
Os cartazes se multiplicam na avenida. Recados aos montes – em portugu�s e em ingl�s –, em letras, para todo o mundo ler e ouvir. Os manifestantes fazem dos R$ 0,20 na passagem de �nibus estopim. Querem mais. Muito mais. Querem respeito, seguran�a, sa�de e educa��o. Exigem o fim da impunidade e deixam claro que n�o toleram mais a corrup��o. Ana Paula Lopes, de 25, aluna de pedagogia, orgulha-se do momento hist�rico. “Todo mundo acordou e se juntou para mostrar essa insatisfa��o”, diz.
Ela faz parte da multid�o que considera a corrup��o um dos maiores problemas do pa�s. A manifestante entende que a solu��o est� na educa��o. “� muito mais c�modo investir em Bolsa-Fam�lia e deixar a educa��o para segundo plano”, critica. Na altura do peito, o recado de Fernando M�rcio Bernardes, de 24: “Cansei de sentir vergonha!” Para o graduando em geografia, “a revolu��o est� atrasada”. Ele v� na Copa das Confedera��es, com as lentes do mundo voltadas para o Brasil, momento oportuno para mostrar que o “gigante est� de p�”.
“O que me d� mais vergonha � ver o descaso com o povo, com o mau uso do dinheiro p�blico. Vergonha de ver nossos pol�ticos, corruptos, tomando decis�es em benef�cio pr�prio”, ressalta. Fernando fala numa gera��o atenta � comunica��o imparcial, “mais transparente”. “Estamos aprendendo a fazer uso das novas m�dias. E a gente vai lutar. N�o vamos desistir. Vamos lutar at� o fim”, garante. Perto dele, dezenas de jovens manifestantes j� se preparam para tomar o rumo da Pra�a Sete.
Nos botecos vizinhos, de vitrola de ficha e salgado barato, n�o h� outro assunto: “Isso vai feder… Vamos pro pau!”, diz o barbado de olhos negros e alargadores nas orelhas. Com ele, a mocinha de cabelo moderno – curto de um lado e longo do outro –, piercing, usa o celular para responder a amiga que j� est� na Pra�a Sete. “A Lu disse que l� j� est� bombando”. No balc�o, cerveja com o p� da geladeira no casco, o sujeito de meia-idade conversa: “Isso n�o vai dar em nada”. O dono do bar reage: “N�o sei n�o, o povo est� cansado”.
Na grama, um sujeito toma a cena: “A�, galera! � o seguinte…” Diz que � pequeno empres�rio e que est� cansado de ser roubado. Oferece com “recursos pr�prios” trio el�trico para o movimento. � recebido com entusiasmo – em parte. Palmas e gritos de “�����eeee!” Muitos n�o d�o brecha. N�o querem nem conversa. “Ele quer � aparecer! Daqui a pouco � candidato!”, diz um barbudo de cabelos encaracolados e bolsa de couro atravessada no ombro. Logo � frente, na Avenida Ant�nio Carlos, o rapaz de aparente boa inten��o � colocado para escanteio. E a marcha, crescida em centenas, segue para a Pra�a Sete. � noite. Falam em 5 mil, 10 mil, 15 mil pessoas.

Teve de tudo. Os radicais falaram em ir para o confronto. “N�o se faz revolu��o sem dar ou tomar umas porradas”, diz um espectador atento � fala do garoto de chap�u e bigode ralo que defende coragem para que o movimento n�o se esvazie. Um outro toma a palavra para falar da presen�a de policiais infiltrados na reuni�o. Para evitar “um massacre”, sugere que os “intrusos” saiam discretamente. � a vez de uma professora falar bonito. Pondera, elogia a manifesta��o e coloca-se � disposi��o para caminhar junto, com responsabilidade. � recebida com canto: “O professor � meu amigo. Mexeu com ele, mexeu comigo!”.
Entre os mais politizados, lideran�as de movimentos j� organizados, discursaram compartilhando experi�ncias. Da assembleia, listagem de diretrizes que incluem, entre outras, articula��o com sindicatos de trabalhadores; redu��o imediata da tarifa de �nibus e passe livre estudantil; postos de primeiros-socorros. Foram quatro horas de espa�o aberto � liberdade.
Caminhada para a liberdade
Durante toda a semana, os grupos de insurgentes crescem na caminhada pela Avenida Afonso Pena. Em maioria, jovens de 15 a 25 anos. A parada � sempre a sede da prefeitura. Muitos vestidos com bandeiras, do Brasil e de Minas, promovem apita�o e tentavam trazer o amigos e parentes. “V�i, vem pra c� que t� doido demais !”, diz o rapaz forte, sem camisa. A menina bonita, de umbigo de fora, diz para a colega que se o pai descobre onde ela est�, “vai pagar o maior pau”. Tudo calmo e pac�fico demais at� ali. Por volta das 21h, gangue de mascarados come�ou a depredar a prefeitura, contrariando o coro de milhares: “Sem vandalismo!”. N�o adiantou. A solu��o foi deixar a bandidagem de lado, promovendo a maior quebradeira, e recuar para a Pra�a Sete. Nas cal�adas do Parque Municipal, a boa gente se espantava com a cena de destrui��o. Mas o grupo toma o sentido da Pra�a da Liberdade. L�, novas cenas de vandalismo contra o monumento da Copa do Mundo. O hino nacional na ponta da l�ngua, bra�os ao alto, cartazes e faixas pela ordem e pelo pa�s. Ana Luiza Oliveira, de 15, aluna do Cefet-MG, n�o imaginava que a manifesta��o fosse crescer tanto. “Acho que sou muito nova ainda. Mas o que vejo � o come�o de uma nova era. Acredito na for�a e na uni�o desta gera��o, futuro do pa�s.”