alucinado com os rebites. Viajei por 24 horas e nem lembro por onde passei”, disse. De acordo com a Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF), foram apreendidos no ano passado em Minas Gerais 1.300kg de drogas (maconha, crack e coca�na) e 3.139 comprimidos de anfetaminas e outros medicamentos considerados "rebites". Comprar a droga n�o � dif�cil. Nas BRs 116, 135, 251 e 381 a venda dos produtos ocorre abertamente, por vezes promovida por frentistas. Um dos focos mais evidentes desse com�rcio aberto � a pequena Frei Inoc�ncio, no Vale do Rio Doce. Cortada ao meio pela BR-116, a cidade de 9.246 habitantes tem seus principais estabelecimentos voltados para a estrada.

“Melhor que pinga”

A reportagem do Estado de Minas foi ao munic�pio e constatou como � f�cil adquirir subst�ncias proibidas. No primeiro posto de gasolina, mais afastado, os frentistas disseram que n�o tinham mais o produto e recomendaram procurar nas farm�cias da cidade pelo nome de “manipulado”. A gar�onete do posto, no entanto, oferece um “outro rebite”. Sem sair do balc�o, alcan�a uma caixa repleta de tubos de um composto alco�lico chamado Ligad�o. O pequeno tubinho de 10 mililitros com um l�quido marrom custa R$ 2,50 e � encontrado aos montes nas lixeiras, sobre balc�es e mesas dessas paradas de carreteiros. O teor alco�lico � de 13%, semelhante ao de alguns vinhos.

“� o novo rebite. Os caminhoneiros tomam para viajar quando n�o t�m as p�lulas. � melhor do que pinga com guaran�, porque d� para jogar fora pela janela e beber muitos na viagem”, recomenda a gar�onete. A venda e o consumo de bebidas alco�licas em estabelecimentos �s margens e na �rea de dom�nio de rodovias s�o proibidos, mas a pol�cia praticamente n�o interfere nessa atividade.

 

Confira v�deo com o flagrante da venda


Abusos podem levar � morte


A sonol�ncia � apenas um dos efeitos dos rebites e outros tipos de subst�ncias sobre caminhoneiros que recorrem � qu�mica para viajar por mais tempo. O uso frequente desses produtos causa depend�ncia e pode levar � morte. “Meu patr�o, que era caminhoneiro antes de comprar a frota, chegou a ter quatro enfartes quando completou 40 anos. Tudo por causa dos rebites e do �lcool que tomava para aguentar o tranco das viagens”, revela Sim�o (nome fict�cio), de 40 anos, outro caminhoneiro acompanhado pela reportagem do Estado de Minas pelas BRs 381 e 116. “Em vez de ficar alerta, o caminhoneiro viciado ter� sintomas prejudiciais, como cansa�o excessivo, hipertens�o, altera��o da temperatura corporal, convuls�o e problemas card�acos, como infarto agudo do mioc�rdio”, enumera o psiquiatra Valdir Campos, do Ambulat�rio de Depend�ncia Qu�mica da UFMG.

O abuso, garantem especialistas, leva tamb�m a atitudes descontroladas que podem resultar em acidentes mesmo quando o motorista n�o cai no sono. As pupilas dilatadas permitem que mais luz entre nos olhos. Quem roda � noite pode ter a vis�o ofuscada pelo brilho dos far�is de outros ve�culos, perdendo o tra�ado de uma curva, invadindo a contram�o ou saindo da pista. “H� pacientes que tomam 40 comprimidos de uma vez. Dependendo da dose, do tempo de uso e da situa��o, o caminhoneiro pode desenvolver sintomas que lembram a esquizofrenia paranoide, uma doen�a psiqui�trica em que o paciente se sente perseguido. Acha que est�o atr�s dele”, conta Valdir Campos. “Por causa dessas sensa��es o sujeito toma decis�es e atitudes intempestivas e arriscadas. Pior � que isso ocorre exatamente no momento em que est� dirigindo uma carreta”.

De acordo com a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), o Brasil � o terceiro maior consumidor de anfetaminas do mundo, com m�dia de dez doses di�rias por mil habitantes, atr�s apenas da Argentina e dos Estados Unidos, com 17 doses di�rias. Al�m de caminhoneiros, alunos que precisam estudar por mais tempo, candidatos a concursos e at� adolescentes que querem ficar mais magros usam anfetaminas.

Numa farm�cia em Frei Inoc�ncio foi poss�vel comprar o produto chamado de “manipulado”. O balconista n�o faz qualquer cerim�nia. “Temos do verdinho. Custa R$ 30 o frasco com 20 p�lulas”, diz. O rapaz vai at� os fundos da farm�cia e busca o pote de pl�stico embalado num papel cinza. N�o h� qualquer refer�ncia �s subst�ncias contidas nas p�lulas verde e brancas, suas indica��es, contraindica��es, data de fabrica��o e responsabilidade do fabricante, como manda a legisla��o que rege a manipula��o de rem�dios em farm�cias. “� um produto irregular e ainda mais perigoso. N�o � como os rebites populares, geralmente inibidores de apetites ou anfetaminas para tratamentos de outras doen�as que s�o desviados”, destaca o psiquiatra Valdir Campos.

Combate dif�cil

A Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) admite ser dif�cil o combate ao com�rcio de drogas estimulantes usadas pelos caminhoneiros. Principalmente porque “na maioria das vezes a venda � feita no varejo”, informou a PRF por meio de nota. De acordo com a corpora��o, fiscaliza��es ostensivas s�o feitas em todos os tipos de ve�culos, “inclusive com vistoria interna. V�rias opera��es e apreens�es foram realizadas em 2011, em borracharias ou postos de gasolina”.

Para evitar a distribui��o das drogas, a estrat�gia dos policiais � promover projetos como o Comando de Sa�de nas Rodovias, que desde 2006 abordou 56 mil motoristas em Minas. “O objetivo � alertar os condutores sobre os cuidados com a sa�de”, informou a PRF.

Para o capit�o PM Jos� Proc�pio Corr�a J�nior, o grande volume de ve�culos pesados, somado � falta de seguran�a que os caminhoneiros t�m para fazer paradas peri�dicas, contribuem para os �ndices altos de viol�ncia. De acordo com o militar, para combater abusos nas estradas e o uso de drogas como os rebites, � preciso mais den�ncias.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)