Do you speak English?”. Talvez um palavr�o soasse menos absurdo a quem ouve a pergunta. A cada palavra, susto e surpresa se configuram no rosto de cada ouvinte, na forma de um grande ponto de interroga��o. Encontrar pessoas que falem ingl�s no Brasil est� mesmo dif�cil. E o que os turistas estrangeiros j� sabiam agora est� dimensionado em n�meros. O Brasil ocupa a 46ª posi��o, com profici�ncia muito baixa, num ranking que mede o dom�nio da l�ngua em 54 pa�ses. O levantamento divulgado ontem por uma empresa de educa��o internacional especializada no ensino do idioma e em interc�mbio aponta ainda Minas Gerais no 9º lugar entre os estados brasileiros e Belo Horizonte como a segunda pior cidade, entre as cinco capitais avaliadas. Em BH, o despreparo dos atendentes em servi�os essenciais aos visitantes, pelo telefone ou pessoalmente, mostra que o desafio at� a Copa do Mundo est� apenas come�ando.
Pelo segundo ano consecutivo, a EF Education First fez um estudo mundial para determinar o n�vel de profici�ncia em ingl�s em diversos pa�ses. A empresa avaliou gram�tica, vocabul�rio, leitura e compreens�o de 1,7 milh�o de adultos para produzir o �ndice de Profici�ncia em Ingl�s (EPI, na sigla em ingl�s). Os testes on-line e nas escolas foram aplicados antes de os alunos come�arem o curso do idioma. No caso brasileiro, o pa�s foi rebaixado. Na primeira edi��o do levantamento, no ano passado, o Brasil ficou 13 posi��es � frente do �ltimo colocado. Este ano, ao ganhar profici�ncia muito baixa, est� a apenas oito lugares do pior da lista: a L�bia.
Para o diretor de marketing da EF no Brasil, Luciano Timm, o problema � sist�mico. “A alfabetiza��o deficit�ria ou o desconhecimento das regras de comunica��o fazem com que, se voc� n�o sabe falar portugu�s, n�o dar� aten��o ao ingl�s”, ressalta. Ele cita o exemplo da Argentina, pa�s da Am�rica Latina mais bem colocado, na 20ª posi��o, com profici�ncia moderada. “O que se viu � que, j� no ensino prim�rio e secund�rio, na d�cada de 1970, os pa�ses da regi�o educavam metade do que a Argentina educava em rela��o a crian�as at�12 anos. Incluir o ingl�s de forma pensada, discutida e aplicada � necessidade brasileira � parte da solu��o”, diz.
Timm destaca ainda que o argumento de falta de condi��es financeiras para arcar com um curso particular n�o vale mais, diante do desenvolvimento econ�mico do pa�s. “Hoje, as pessoas podem parcelar em at� 24 vezes. E a chance de os alunos estudarem via internet com professores nativos, com uma metodologia certificada, � outra realidade, bem como a oportunidade de fazer um interc�mbio por US$ 2 mil (cerca de R$ 4 mil)”, afirma.
A empresa, respons�vel por preparar os 25 mil volunt�rios na Olimp�ada de Pequim, e candidata ao mesmo servi�o no Brasil, acredita que, mesmo com a Copa batendo � porta, ainda d� tempo. Em 29 de novembro, um f�rum nacional vai discutir alternativas e tra�ar planos de educa��o .
Segundo Luciano Timm, o turismo � o segmento com melhor dom�nio do ingl�s. J� o varejo e o setor p�blico s�o os que mais precisam evoluir. “Exceto por alguns estabelecimentos de primeira linha, n�o h� flu�ncia m�nima necess�ria para ter o mesmo orgulho do Brasil no que se refere a outros idiomas. At� por causa da localiza��o do pa�s na Am�rica Latina, as pessoas t�m a percep��o de que s� o espanhol est� bom”, relata.
PRAZO CURTO
A assessora de qualifica��o profissional da Belotur, Neuma Horta, admite que n�o ser� poss�vel garantir o dom�nio do idioma at� o Mundial. “O Brasil n�o vai conseguir dar profici�ncia para o povo, temos plena ci�ncia disso. Queremos que as pessoas que lidam no turismo tenham a m�nima condi��o de entender o que o visitante est� precisando para tentar dar uma solu��o. Mesmo que o profissional diga que n�o fala ingl�s e procure quem fale”, diz. “O importante � que o turista se sinta acolhido. E possa dizer que isso � um problema em BH, mas, apesar disso, fomos bem atendidos. � nisso que precisamos focar”, acrescenta.
