
Minas � o campe�o em destrui��o de mata atl�ntica, mas d� um salto decisivo para reduzir a perda desse tesouro da biodiversidade, do qual restam apenas 8% no territ�rio nacional. Numa iniciativa que alia a preserva��o do patrim�nio cultural � defesa do meio ambiente, ser� criado em Pouso Alto, na Regi�o Sul, a 409 quil�metros de Belo Horizonte, um centro de refer�ncia cient�fica e hist�rica sobre a mata atl�ntica, considerado o primeiro nessa modalidade no Brasil. O local escolhido � o Solar dos Bar�es, imponente constru��o do s�culo 19, que foi visitada por dom Pedro II e sua filha, a princesa Isabel, e encanta quem chega ao munic�pio integrante do Circuito das �guas e da Estrada Real. A expectativa � de que o im�vel esteja restaurado e pronto no ano que vem para se tornar um polo irradiador de informa��es, fomentar trabalhos ambientais e fortalecer o ecoturismo.
Pertencente � prefeitura local e tombado pelo munic�pio, o casar�o em estilo colonial tem �rea constru�da de 800 metros quadrados e se divide em tr�s pavimentos. “O estado de conserva��o n�o � ruim e ser�o necess�rias adequa��es no pr�dio. H� �rea suficiente para desenvolvimento de v�rias frentes de trabalho sobre o importante bioma, que est� presente na nossa regi�o, com destaque para a Serra do Papagaio”, diz o prefeito Vicente Wagner Pereira, adiantando que os primeiros projetos ser�o agora licitados. � frente do empreendimento est�o a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF), que firmaram conv�nio de R$ 2,4 milh�es com a Prefeitura de Pouso Alto, cidade com 6,5 mil habitantes.
Entusiasmado com a iniciativa, o titular da Semad, secret�rio Adriano Magalh�es, afirma que “ser� um centro de refer�ncia n�o s� para Minas, mas para o Brasil, com o apoio da Funda��o SOS Mata Atl�ntica”. Ele destaca ainda que se trata de uma das mais importantes a��es conduzidas no Sul de Minas para o desenvolvimento da regi�o. “Constitu�mos recentemente, com o apoio da Funda��o Matutu, o Cons�rcio de Ecodesenvolvimento Regional da Serra do Papagaio, para atuarmos com a comunidade do entorno da unidade desse parque estadual”, ressalta. A associa��o, formada, al�m de Pouso Alto, por Aiuruoca, Alagoa, Baependi e Itamonte, � o primeiro cons�rcio p�blico do pa�s voltado para o ecodesenvolvimento no entorno de uma unidade de conserva��o.
Destrui��o secular
Destru�da desde o in�cio da coloniza��o do Brasil pelos portugueses, a mata atl�ntica est� presente em 17 estados da federa��o e em 3,1 mil munic�pios. “Mais da metade da popula��o brasileira vive em �reas que j� foram cobertas de mata atl�ntica”, diz M�rio Mantovani, diretor da organiza��o n�o governamental SOS Mata Atl�ntica, criada h� 25 anos. Ele aplaude a iniciativa e lembra que a lei federal, regulamentada e ratificada em todas as esferas, conseguiu impedir o avan�o da devasta��o. “Esta iniciativa � importante para Minas, que tem nas suas regi�es Leste e Nordeste os maiores trechos de destrui��o, �reas que transformaram as �rvores em carv�o e pastagens.”

Uni�o fortalece munic�pios
O secret�rio de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel, Adriano Magalh�es, afirma que o ponto inicial para a formaliza��o do conv�nio com a Prefeitura de Pouso Alto surgiu a partir do cons�rcio dos munic�pios no entorno do Parque Estadual Serra do Papagaio. “Por estarem unidos nesta iniciativa, eles v�o poder conduzir a��es de ecodesenvolvimento com as comunidades, as quais seriam invi�veis se fossem trabalhadas de forma isolada”, destaca.
O secret�rio explicou ainda que o governo adota iniciativas com base na ideia de integra��o com as comunidades do entorno das �reas protegidas. “Estamos revisando os limites das unidades de conserva��o de Minas, retirando pastos e incluindo florestas, exatamente para diminuir os conflitos com as comunidades locais. Na revis�o dos limites do Parque Estadual da Serra do Papagaio, sua �rea aumentou 8%”, explica.
No ano passado, segundo o prefeito de Pouso Alto, Vicente Wagner Pereira, o governador Antonio Anastasia visitou a cidade e deu a ideia de integrar restaura��o do Solar dos Bar�es e preserva��o ecol�gica. “Nosso trabalho agora ser� fazer com que ele sirva de modelo para outros munic�pios mineiros”, observa, explicando que o casar�o foi restaurado duas vezes, durante as visitas de dom Pedro II, no s�culo 19, e do presidente Juscelino Kubitschek, na segunda metade do s�culo passado.
Saiba mais: tesouro da biodiversidade
A mata atl�ntica abrangia originalmente uma �rea equivalente a 1,3 milh�o de quil�metros quadrados e se estendia do Rio Grande do Sul ao Piau�. Segundo a Funda��o Mata Atl�ntica, restam hoje 7,91% de remanescentes florestais do ecossistema. Os especialistas dizem que se trata de um hotspot mundial – uma das �reas mais ricas em biodiversidade e mais amea�adas do planeta, reconhecida como Reserva da Biosfera pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, Ci�ncia e Cultura (Unesco) e Patrim�nio Nacional, na Constitui��o Federal de 1988. A composi��o original da mata atl�ntica � um mosaico de vegeta��es definidas como florestas ombr�filas densa, aberta e mista; florestas estacionais decidual e semidecidual; campos de altitude, mangues e restingas. Vivem na mata atl�ntica cerca de 112 milh�es de pessoas, ou mais de 61% da popula��o do pa�s. O Projeto de Lei da Mata Atl�ntica, que regulamenta o uso e a explora��o de seus remanescentes florestais e recursos naturais, tramitou por 14 anos no Congresso Nacional e foi finalmente sancionado em dezembro de 2006. Das 633 esp�cies de animais amea�adas de extin��o no Brasil, 383 ocorrem nesse bioma.