Gustavo Werneck

Os motivos no forro se referem � antiga serventia do espa�o: no passado, foi capela mortu�ria, sendo feitos ali os vel�rios de religiosos e outras personalidades da �poca. Sobre o andaime, Carla aponta os estragos que o tempo, os cupins e as goteiras fizeram nas pinturas. “Vamos desmontar todo o forro e, para tanto, j� numeramos pe�a por pe�a. H� madeiras apodrecidas e todo o cuidado � pouco”, afirma a restauradora. A capela tem ainda um altar com chinesices, ou chinoiseries , motivos orientais executados por m�o de obra chinesa, recrutada em Macau, antiga possess�o portuguesa. “O estado aqui tamb�m � prec�rio, as perninhas douradas do anjo est�o se soltando”, mostra Carla, lembrando que os elementos art�sticos s�o no estilo nacional portugu�s, a primeira fase do barroco.
A terceira etapa vai contemplar, al�m das pinturas e ret�bulos da Capela do Sant�ssimo, o altar de S�o Francisco Borja, certamente um dos mais antigos do estado, e a porta decorada do consist�rio, que tamb�m remetem a temas f�nebres. H� os quatro cavaleiros do apocalipse (morte, fome, peste e guerra), inspirados nos desenhos do pintor e ilustrador alem�o Albrecht D�rer (1471–1528), o inferno, o ju�zo final e o para�so – nesse, h� uma cena curiosa, pois enquanto todos sobem aos c�us e s�o recebidos pelos anjos, apenas o rei fica na Terra, acenando para as almas.
A expectativa � que de que a atual etapa dure oito meses, j� estando captados, via Lei Federal de Incentivo � Cultura, R$ 300 mil da Cemig. Como proponente do projeto est� a Sociedade Civil Esp�rito Santo, vinculada � Arquidiocese de Belo Horizonte. “O valor aprovado na lei foi de R$ 1,4 milh�o e precisamos do restante dos recursos para concluir os trabalhos, que incluem as duas sacristias, cinco arcadas da nave, o batist�rio e altar de S�o Miguel”, explica Henrique Godoy, da Via Social – Projetos Culturais e Sociais, empresa encarregada da produ��o executiva. A equipe j� come�ou a empreitada de higieniza��o, desinfesta��o e imuniza��o preventiva; fixa��o da camada pict�rica e do douramento; tratamento e revis�o da estrutura; limpeza, consolida��o e recomposi��o de suportes, de elementos de talha da policromia e douramentos; reintegra��o das cores e aplica��o de verniz de prote��o. O trabalho ter� ainda tratamento, montagem e acabamento das pe�as.
“� um al�vio muito grande para a comunidade, pois as obras continuam. Est�vamos preocupados com a situa��o da Capela do Sant�ssimo, que se degradava lentamente”, diz o integrante da Irmandade do Sant�ssimo Ant�nio Pereira, que est� sempre de olho em todos os detalhes ao lado de �lcio Edmundo Brand�o. Na sacristia, a auxiliar de restauro Priscila Coimbra, de Sabar�, trabalha na mesa do ret�bulo de S�o Francisco Borja e diz que � um prazer atuar num projeto que valoriza o patrim�nio da cidade.
CUSTOS
At� hoje, j� foram empregados R$ 2 milh�es no restauro da matriz. As primeiras obras come�aram em 2004, com verba do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), com substitui��o completa do telhado, pintura externa e restaura��o completa da capela-mor. J� a segunda, com recursos de empresas privadas e de economia mista, contemplou o arco-cruzeiro, o forro da nave e as paredes laterais. Interditada pelo Corpo de Bombeiros em 2003, a Matriz de Nossa Senhora da Concei��o sofreu duros reveszes ao longo dos anos, como repinturas das talhas e elementos art�sticos, infiltra��es, ataque de cupins, madeiras apodrecidas que representam risco � sua integridade e outros fatores de descaracteriza��o.
