Interven��es do poder p�blico trouxeram cardumes de volta aos rios

Santo Hip�lito, Gouveia e Presidente Juscelino – S�o mais de 30 anos debaixo da ponte sobre o Rio das Velhas. Nesse tempo, o m�dico Ot�vio Franco Xavier, de 63 anos – que em 2004 largou a urologia em Belo Horizonte para se dedicar ao posto de sa�de e � pescaria em Santo Hip�lito, na Regi�o Central de Minas –, j� viu de tudo. Recentemente, h� n�o mais que quatro anos, testemunhou o milagre dos peixes. O pir� e a corvina voltaram a aparecer e o dourado se multiplicou nas �guas do Velhas. “Houve �poca em que a gente s� pescava alga”, lembra, sem saudades. A volta dos peixes se deve a investimentos massivos na bacia hidrogr�fica, mas nem assim a garantia de �guas calmas chegou por l�. O Rio Cip�, que desemboca na regi�o e � aclamado por entregar vida ao Velhas, est� em sinal de alerta.

O �ltimo mapa da qualidade das �guas, do Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam), apontou a qualidade da �gua como “m�dia”. “Houve o aumento da turbidez da �gua, que est� relacionada � retirada de mata ciliar e � extra��o de pedras na regi�o”, afirma a coordenadora do projeto de monitoramento das �guas, Katiane Brito. Ela ressalta que h� apenas um ponto de medi��o na regi�o, o que pode influenciar o resultado. Embora n�o tenha percebido altera��es na apar�ncia das �guas da bacia do Para�na (que inclui o Cip�), o presidente da organiza��o n�o governamental Caminhos da Serra, que atua na regi�o, Alex Mendes Santos, de 52 anos, teme a press�o da minera��o sobre os cursos d’�gua. “Ela est� chegando com for�a. Soubemos que empresas j� est�o fazendo sondagens em �reas de nascentes, em Concei��o do Mato Dentro, e isso � p�ssimo”, alerta o ambientalista.

� preciso acelerar o passo para alcan�ar a dona de casa Nair Rodrigues, de 72 anos, no percurso di�rio que ela cumpre de casa at� o leito do Para�na, na comunidade do Cafund�, em Gouveia, na Regi�o Central. “Faz gosto tomar a �gua deste rio. Ele � a nossa riqueza, todo mundo que chega fica impressionado. Aqui a gente busca �gua, pesca”, conta a senhora humilde e hospitaleira, que at� evita pensar na possibilidade de perder o Para�na, experi�ncia vivenciada “uma vez para nunca mais”. “Era uma tristeza quando o pessoal da hidrel�trica de Para�na, aqui em cima, abria as comportas e o rio ficava todo sujo”, conta. Como o problema j� foi resolvido, dona Nair prefere nem pensar em outras poss�veis amea�as ao curso d’�gua, motivo de alegria para os ribeirinhos.

Preserva��o
“� Para�naaa!” � com respeito e admira��o que o ambientalista e psicultor Erick Wagner Sangiorgi, de 40 anos, cumprimenta o afluente do Velhas em seu encontro com o calha principal, em Santo Hip�lito. H� 30 anos dentro do rio, Erick sabe da import�ncia dos rios Cip� e Para�na para a qualidade das �guas, assim como investimentos no Velhas contribu�ram para sua melhora. “Nunca vou esquecer o ano de 1996, quando estava tudo bom para peixe – a lua, o clima – e ningu�m pescou nada. Em 2007 tamb�m foi triste, apareceram cianobact�rias, a �gua ficou verde e o rio, interditado”, conta Erick, que atua tamb�m na captura ecol�gica de peixes e na preserva��o das esp�cies.

O melhor indicativo para a chegada de novos tempos foi o aumento da quantidade de peixes como o dourado, a matrinx� e o curimat�. “E, consequentemente, a gente est� vendo mais aves, at� a gar�a cor-de-rosa, que estava sumida”, conta. Mas a qualquer sinal de esgoto... “O rio fica preto e o cheiro, ruim”, alerta. Em meados de junho, os pescadores ficaram assustados com uma mortandade de peixes. “� porque des�guam porcaria l� para cima”, resume Ildemar Francisco C�sar, de 62 anos, vara de pesca a postos na ponte sobre o Velhas. Palavra de quem conhece: pescador experiente, Ildemar entende dos assuntos do curso d’�gua. “J� pesquei surubim de 50 quilos nesse rio. E olha que n�o � hist�ria.”