“As pessoas n�o percebem a import�ncia disso. N�o conseguimos mudar a cultura de um pa�s e de uma classe do dia para a noite. Temos que diminuir ao m�ximo os impactos da n�o profici�ncia, mas n�o adianta nos iludirmos achando que vamos dar conta. Ningu�m consegue ser fluente num idioma em um ano”, diz Neuma. Apesar disso, ela � otimista: “A falta de profici�ncia n�o vai pesar negativamente, vamos conseguir superar isso e atender bem. As pessoas fluentes ser�o deslocadas para postos-chaves. O lado positivo � que, se n�o fossem esses eventos, perpetuar�amos a quest�o. Eles est�o servindo para balan�ar e mostrar essa defici�ncia”.
Atendentes perdidos
Se o embara�o � grande pessoalmente, por telefone n�o � diferente. O Estado de Minas repetiu ontem um teste feito em novembro de 2011 com servi�os essenciais ao turista e constatou que n�o houve evolu��o no n�vel dos atendentes em rela��o � l�ngua inglesa. Em algumas liga��es, a conversa n�o passou da primeira pergunta: “Voc� fala ingl�s?”. De 14 pessoas ouvidas, apenas duas tinham dom�nio do idioma. Na primeira tentativa, houve for�a de vontade, mas a primeira atendente do HPS logo gritou por algu�m que falasse ingl�s. A segunda mulher, educamente, foi objetiva, respondendo a pergunta: “Mo�a, aqui n�o tem ningu�m que fala ingl�s. E quem fala n�o est� aqui”.
Na central telef�nica de uma cooperativa de t�xi, duas mulheres tentaram, mas o m�ximo que conseguiram foi repetir que n�o falavam ingl�s. Estrangeiro que precisar de informa��es sobre as atra��es de BH � bom se agarrar � internet. De acordo com o portal da prefeitura, o atendimento ao turista se d� por meio do Al� Turismo, no 156. A op��o simplesmente n�o existe no menu da central de servi�os. Na op��o “cultura”, a funcion�ria insistiu que n�o conseguia entender e respondeu: “Por falta de comunica��o a prefeitura encerra a liga��o”.
Nas paredes das recep��es, rel�gios com o hor�rio local de v�rias capitais estrangeiras mostram sincronia com o mundo, mas quando a conversa � mais pr�xima, a situa��o � outra. No primeiro hotel consultado, o turista ingl�s passaria por quatro atendentes, dos quais apenas um indicou em ingl�s que transferiria a liga��o para quem sabia informar sobre quartos. No segundo, foram tr�s chamadas e os atendentes desligaram sem passar a informa��o.
A Belotur informou que aguarda retorno do Minist�rio do Turismo sobre pedido de conv�nio para aulas de ingl�s e espanhol para 350 funcion�rios de museus, da Funda��o Zoo-Bot�nica e da pr�pria emprea. Os cursos para pessoas que trabalham na �rea de turismo, como taxistas e gar�ons, est�o sendo coordenados pelos minist�rios do Turismo e da Educa��o. As pr�ximas pela internet (www.turismo.gov.br) ocorrer�o entre 15 e 30 de novembro.
MUNDO
PROFICI�NCIA MUITO ALTA
1 Su�cia
2 Dinamarca
3 Finl�ndia
4 Holanda
5 Noruega
PROFICI�NCIA ALTA
6 B�lgica
7 �ustria
8 Hungria
9 Alemanha
10 Pol�nia
11 Rep�blica Tcheca
12 Singapura
13 Mal�sia
PROFICI�NCIA MODERADA
14 �ndia
15 Su��a
16 Eslov�quia
17 Paquist�o
18 Espanha
19 Portugal
20 Argentina
21 Coreia do Sul
22 Jap�o
23 Fran�a
24 It�lia
25 Hong Kong
PROFICI�NCIA BAIXA
26 Uruguai
27 Indon�sia
28 Ir�
29 R�ssia
30 Taiwan
31 Vietn�
32 Turquia
33 Peru
34 Costa Rica
35 Marrocos
36 China
37 Catar
38 M�xico
PROFICI�NCIA MUITO BAIXA
39 Chile
40 Venezuela
41 El Salvador
42 S�ria
43 Equador
44 Arg�lia
45 Kuwait
46 BRASIL
47 Guatemala
48 Egito
49 Emirados �rabes Unidos
50 Col�mbia
51 Panam�
52 Ar�bia Saudita
53 Tail�ndia
54 L�bia
BRASIL
PROFICI�NCIA BAIXA
1 Rio de Janeiro
2 Paran�
3 Sergipe
4 S�o Paulo
5 Rio Grande do Sul
6 Para�ba
7 Santa Catarina
8 Distrito Federal
9 MINAS GERAIS
10 Cear�
CAPITAIS
PROFICI�NCIA BAIXA
1 Rio de Janeiro
2 S�o Paulo
3 Bras�lia
4 BELO HORIZONTE
PROFICI�NCIA MUITO BAIXA
5 Salvador