
Os moradores de Belo Horizonte ter�o que conviver com trag�dias provocadas por chuvas por no m�nimo mais cinco anos. Mas o drama pode se alongar at� o per�odo chuvoso de 2022. O prefeito Marcio Lacerda (PSB) calcula que para sanar os problemas dos 80 pontos de inunda��o da capital ser�o necess�rias obras que demandam de R$ 3 bilh�es a R$ 4 bilh�es. “A prefeitura n�o tem recursos e n�o tem capacidade de endividamento para fazer essas obras todas a curto prazo. � preciso aumentar a preven��o e ter um sistema de socorro eficiente”, afirmou ontem Lacerda. Mesmo que o poder p�blico tivesse a verba, o prazo n�o seria de menos que tr�s a cinco anos, informou. N�o � a primeira previs�o do tipo feita pela PBH. Em 2009, primeiro ano da gest�o Lacerda, o ent�o o secret�rio municipal de Pol�ticas Urbanas, Murilo Valadares, previu que a cidade precisaria de dois anos at� estar pronta para temporais.
Em entrevista ontem, no Bairro Castelo, na Regi�o da Pampulha, pr�ximo ao C�rrego Ressaca – local onde Gilmar Almeida de Santana morreu durante a tempestade da quinta-feira –, o prefeito reagiu com irrita��o ao ser questionado sobre o fato de que o poder p�blico n�o agiu a tempo de evitar preju�zos, diante da previs�o de temporais, nos pontos onde os problemas s�o conhecidos. “Se � assim, n�s falhamos. N�s dev�amos ter sido um pouco mais bab�s dos cidad�os, para que eles n�o corressem riscos”, disse.
Sem previs�o de recursos que possibilitem enfrentar todo o problema a curto prazo, a estrat�gia da prefeitura pode chegar ao extremo de interditar vias apontadas como potenciais locais de alagamento. “� preciso pensar em um sistema din�mico, em que mesmo com uma chuva que produza alagamento em 15 minutos, n�s possamos ter o fechamento da via, para evitar que pessoas entrem em zonas de risco”, disse Marcio Lacerda, sem detalhar como a medida poderia ser adotada. O prefeito afirmou que nas pr�ximas duas semanas deve pensar em um “sistema de aviso e monitoramento, que permita rea��o mais r�pida, para que os carros n�o entrem nessas regi�es”.
O atual sistema de preven��o, baseado na coloca��o de placas de advert�ncia em pontos suscet�veis a alagamentos, mostrou-se insuficiente, admitiu o prefeito. “O que n�s fizemos nos �ltimos dois anos foi instalar centenas e centenas de placas de aviso nessas zonas de inunda��o, pedindo as pessoas para n�o se arriscarem nesses espa�os nos momentos de chuva forte. Foi o m�nimo que pod�amos fazer”, afirmou Lacerda, reconhecendo que a �ltima morte mostrou que a iniciativa � ineficaz. “Parece que a pessoa se arriscou. � uma morte que lamentamos muito. Somos solid�rios com a fam�lia. � preciso que o poder p�blico aja mais rapidamente para fechar essas �reas no caso de chuva forte”, disse Lacerda.
O prefeito informou que, na atual gest�o, que termina este ano, foram investidos quase R$ 500 milh�es em interven��es j� conclu�das, somando as iniciadas na gest�o anterior. “Temos em andamento obras de preven��o de enchentes de R$ 900 milh�es. Somando ao que est� em projeto e licita��o, chegamos a R$ 1,1 bilh�o. Nunca se investiu tanto em BH na preven��o de enchentes quanto se fez nos �ltimos quatros anos” argumentou o prefeito, que foi reeleito e fica no cargo at� o fim de 2016.

Lacerda admite que o volume � insuficiente e atribui parte da culpa a seus antecessores no cargo. “ � uma quest�o de bilh�es e bilh�es de reais que n�o foram investidos no passado. A cidade ocupou margens de c�rrego de forma indevida”, avaliou. O prefeito acrescentou que, se as chuvas forem intensas nos pr�ximos anos, como ocorre desde 2008, os problemas continuar�o a ocorrer at� que todas as obras sejam conclu�das. Lacerda classificou a chuva de quinta-feira como um fen�meno meteorol�gico at�pico, mas que repetiu situa��es ocorridas nos �ltimos quatro anos. “Antes de 2008, pelo menos nos 15 anos anteriores, n�o tivemos acidentes meteorol�gicos assim”, afirmou.
MAIS PERDAS Diante da perspectiva pouco otimista da prefeitura, restou aos atingidos pelas chuvas nos conhecidos pontos de inunda��o da capital se armar de vassouras, p�s e mangueiras para limpar a sujeira depositada em casas e lojas pela enxurrada. Foi assim na Avenida Bernardo Varconcelos, no Bairro Cachoeirinha, Regi�o Nordeste de Belo Horizonte. No Supermercado Roma, na altura do n�mero 2.000, produtos e computadores ficaram estragados. Metros � frente, a distribuidora de produtos de sorveteria Minas Soft amanheceu repleta de lama. A avenida por onde passa o C�rrego Cachoeirinha ficou mais uma vez coberta de �gua barrenta, que invadiu o com�rcio da regi�o. “Enfrentamos uma chuva forte no ano passado e perdemos R$ 15 mil em produtos. Depois disso, colocamos placas de veda��o nas portas, mas o servi�o n�o foi suficiente. Estamos com uma perda enorme. Ainda nem sei o valor”, contou a gerente Vanessa Dias, de 28, enquanto juntava caixas de papel�o ensopadas. Trabalho que se repetiu por v�rias regi�es da cidade, principalmente em avenidas como a Francisco S�, Cristiano Machado e Silviano Brand�o.
FALA, PREFEITO
“Se � assim, n�s falhamos. N�s dev�amos ter sido um pouco mais bab�s dos cidad�os, para que eles n�o corressem riscos”
M�rcio Lacerda, prefeito de BH, ao ser questionado sobre a falta de obras e os resultados previs�veis da tempestade
FALA, CIDAD�O
“Tinha de haver mais obras de drenagem. As galerias n�o suportam e todo mundo sabe disso. Teve at� quem nos prometeu isen��o de IPTU, mas n�o deu nada”
Paulo de Souza Matos, ono de bar na Avenida Francisco S�, no Prado, enquanto limpava o estabelecimento e contabilizava R$ 3 mil em perdas com a chuva de quinta-feira