Laudo judicial aponta falhas estruturais no pr�dio que desabou no Buritis

Principal pe�a do processo de indeniza��o pelo desabamento do Edif�cio Vale dos Buritis, no Bairro Buritis, na Regi�o Oeste de Belo Horizonte, em janeiro, o laudo pericial judicial indica que o pr�dio foi constru�do j� com problemas estruturais. O trabalho foi uma exig�ncia do juiz da 16ª Vara C�vel de Belo Horizonte, Alexandre Quintino Santiago, e foi feito por uma empresa especializada em avalia��es e per�cias. O documento de 178 p�ginas ressalta que o pr�dio n�o poderia ter sido constru�do na Rua Laura Soares Carneiro e mostra falha no projeto ou na execu��o da obra. O perito que elaborou o documento n�o p�de precisar o que teria sido feito de errado pela construtora Estrutura Engenharia, porque o projeto da funda��o do edif�cio desapareceu. O sumi�o do documento consta no processo.

O laudo foi anexado aos autos na semana passada e ter�a-feira o juiz permitiu o acesso da advogada dos moradores, Karen Myrna Castro Mendes Teixeira. Ela avalia que o documento � favor�vel aos propriet�rios dos im�veis, mas encaminhou o material a um engenheiro que acompanha o processo, para obter um parecer t�cnico. O Estado de Minas teve acesso �s informa��es do laudo com exclusividade e constatou que o texto esclarece que o edif�cio n�o deveria ter sido erguido da maneira como foi no terreno, que tem 33% de inclina��o. O perito indicado pelo juiz ressalta a m� qualidade do solo e o processo deficiente de drenagem, mas lembra que o recorte do terreno na Avenida Prot�sio de Oliveira Penna, atr�s do Vale dos Buritis, tamb�m contribuiu para o desabamento do pr�dio j� fragilizado. O laudo mostra ainda que a obra de reparo, iniciada em 2010, deu sustenta��o ao edif�cio, mesmo inacabada.

“O laudo atesta que o pr�dio tinha problemas na estrutura. O perito fez uma linha do tempo e mostrou que os reparos de 2010, para a coloca��o de 10 tubul�es, apenas prolongaram a sustenta��o do pr�dio. Havia recalque, uma parte estava afundada e outra n�o, o que causou as rachaduras. A construtora abandonou as obras, por causa dessas trincas, e quando h� uma brecha a �gua penetra mesmo. A chuva s� corroborou”, afirma a advogada dos moradores. “O fato de n�o ter bocas de lobo e um bom sistema de drenagem na rua deveria ter sido avaliado”, lembra.

Karen lembra que por v�rias vezes o perito citou no laudo a falta do projeto original da constru��o, para que fosse poss�vel fazer avalia��es mais espec�ficas. “Ele n�o p�de afirmar se houve alguma falha no projeto de constru��o ou se o projeto estava correto, mas alguma etapa foi pulada ou alterada na obra, durante a constru��o. Como a construtora n�o apresentou esse projeto original, o perito n�o conseguiu identificar qual a falha do pr�dio”, explicou.

O processo dura tr�s anos e o perito indicado pela Justi�a j� avaliava a regi�o antes mesmo de o pr�dio desabar. Os moradores tentavam na Justi�a a retomada da obra e agora querem indeniza��o por danos morais e materiais, al�m do valor pago por cada im�vel. No laudo, o perito mostra fotos e medi��es da �rea de risco e aponta como causas do desabamento o corte do terreno nos fundos e a chuva intensa.

“� um al�vio saber que o laudo ratifica o problema, mas, conhecendo a construtora como a gente conhece, n�o acredito que vai desistir. Pelo hist�rico, vai ganhar tempo e recorrer. J� s�o 12 anos de briga e, no come�o, a gente nem pensava que o pr�dio poderia cair”, avalia a supervisora de call center e propriet�ria do apartamento 101, Rita Piumbini. “O laudo atesta a vers�o dos moradores. O que aconteceu em 2011 foi consequ�ncia da m� constru��o do pr�dio, com problema na estrutura”, afirmou Eduardo Bianchini, outro ex-morador.

Honor�rios O advogado da Estrutura Engenharia, Eduardo Coluccini Cordeiro, tamb�m conseguiu c�pias de partes do laudo, embora ainda tenha prazo de 10 dias para analisar o material. Ele diz que alguns quesitos suplementares n�o foram respondidos e que a empresa se disp�e a pagar os honor�rios judiciais, caso seja preciso completar o laudo. “O documento cita o corte do maci�o atr�s do pr�dio, a chuva intensa e a falta de estrutura da rua para drenagem, mas n�o aponta conclus�o definitiva, mesmo dizendo que a construtora deveria ter tido mais cuidado”, informou.

Por que o edif�cio caiu?
Causas prov�veis do desmoronamento do Edif�cio Vale dos Buritis
Falha estrutural do pr�dio, que n�o p�de ser identificada pela aus�ncia do projeto original de funda��o
Terreno com 33% de inclina��o
Recorte do terreno na Avenida Prot�sio de Oliveira Penna, atr�s do Vale dos Buritis
Falta de drenagem na Rua Laura Soares Carneiro
Chuva intensa


MEM�RIA: Apartamentos desocupados �s pressas

Em outubro de 2011, o Edif�cio Vale dos Buritis, de tr�s andares, foi interditado pela Defesa Civil, porque apresentava trincas na estrutura e no muro do 1º andar. As fam�lias tiveram de sair e dois pr�dios vizinhos tamb�m foram interditados. � �poca, a Estrutura Engenharia dizia que edif�cio nunca havia tido problemas estruturais e que reformas foram feitas quando surgiram as primeiras rachaduras. A construtora instalou escoras na garagem e os moradores puderam entrar para retirar bens. A Justi�a determinou que a Estrutura Engenharia pagasse alugu�is de R$ 1,5 mil a cada propriet�rio. Em dezembro, a chuva agravou o problema e peda�os da fachada come�aram a se soltar. Bombeiros e Defesa Civil recomendaram a demoli��o imediata e a Justi�a autorizou em 9 de janeiro, mas no dia seguinte o pr�dio desabou. No dia 13 do mesmo m�s, a prefeitura iniciou a demoli��o do pr�dio vizinho, o Art de Vivre. Em abril, a Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) divulgou laudo indicando falha na funda��o do Art de Vivre, constru�do pela Podium Engenharia. Conforme o relat�rio, o corte do talude que fica atr�s dos pr�dios, causou o desmoronamento do primeiro pr�dio.