
A BR-116 (Rodovia Rio-Bahia), uma das principais estradas brasileiras, � a que tem mais locais de explora��o sexual infantil na Regi�o Sudeste, segundo o Mapeamento dos Pontos Vulner�veis � Explora��o Sexual de Crian�as e Adolescentes nas estradas federais. Dos 166 pontos, 86 est�o no trecho que corta S�o Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, o entroncamento das BRs 116 e 381 � um desses pontos vulner�veis. � caminho de cargas pesadas e diversas, ponto de parada conhecido por caminhoneiros solit�rios que n�o se inibem com a presen�a das pol�cias Militar e Rodovi�ria Federal. Continuam a parar nesses locais, na calada da noite ou em plena luz do dia, e a embarcar adolescentes que desde cedo aprenderam a ganhar a vida com o pr�prio corpo e se degradam perdendo a inf�ncia e a juventude.
O Estado de Minas passou a madrugada dessa sexta no local onde duas menores faziam programas em uma �rea que mais parece um ninho de trapos e pertences sujos que elas carregam num dos canteiros centrais do entroncamento movimentado. No ch�o, dividem os cigarros de v�rias marcas que coletam dos caminhoneiros, garrafinhas de refrigerante com cacha�a e cartelas de comprimidos de rem�dios com anfetaminas, os chamados "rebites", usados pelos viajantes para dirigir mais horas seguidas. De acordo com o estudo da Pol�cia Rodovi�ria Federal, a explora��o ocorre em locais onde h� presen�a de caminhoneiros em 91,9% dos pontos cr�ticos de todo o pa�s.
A pele das meninas exibe marcas da vida dif�cil na boleia de caminh�es e dentro de carros. Pernas e bra�os t�m erup��es, cicatrizes fundas de cortes, hematomas e feridas mal curadas. “Tem muito homem ruim que maltrata a gente, faz programa e n�o quer pagar, rouba nosso dinheiro, bate, machuca a gente e ainda nos larga no meio do mato”, conta a adolescente mais nova.
Segundo o professor da Faculdade de Educa��o da UFMG e integrante do Programa de Aten��o Integral e de Refer�ncia ao Enfrentamento da Explora��o Sexual contra Crian�as e Adolescentes, muitos caminhoneiros escolhem meninas mais novas com medo da prolifera��o da aids. “Eles pensam que, por serem menores, as meninas oferecem menos risco para transmitir doen�as”.
A conversa das menores com a reportagem, contudo, n�o se alonga muito e prostitutas adultas, assustadas, com medo da chegada da pol�cia, fazem amea�as. A garota de 16 anos, ent�o, tira da parte de tr�s do short da colega de 14 anos um estilete e tenta intimidar a equipe de reportagem, para que as deixem “trabalhar” em paz. A atitude faz sentido: nos �ltimos dois dias a reportagem percorreu pontos conhecidos de prostitui��o e explora��o infantil na regi�o e testemunhou a migra��o das meninas, justamente por conta da repress�o policial e conscientiza��o da sociedade.
Dados do relat�rio da PRF afirmam que nestes dois anos de pesquisa 3.251 crian�as e adolescentes em situa��o de risco foram retirados das estradas pelos agentes durante patrulhamento em 65 mil quil�metros de rodovias do pa�s.
Nos postos de abastecimento, frentistas e gerentes contam que impedem a concentra��o das menores que costumam abordar caminhoneiros. Na entrada de Periquito, pr�ximo dali, a legi�o de meninas foi afugentada pelas garotas de programa adultas, que tiveram preju�zo por causa das a��es policiais e esvaziamento da clientela. “Aqui a gente p�e para correr qualquer menor. S� faz ponto com a gente se for maior. Sen�o, a pol�cia fica em cima e d� at� cadeia. Ficam dizendo que a gente � que as trouxe”, disse Julieta, de 24 anos, que afirma ser a mulher que organiza a atividade naquele local.