Da imagem da padroeira, com 2,7 metros de altura, em cedro, que agora ostenta as cores originais e uma coroa de prata, feita pelo artes�o Joerg Artur Ammann, foi retirada uma camada de meio cent�metro de repintura. “S� do forro da nave, desmontamos cerca de 1 mil pe�as, que, depois de mapeadas, voltaram para o local de origem, restauradas”, afirma Carla Castro. Outro desafio foi remover 3 mil quilos de entulho, resultado de obras antigas, que estavam na cobertura. Ainda agora, Carla e sua equipe, com os zeladores, recolhem em caixas pe�as que se desprenderam dos ret�bulos e do forro. Tombada h� 70 anos pelo Iphan, a matriz re�ne caracter�sticas �nicas, como a forma abobadada e ricos elementos art�sticos dos s�culos 18 e 19.
Saiba mais
forro teve destaque
O forro da capela mereceu aten��o especial de Rodrigo de Melo Franco de Andrade (1898 – 1969), respons�vel pela cria��o do Servi�o do Patrim�nio, em 1937, atual Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan). Ele destacou o trabalho como “do per�odo inicial da pintura mineira”. E mais: “A maior parte das composi��es � constitu�da de formas abstratas, possivelmente para tornar mais impressiva a representa��o realista dos emblemas que ostenta, da autoridade r�gia, papal, episcopal e can�nica, contrastando com o sentido das inscri��es entremeadas no conjunto e tiradas do Eclesiastes e dos Profetas”.
Mem�ria
Documentos foram queimados por padre
A Par�quia de Sabar� foi criada em 1701 pelo bispo do Rio de Janeiro, dom Frei Francisco de S�o Jer�nimo. J� a Vila Real de Nossa Senhora da Concei��o de Sabar�, pelo governador Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, em 17 de julho de 1711. Entre essas duas datas, iniciou-se a constru��o da Igreja de Nossa Senhora da Concei��o, que, segundo a tradi��o popular ,foi sagrada como matriz em 8 de dezembro de 1710. Ao contr�rio de outras cidades mineiras que t�m arquivos com muitas informa��es, em Sabar� a situa��o � diferente e as datas n�o s�o muito precisas. Isso porque os documentos relativos � hist�ria da cidade teriam sido queimados por um p�roco cujo antecessor havia contra�do lepra. Ent�o, para se livrar do risco de cont�gio, o padre incinerou todos os pap�is que estiveram em contato com o doente.
forro teve destaque
O forro da capela mereceu aten��o especial de Rodrigo de Melo Franco de Andrade (1898 – 1969), respons�vel pela cria��o do Servi�o do Patrim�nio, em 1937, atual Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan). Ele destacou o trabalho como “do per�odo inicial da pintura mineira”. E mais: “A maior parte das composi��es � constitu�da de formas abstratas, possivelmente para tornar mais impressiva a representa��o realista dos emblemas que ostenta, da autoridade r�gia, papal, episcopal e can�nica, contrastando com o sentido das inscri��es entremeadas no conjunto e tiradas do Eclesiastes e dos Profetas”.
Mem�ria
Documentos foram queimados por padre
A Par�quia de Sabar� foi criada em 1701 pelo bispo do Rio de Janeiro, dom Frei Francisco de S�o Jer�nimo. J� a Vila Real de Nossa Senhora da Concei��o de Sabar�, pelo governador Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, em 17 de julho de 1711. Entre essas duas datas, iniciou-se a constru��o da Igreja de Nossa Senhora da Concei��o, que, segundo a tradi��o popular ,foi sagrada como matriz em 8 de dezembro de 1710. Ao contr�rio de outras cidades mineiras que t�m arquivos com muitas informa��es, em Sabar� a situa��o � diferente e as datas n�o s�o muito precisas. Isso porque os documentos relativos � hist�ria da cidade teriam sido queimados por um p�roco cujo antecessor havia contra�do lepra. Ent�o, para se livrar do risco de cont�gio, o padre incinerou todos os pap�is que estiveram em contato com o doente.