
Entre os casos cuja apura��o ser� reaberta est� o de uma menina abusada pelo marido de uma tia em 2005, quando a v�tima tinha apenas 12 anos. A menina tomou coragem e contou tudo ao pai, que procurou a pol�cia e fez a den�ncia. Em um trecho do inqu�rito, � poss�vel perceber a extens�o do drama vivido pela garota e por seus parentes. O pai declarou em depoimento que “a filha lhe contou que foi abusada sexualmente pelo suposto autor, o qual � seu cunhado. Ela tem vergonha de revelar os detalhes do acontecido para o pai e para a m�e”. O pai tamb�m disse que em uma reuni�o na escola onde a v�tima estudava os professores informaram que a adolescente permanecia solit�ria e chorando por causa da viol�ncia a que fora submetida.
Coordenadora da Opera��o Anti-Herodes, a delegada T�nia D’Arc, de 45 anos, que assumiu h� quatro meses o Departamento de Prote��o � Fam�lia da Pol�cia Civil, informou que a opera��o ter� tr�s frentes de trabalho. “N�o vai haver lugar para estes Herodes, que est�o matando por dentro nossas crian�as”, diz a policial, p�s-graduada em direito p�blico e em seguran�a e criminalidade pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A delegada revela que o nome da opera��o foi a sugest�o de uma escriv�, que lhe enviou uma mensagem pelo celular, de madrugada, dizendo que havia se lembrado do rei Herodes, o soberano da Judeia que mandou matar todas as crian�as de Bel�m na tentativa de matar Jesus Cristo. “Gostei do nome. Se eu conseguir salvar uma crian�a, � um Herodes a menos”, desabafa T�nia D’Arc.
Grande esfor�o
N�o vai ser f�cil o trabalho dos policiais, ju�zes e promotores envolvidos na opera��o. Na primeira etapa, ser�o colhidos os depoimentos de 3 mil pessoas, entre testemunhas, v�timas de pedofilia e acusados. J� foram expedidos 20 mandados de pris�o para casos em que a investiga��o est� mais adiantada e a culpa j� foi comprovada. Um mutir�o de 90 escriv�es, formado por aspirantes da Academia de Pol�cia, vai ajudar nas oitivas, na sede do Departamento de Prote��o � Fam�lia, no Edif�cio JK.
Agressores e v�timas n�o podem se encontrar, bem como as testemunhas do crime, que devem ser resguardadas. Hoje, come�am a ser colhidos os depoimentos das v�timas, que ter�o prioridade, sempre que poss�vel. Entre os casos mais dram�ticos, que chamaram a aten��o da policial, o de um beb� de tr�s meses, v�tima de abuso, e o de ma menina de 14 anos que atua como prostituta na Avenida Afonso Pena e j� est� na segunda gravidez. “Os criminosos sexuais precisam saber que o sil�ncio vai ser rompido e que eles est�o na nossa mira”, diz a delegada. Segundo ela, 90% dos casos de abuso sexual ocorrem dentro de casa, com o envolvimento de padrasto, pai, irm�os e tios.
Uma simples leitura pelos inqu�rios revela um grande n�mero de hist�rias tristes. Informa��es contidas em uma den�ncia an�nima, feita por telefone em maio passado, revelam que uma mulher conhecida como Maria explora crian�as de 12 a 15 anos na casa dela. Os clientes s�o traficantes e o pagamento dos servi�os � feito com drogas. Segundo T�nia D’Arc ainda falta muito a fazer para combater os abusos contra crian�as e adolescentes. “O Estado est� preocupado com a quest�o da pedofilia, mas ainda faltam recursos humanos e material, como funcion�rios, viaturas, computadores e impressoras”, afirma a delegada, que transformou seu gabinete em sala de depoimentos. No lugar, foram instalados seis mesas com computadores e lugar para os escriv�es e as pessoas que ser�o ouvidas.
Na segunda etapa do trabalho ser�o cumpridos mandados de busca e apreens�o em locais onde podem estar escondidos v�deos, fotos revistas com conte�do de pedofilia. Os endere�os j� foram identificados e pelo menos 50 mandados j� foram expedidos pela Justi�a.
A policial acredita que a Opera��o Anti-Herodes pode incentivar mais den�ncias contra ped�filos, aumentando o �xito do trabalho da pol�cia para reprimir esse tipo de crime. “Muitas vezes, as pessoas ficam com medo de revelar o que sabem, de se expor e p�r em risco suas fam�lias, achando que a den�ncia n�o vai levar a nada. A hora de denunciar � agora”, afirma a delegada. Segundo ela, as den�ncias podem ser feitas de forma an�nima pelos telefones 181 (Disque-den�ncia da Pol�cia Civil), Disque 100 (Disque-den�ncia nacional de abuso contra a crian�a e o adolescente) e 0800-031-1119 (Disque Direitos Humanos).