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Estado de Minas ESQUECIDA

Desprezado, trecho da BR-381 carrega longa marca de trag�dias

Trecho inicial de 125 quil�metros que abriga mais de 300 mil pessoas no Vale do Rio Doce � desprezado pelas iniciativas de duplica��o e melhoria


postado em 02/06/2013 00:12 / atualizado em 02/06/2013 09:31

(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)

Divino das Laranjeiras e S�o Jo�o do Manteninha – “Se esta estrada � perigosa? �, se �. Foi logo ali que um tio meu, o Ant�nio, morreu atropelado. O Manoel, da barbearia, tamb�m perdeu a vida nela. O Raimundo, vaqueiro dos bons, foi mais uma v�tima. O advogado Luiz Pacheco, coitado, enterrou dois filhos: o carro em que eles estavam capotou. � uma BR com defeitos no asfalto e curvas fechadas”. Os desastres recordados pelo aposentado Nelson Germano dos Santos, de 65 anos, ocorreram no antigo trecho de 125 quil�metros da BR-381 entre Governador Valadares a Mantena, cidades do Vale do Rio Doce, e que ainda passa pelos pacatos munic�pios de Divino das Laranjeiras, S�o Jo�o do Manteninha e Central de Minas.


Aproximadamente 310 mil pessoas moram nos cinco munic�pios. Muitas delas rotulam aquele peda�o de asfalto como “a parte esquecida da 381”, pois � o �nico trecho mineiro da rodovia federal sem proposta de duplica��o. Inaugurada em 1959 pelo ent�o presidente da Rep�blica Juscelino Kubitscheck (1902–1976), a 381 liga o estado ao Esp�rito Santo � capital paulista. Em Minas, ela tem 950 quil�metros e pode ser dividida em tr�s partes. A primeira, conhecida como Rodovia Fern�o Dias, em homenagem ao bandeirante ca�ador de esmeraldas, vai do munic�pio de Extrema (no Sul de Minas) a Belo Horizonte. Trata-se do tra�ado duplicado, nas d�cadas de 1990 e 2000, e concedido � iniciativa privada.

A segunda parte, apelidada de Rodovia da Morte, de BH a Governador Valadares, tem promessa de ser alargada nos pr�ximos anos. Os editais de licita��o foram publicados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em mar�o passado, e as propostas ser�o entregues pelas construtoras este m�s. A previs�o para o in�cio e a conclus�o das obras depende da elabora��o do projeto executivo, o qual deve levar de um a dois anos – h� expectativa de que o atual tra�ado, bastante sinuoso, seja corrigido com cerca de 90 pontes, viadutos e t�neis.

J� o terceiro trecho da estrada, de Governador Valadares a Mantena, � o que usu�rios chamam de “a parte esquecida da 381”. A duplica��o dele depende tanto do Dnit quanto do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG). A explica��o � simples: o asfalto entre Valadares e a ponte sobre o C�rrego Santa Helena, no pacato povoado de S�o V�tor, � de responsabilidade do �rg�o federal, pois ele � sobreposto a um peda�o da BR-259 – as duas estradas t�m um trecho em comum, a exemplo do que ocorre, em parte do Anel Rodovi�rio de Belo Horizonte, com a 381, a 262 e a 040.

"� o principal acesso de muita gente ao Norte capixaba e ao Sul baiano. Infelizmente, tamb�m � palco de acidentes", disse Nelson Germano dos Santos, aposentado (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Por sua vez, o trecho que vai do lugarejo de S�o V�tor a Mantena foi delegado pelo governo federal ao estado, em dezembro de 2002, por meio da Medida Provis�ria 82, assinada pelo ent�o presidente Fernando Henrique Cardoso em concord�ncia com o ent�o governador Itamar Franco. Em raz�o disso, essa parte da estrada � chamada de MGT-381. Para Nelson dos Santos, o aposentado que perdeu um tio e amigos na via, pouco importa a denomina��o da estrada. Num dos bancos em frente � matriz de Divino das Laranjeiras, onde mora, ele sonha com o dia em que prestigiar� a cerim�nia de duplica��o da via.

“� uma estrada importante para quem mora no Vale do Rio Doce. � o principal acesso de muita gente ao Norte capixaba e ao Sul baiano. Infelizmente, tamb�m � palco de acidentes. Atr�s daquele morro, logo na descida, v� l� e veja voc� mesmo, h� uma cruz de madeira. Foi o local em que Manoel, o da barbearia, faleceu. Ele estava numa bicicleta e foi atingido em cheio por um carro. O amigo, que Deus o tenha, n�o resistiu ao impacto”, recorda Nelson.

Cruzes sinalizam s�rie de desastres

H� outras cruzes ao longo da estrada. Uma delas est� no km 20, perto de S�o Jo�o do Manteninha, uma pequena cidade no sop� da montanha. A cruz de ferro foi fincada �s margens da estrada em mem�ria a duas mulheres. Quem conta � o caseiro Jo�o Armiro: “Eram m�e e filha. A moto em que estavam derrapou na pista, h� uns oito meses, jogando-as no asfalto. N�o resistiram aos ferimentos. Cheguei a ver os corpos. Cena horr�vel. Na semana passada, foi a vez de um motoqueiro. Passou direto na mesma curva. O ve�culo deslizou e bateu, bem aqui, no p� da cruz, quase a arrancando. Neste ponto � dif�cil passar um m�s sem acidente.”

