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Estado de Minas

Sujeira dos rios � maior que a verba para despolui��o

Velhas, o curso d'�gua que recebeu maior investimento em despolui��o em todo o estado, ainda � o que tem o leito mais contaminado, resultado do esgoto de 2,3 milh�es de pessoas


postado em 09/07/2012 06:41 / atualizado em 09/07/2012 07:01

Santo Hip�lito, Sabar�, Santa Luzia e Nova Lima – Seja qual for o barco, o assunto no Velhas � um s�: na tarde de quarta-feira, o rio n�o estava para peixe. Estamos em Santo Hip�lito, na Regi�o Central de Minas, destino cobi�ado dos pescadores. A paisagem � deslumbrante, mas o cheiro, n�o t�o agrad�vel. Comentava-se que tr�s dias antes havia chovido em Belo Horizonte, a 232 quil�metros. “O que acontece l�, sentimos aqui. A �gua fica escura e os peixes somem”, diz, na embarca��o, Erick Wagner Sangiorgi, de 40 anos. S�o as marcas da degrada��o ao longo dos 801 quil�metros de um dos principais afluentes do S�o Francisco, que carrega, al�m do esgoto de 2,3 milh�es de pessoas, equivalente � popula��o de Belo Horizonte, desafios colossais. Apesar de a bacia do Velhas ter recebido R$ 1,2 bilh�o em investimentos para revitaliza��o desde 2007 – o maior do estado –, concentra as �guas mais podres de Minas, ainda distante do sonho (e meta) de nadar na regi�o metropolitana.

Os impactos sentidos pelos pescadores de Santo Hip�lito, um dos pontos mais saud�veis da bacia, s�o reflexo do que ocorre desde a nascente. Numa expedi��o pelo Velhas, a equipe do Estado de Minas viu de tudo: lix�es na beira do rio, areais clandestinos e ocupa��o irregular povoam a bacia hidrogr�fica e s�o pedras no caminho do curso d’�gua que nasce em Ouro Preto, na Regi�o Central, e des�gua no Rio S�o Francisco, em V�rzea da Palma, no Norte de Minas. A bacia do Velhas, que carrega a maior parte do esgoto da Grande BH, tem hoje o pior �ndice de qualidade das �guas do estado, par�metro que mede a presen�a de mat�ria org�nica e coliformes fecais. � tamb�m a campe� em contamina��o por subst�ncias t�xicas, de acordo com o Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam). E se, por um lado, comemora a volta do peixe a munic�pios da Grande BH, tamb�m assiste ao aumento da press�o sobre cursos d’�gua capazes de lhe injetar vida, caso do Rio Cip�.

Mas tantos investimentos n�o foram em v�o: o �ltimo relat�rio da Ag�ncia Nacional de �guas (ANA) destacou o Velhas pela “tend�ncia de melhora”. Mas aberra��es insistem em sufocar a Meta 2014, que prev� investimentos de R$ 500 milh�es do governo de Minas nos pr�ximos tr�s anos a fim de nadar, navegar e pescar no curso d’�gua, na Regi�o Metropolitana de BH, no trecho pr�ximo a Lagoa Santa, onde hoje o lixo se acumula nas margens da �gua turva. “O grande desafio continua sendo o esgoto”, afirma o presidente do Comit� de Bacia Hidrogr�fica do Rio das Velhas, Rog�rio Sep�lveda. O Velhas e seus tribut�rios atravessam 51 munic�pios mineiros, com popula��o de 4,6 milh�es de habitantes, sendo que metade joga os dejetos in natura na �gua, segundo a Funda��o Estadual do Meio Ambiente (Feam).

Munic�pios como Nova Lima, Sete Lagoas e Sabar� insistem em lan�ar toda essa carga pesada sobre a bacia, embora prometam mudan�a. Para complicar, a pr�pria Feam apontou que um quarto das esta��es de tratamento de esgoto (ETEs) da bacia do Velhas funcionam em condi��es prec�rias. Na foz do Ribeir�o Arrudas, que corta BH e Sabar�, na regi�o metropolitana, � onde se tem, de fato, a dimens�o do estrago. Em ambiente tomado pelo cheiro de podrid�o, a vis�o � de um canal cinza carregado de fezes indo ao encontro do amarronzado Velhas. As �guas pretas e espumosas do Ribeir�o do On�a, que recebe os dejetos de Contagem e das regi�es Norte e Pampulha de BH, n�o ficam longe e o esgoto desponta num cen�rio de cascatas e corredeiras. No meio do esgoto, Oswaldo Teixeira, de 42 anos, ganha a vida extraindo areia do On�a. “� s� beber uma cacha�a que mata tudo”, acredita, referindo-se � possibilidade de contamina��o.

Atualmente, segundo a Copasa, BH coleta 96% e trata 75% do esgoto. J� Contagem, outro munic�pio de peso, coleta 89% e trata 78% dos dejetos. “� importante que o tratamento seja complementado pela desinfec��o e remova tamb�m os organismos patog�nicos”, afirma Marcos von Sperling, professor titular do Departamento de Engenharia Sanit�ria e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “� preciso levar o esgoto at� a ETE. Rio n�o � lixeira. Temos que respeitar o direito � vida do ecossistema”, afirma o fundador do Projeto Manuelz�o da UFMG, que prop�s a Meta 2010 e luta pela revitaliza��o da bacia, Apolo Heringer Lisboa.

E, se h� respeito, o curso d’�gua responde. Pelo menos � o que relata o amigo do rio, como gosta de ser chamado Valter Val�rio, de 66, dono de um trailer de sandu�che no encontro dos rios Caet�-Sabar� e Velhas, em Sabar�. “Se o poder p�blico fizer mais, os peixes v�o pular direto para a panela”, diz. Bi�logo do Projeto Manuelz�o, Carlos Bernardo Mascarenhas afirma que, depois do in�cio do tratamento do esgoto de BH, esp�cies como dourado e matrinx� j� est�o conseguindo subir o rio at� pr�ximo a Nova Lima. “Mas, se para os peixes os resultados animam, para os bentons (invertebrados que vivem no fundo do rio) nem tanto. �reas preservadas t�m uma riqueza de esp�cies que nem se compara com as demais regi�es”, diz.

 


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