
Ter uma vaga de estacionamento privativa na rua e bem em frente ao local de trabalho pode parecer um sonho para quem circula quarteir�es inteiros procurando um lugar onde parar o carro. Mas para pessoas como o comerciante Evaldo, de 45 anos, a vaga na Rua dos Goitacazes est� garantida. Basta chegar cedo. Morador de Venda Nova, ele segue todos os dias para o Centro de Belo Horizonte e deixa o ve�culo na porta da loja. L�, o autom�vel fica o dia inteiro, sem tal�o de rotativo, apesar de a �rea ter limite de perman�ncia de uma hora. “Nem me incomodo. A coisa � simples: faz dois anos que a fiscaliza��o n�o multa. Antes, eu ficava com um tal�o de estacionamento no bolso (para usar em caso de os fiscais chegarem). Hoje, nem com isso me incomodo”, debocha.
Fiscaliza��o ineficaz ou inexistente, abuso de flanelinhas, falta de civilidade e aumento da frota contribuem para uma realidade que o belo-horizontino j� sentiu: a oferta de vagas na cidade caiu drasticamente. Segundo c�lculos baseados em dados da BHTrans, desde 2008 pelo menos 6.385 vagas desapareceram s� dentro do sistema de rotativo, o que equivale a 8% da oferta.
A BHTrans demarcou 20.906 vagas no rotativo. Cobrando R$ 2,90 por tal�o para garantir o revezamento de carros por uma, duas ou cinco horas, dependendo do local, a receita gerada foi de R$ 17,4 milh�es no ano passado. Neste ano, j� arrecadou 98% desse valor, chegando a R$ 17,1 milh�es. Em um cen�rio de revezamento ideal, o sistema deveria possibilitar o estacionamento de 91.537 carros, ou m�dia de 4,3 ve�culos por vaga, considerando a rotatividade. No entanto, segundo a BHTrans, o �ndice atual chega a 3,6 ve�culos por vaga, ou 76.636 autom�veis estacionado por dia.

Como se trata de m�dia, a conta leva em considera��o a superlota��o de �reas da Regi�o Centro-Sul e a subutiliza��o em algumas �reas de Venda Nova. Para ter uma exata no��o da dificuldade pela qual passam belo-horizontinos que precisam estacionar e n�o encontram vagas, a equipe do Estado de Minas registrou a frequ�ncia de ve�culos nos estacionamentos de nove ruas da Regi�o Centro-Sul, sendo seis delas na Savassi e Funcion�rios e tr�s no Hipercentro. Nesses locais a falta de espa�o dispon�vel � dram�tica. Das 1.147 possibilidades de estacionamento abertas nas vagas ao longo desses dias, considerado o sistema de rotatividade, houve revezamento de apenas 623 autom�veis. Uma taxa de 45,7% de ocupa��o irregular, ou seja, de ve�culos que ficaram parados al�m do tempo m�ximo e n�o deram oportunidade a outros motoristas de usar a vaga. Gente que, como o comerciante Evaldo, que deixa o carro o dia inteiro no rotativo sem ser incomodado pela fiscaliza��o.
A pior situa��o foi verificada no Hipercentro, entre as ruas dos Goitacazes, dos Tupis e Goi�s. Nesses trechos, 509 vagas poss�veis ao longo do dia dentro do sistema de rotatividade comportaram apenas 237 autom�veis – ocupa��o irregular de 53,5%. Na Savassi e no Funcion�rios, os quarteir�es acompanhados pelo EM das ruas Professor Morais, Sergipe, Fernandes Tourinho, Tom� de Souza e Avenida Get�lio Vargas t�m capacidade de receber 638 carros no per�odo, mas registraram apenas 386, o que significa que 39,5% dos usu�rios ultrapassaram o tempo m�ximo de perman�ncia no rotativo.
FILAS DUPLAS E GARAGEM BLOQUEADA
O resultado disso vai al�m do grande inc�modo de parar o carro e do alto custo dos estacionamentos particulares: o reflexo pode ser observado no tr�nsito. “A infra��o ao rotativo � alta e por isso quem deveria ter uma oportunidade de estacionar come�a a rodar pelos quarteir�es, em baixa velocidade. A repercuss�o � direta em cada quarteir�o e se espalha pela cidade, reduzindo a velocidade das vias”, avalia o engenheiro civil e especialista em transporte e tr�nsito Silvestre de Andrade Puty Filho.
Exemplos disso est�o a cada esquina, onde filas duplas, bloqueios de garagens e paradas em locais proibidos se tornam cada vez mais frequentes. Cansada de dar voltas no quarteir�o para buscar sua filha na Rua Sergipe, na Savassi, a professora Solange Bassalo, de 48 anos, se espremeu num espa�o que sobrava da esquina e ligou o pisca-alerta. “N�o tem vaga. Est� a cada dia pior aqui na Savassi. A gente n�o quer atrapalhar o tr�nsito, mas n�o consegue nem parar um instante para buscar uma pessoa. Est� tudo ocupado”, disse.
Apesar de a situa��o denunciar o colapso do sistema rotativo, a BHTrans considera o servi�o bom. “A m�dia do rotativo, de 3,6 carros por vaga, � boa. As oscila��es di�rias em hor�rios de pico � que d�o uma impress�o de que falta lugar para estacionar”, avalia o gerente de Estacionamento Rotativo, S�rgio Rocha. A empresa informa que estuda ampliar neste ano o sistema para bairros como o Gutierrez, na Regi�o Oeste da capital.