
Sentadas em c�rculo desde as primeiras horas do dia e cobertas por roupas sum�rias e desbotadas, as adolescentes de 14 e 16 anos se embriagam com um coquetel de cacha�a, refrigerante e anfetaminas, no entrocamento das BRs 116 e 381, ao lado de prostitutas. Aguardam viajantes, principalmente caminhoneiros, que paguem R$ 10 por uma r�pida rela��o sexual, ali mesmo, �s margens das rodovias, em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. “J� nasci largada nessa vida, fa�o programas, bebo com as meninas, nem durmo mais. Quando vejo, estou no acostamento, na boleia ou deitada aqui na grama”, conta a mais nova, que fuma compulsivamente e diz ter come�ado a se prostituir aos 11 anos.
O drama das meninas � o retrato do estigma que Minas Gerais carrega por concentrar o maior n�mero de pontos de explora��o infantil do pa�s. Ontem, a Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) divulgou o Mapeamento dos Pontos Vulner�veis � Explora��o Sexual de Crian�as e Adolescentes nas estradas federais, que indica 252 �reas em rodovias do estado. O n�mero � quase o dobro (89,47%) do registrado na pesquisa de dois anos atr�s, quando havia 133 pontos. O estudo qualifica o tipo de risco e mais da metade deles est� nas categorias de risco alto e m�dio.
No Dia Nacional de Luta contra o Abuso e a Explora��o Sexual Infantil, o mapeamento mostra que o estado lidera o ranking dessa estat�stica. Em todo o pa�s, de acordo com monitoramento de agentes da PRF, s�o 1.776 pontos de vulnerabilidade (14,18% em Minas).
Integrante do Programa de Aten��o Integral e de Refer�ncia ao Enfrentamento da Explora��o Sexual contra Crian�as e Adolescentes da Pr�-Reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o professor da Faculdade de Educa��o Walter Ude diz que h� uma rede bem organizada para a explora��o de fam�lias pobres e crian�as em situa��o de mis�ria, que muitas vezes tamb�m usam este dinheiro para manter o v�cio.
"O resultado do mapeamento � preocupante, mas tem um aspecto positivo, porque mostra tamb�m o aumento da conscientiza��o de que esta � uma briga da sociedade, que percebe esta situa��o como crime e viol�ncia. As estradas t�m sempre grande potencial para explora��o sexual de menores por causa do tr�nsito interestadual e da rota de tr�fico, comum a esses lugares. Essa � uma das piores formas do trabalho infantil", diz o professor.
Combust�veis e alimenta��o
O estudo foi elaborado a partir do preenchimento de uma ficha on-line pelos patrulheiros federais. O relat�rio indica que os pontos de vulnerabilidade s�o principalmente postos de combust�veis e locais de alimenta��o. Entre as perguntas da pesquisa, os agentes informaram se havia ilumina��o, prostitui��o de adultos e consumo de bebidas alco�licas nos locais de explora��o sexual infantil. De acordo com o resultado, a atua��o dos conselhos tutelares � pequena e, em 97,4% dos ambientes considerados cr�ticos, tamb�m h� prostitui��o de adultos. H� consumo de bebidas alco�licas em 93,5% dos locais.

Para a subsecret�ria de Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, Carmem Rocha, o aumento do n�mero de pontos n�o est� diretamente ligado ao aumento da viol�ncia. Segundo ela, a explora��o e os crimes sexuais, de maneira geral, t�m mais visibilidade. "Al�m da malha rodovi�ria enorme no estado, h� o aspecto da subnotifica��o. O problema pode ser maior do que parece", admite ela. "O violador est� na fam�lia, convive com as crian�as, porque normalmente � um tio, um pai, padrasto, irm�o, muitas vezes com o conhecimento da m�e. � uma quest�o hist�rica e cultural, uma viol�ncia quase end�mica, porque, na maioria dos casos, o violador de hoje j� foi violado ontem."
A subsecret�ria lembra que o incentivo � den�ncia (0311119 – liga��o an�nima e gratuita) � muito importante e funciona como uma "luz no fim do t�nel”. “N�o fazemos mais campanhas, � um processo de mobiliza��o cont�nuo, principalmente com caminhoneiros, que s�o nossos parceiros", diz. Nos �ltimos tr�s anos, o Disque Direitos Humanos da Secretaria de Desenvolvimento Social recebeu 8.903 den�ncias de crimes contra crian�as e adolescentes, m�dia de oito por dia. Os crimes sexuais somam 1.970 liga��es. Em 2011, o servi�o registrou 2.038 den�ncias. Os crimes de abuso, explora��o e viol�ncia sexual correspondem a 17% desse total, com 338 den�ncias. Entre janeiro e abril deste ano, foram 735 liga��es, 90 sobre crimes sexuais.