A macabra curva do km 20 � uma das mais cr�ticas da estrada. Seu �ngulo acentuado � agravado pela geografia do lugar: o tra�ado est� numa descida �ngreme. H� quem diga que os acidentes s� ocorrem no local devido � imprud�ncia de motoristas que pisam fundo no acelerador. Por outro lado, � bom lembrar que a curva � um prato cheio para colis�es frontais. Em outras palavras, mesmo que um condutor desrespeite o limite de velocidade no trecho, h� o risco de ele invadir a pista contr�ria, atingindo motoristas e passageiros inocentes, que trafegam na dire��o oposta.

A duplica��o, conclui Jo�o Armiro, evitaria esse tipo de desastre: “H� muitos acidentes no trecho”. Procurada, a Pol�cia Militar Rodovi�ria (PMR), respons�vel pela vigil�ncia no trecho, n�o informou a estat�stica de trag�dias, mortos e feridos na parte esquecida da 381.

Placas danificadas ou encobertas e falta de acostamento contribuem para desorientar condutores em todo o percurso em Minas (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Placas danificadas ou encobertas e falta de acostamento contribuem para desorientar condutores em todo o percurso em Minas (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Placas encobertas ou jogadas ao ch�o

Ao mesmo tempo em que se encantam com a vegeta��o exuberante, com as montanhas rochosas, nas proximidades da divisa com o Esp�rito Santo, e com o carisma de moradores do Vale do Rio Doce, motoristas e passageiros que percorrem os 125 quil�metros entre Governador Valadares e Mantena precisam dobrar a aten��o com as armadilhas do trecho. O antigo tra�ado, bastante sinuoso, e as pistas simples sem barreira f�sica entre as dire��es opostas s�o os maiores perigos da rodovia, mas o trecho reserva outras ciladas, como placas cobertas pelo mato, buracos e aus�ncia de acostamento.

O Estado de Minas percorreu o trecho e constatou muitos problemas no local, por onde trafegam, segundo o poder p�blico, at� 2 mil ve�culos por dia. Tanto o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) quanto o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) investem em servi�os de manuten��o da estrada, como opera��es tapa-buracos e ro�adas no mato �s margens do asfalto. No trecho comum com a BR-259, por exemplo, o diretor do �rg�o federal no Leste de Minas Gerais, Ricardo Freitas, lembra que a pista recebeu nova camada de asfalto h� pouco tempo.

J� o diretor do DER na regi�o, Geraldo Falsi, acrescenta que o �rg�o j� iniciou obras de recapeamento do asfalto. No trecho entre Mantena e a divisa com o Esp�rito Santo, o departamento liberou cerca de R$ 2 milh�es para dar novo visual � pista. A Secretaria de Estado de Transportes e Obras P�blicas (Setop), que trabalha em parceria com o DER, informou que a ro�ada j� est� conclu�da em cerca de 80 quil�metros e que as interven��es em drenagem, medidas para reduzir a possibilidade de aquaplanagem, ser�o iniciadas em breve.

Mas quem passa pela regi�o precisa dobrar a aten��o. Ao longo da viagem entre Governador Valdares e Mantena, marcas de pneus no asfalto mostram que muitos motoristas tiveram problemas no trecho. Talvez alguns pudessem ser evitados se placas de sinaliza��o n�o fossem cobertas pela vegeta��o. A sinaliza��o tamb�m � deficiente no asfalto: h� pontos em que as importantes faixas cont�nuas ou pontilhas est�o apagadas, como ocorre no km 29, perto de S�o Jo�o do Manteninha.

Os problemas, por�m, come�am logo no primeiro quil�metro, na divisa de Minas com o Esp�rito Santo, onde alguns buracos na pista exigem cuidado dos condutores. Dez quil�metros adiante, em dire��o a Governador Valadares, o defeito � um desn�vel no asfalto. No km 20, uma placa adverte: “trecho com alto �ndice de acidentes”. L�, � o in�cio de uma descida �ngreme. No km 25, uma curva acentuada, � direita, � outro ponto perigoso.

No trecho entre Governador Valadares e Mantena, rodovia é usada por ruralistas, colocando motoristas em risco constante(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
No trecho entre Governador Valadares e Mantena, rodovia � usada por ruralistas, colocando motoristas em risco constante (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Animais dividem pista com ve�culos

Usu�rios da via tamb�m contribuem para armadilhas. No km 36, onde a estrada corta um pequeno povoado, uma placa que informa a exist�ncia de quebra-molas no local foi jogada ao solo. Como a lombada n�o � colorida, alguns condutores s� a enxergam a poucos metros do obst�culo. Tr�s quil�metros adiante, h� outro desn�vel na pista. No km 57, a aten��o � para mais uma curva fechada. No km 66, costelas no asfalto.

Dois quil�metros adiante, mais uma descida �ngreme. J� no km 73, uma por��o de terra se deslocou do barranco e invadiu um peda�o do asfalto. No km 77, perto de Central de Minas, uma placa amarela confunde os usu�rios. Duas mensagens sobrepostas – viaduto em obras e entrada e sa�da de ve�culos – embaralham a vista de motoristas. Outros problemas, no trecho at� Governador Valadares, s�o a falta de acostamento. Na hip�tese de um ve�culo estragar numa curva, o local precisa ser muito bem sinalizado.

Condutores tamb�m precisam ter aten��o com a possibilidade de animais invadirem a estrada. H� v�rias fazendas ao longo do trecho. Em janeiro, um caminhoneiro tentou desviar de um cavalo, perdeu o controle do ve�culo e desceu um barranco. Houve um princ�pio de inc�ndio, que foi controlado por outro caminhoneiro. Mas o tanque da carreta se rompeu com o impacto e cerca de 150 litros de �leo vazaram. (PHL)


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