
O Minist�rio P�blico de Belo Horizonte come�a hoje a contatar os usu�rios de crack que tiveram suas hist�rias de luta contra o v�cio publicadas na s�rie de reportagens do Estado de Minas “O crack como ele �”, encerrada ontem. O promotor de Justi�a de Defesa da Sa�de de Belo Horizonte, Bruno Alexander Vieira Soares, pretende acompanhar caso a caso as v�timas da depend�ncia qu�mica, se poss�vel com a ajuda de familiares. “Posso providenciar o que � mais indicado a cada um, dependendo do laudo da equipe de psic�logos, psiquiatra e assistente social. Ningu�m sai daqui sem ajuda”, garante Soares, que j� acumula em torno de 1 mil procedimentos envolvendo pacientes com transtorno mental e depend�ncia na capital.
Para os usu�rios do crack jogados nas ruas, mostrados no primeiro dia da s�rie, descrito como “Trevas”, as medidas podem variar entre interna��o, atendimento ambulatorial e assinatura de um termo de ajustamento de conduta (TAC) pelo paciente, comprometendo-se a seguir o tratamento. No caso daqueles que est�o batalhando nas idas e vindas do processo de recupera��o, mostrados nas reportagens do segundo dia da s�rie (“Sombras”), o MP poder� fazer o encaminhamento para terapia com psic�logos e atendimento de psiquiatra, al�m de oferecer apoio aos familiares em rela��o ao usu�rio de crack. “Muitas vezes, a fam�lia chega aqui exigindo a interna��o compuls�ria do paciente, sendo que ela � a causa de ele buscar o v�cio”, alerta o representante do MP.
As rea��es �s hist�rias retratadas pelo EM, ap�s seis meses de acompanhamento dos personagens, n�o se restringiram a autoridades. “Obrigada pela publica��o da s�rie, que me faz entender melhor a doen�a e me d� mais paci�ncia com meu filho, que est� na caminhada”, comenta a funcion�ria p�blica F., m�e de um jovem professor de portugu�s que caiu na armadilha do crack. Ela pede para preservar a pr�pria identidade e a do filho. “Ele n�o pode ser identificado, porque o preconceito existe. Meu cora��o d�i muito, tenho medos demais, mas estou aprendendo, como ele, a viver um dia de cada vez”, revela a m�e, angustiada, que firmou este ano um TAC com o filho, intermediado pelo promotor Bruno Soares.
Ela conta que o rapaz tem ido a sess�es em centros esp�ritas, terapia e semanalmente aos Alco�licos An�nimos (AA), al�m de tomar medica��o controlada e de ter voltado a trabalhar na semana passada. Ele tamb�m n�o fica com dinheiro, nem cart�es e o que ganha vai ser usado para pagar as d�vidas que fez no per�odo. “Agora, s� falta quitar um cart�o”, conta a m�e, que tirou f�rias-pr�mio para acompanhar o filho em todos os passos.
Para aqueles que j� est�o “limpos”, descritos no terceiro dia da s�rie (“Luz”), outra medida poss�vel � a reinser��o no mercado de trabalho, uma das maiores barreiras vividas pelos ex-dependentes qu�micos de crack. “A grande dificuldade � o empregador confiar na pessoa que est� em tratamento de depend�ncia qu�mica”, afirma o m�dico psiquiatra e homeopata Alo�sio Andrade. “Conviver com esse seguimento social nos leva a perceber nitidamente qu�o profunda pode ser a degrada��o do ser humano”, afirma o especialista no atendimento a dependentes. “Quero parabeniz�-los pela coragem e ousadia de realizar observa��o prolongada do cotidiano dos usu�rios. Fica clara a necessidade de ferramentas sociais de prote��o e apoio, que precisam ir al�m da boa vontade, das boas inten��es e dos discursos decorados”, afirma.
O pastor Wellington Vieira, fundador do Centro de Recupera��o para Dependentes Qu�micos (Credeq) e presidente da Federa��o das Comunidades Terap�uticas Evang�licas do Brasil (Feteb), afirma que, em 23 anos de trabalho na �rea, foi a primeira vez que viu espa�o aberto para mostrar a verdadeira realidade dos dependentes de crack e a transforma��o que a droga provoca nas fam�lias. “S�o dramas que as comunidades terap�uticas vivenciam no dia a dia e dos quais ningu�m ficava sabendo. O pior � saber que poder�amos ajudar mais usu�rios, se houvesse uma lei que regulamentasse o repasse financeiro para as entidades. A gente perde tempo demais com o pires na m�o, implorando ajuda dos governos”, desabafa.
Para o agente social Almir Alves dos Santos, de 33 anos, ex-usu�rio de crack por cinco anos e que est� “limpo” h� dois anos, sete meses e 23 dias, a s�rie de reportagens mostrou “claramente o que a pedra � capaz de fazer com as pessoas”. “Est� faltando investimento dos governos. Todos os dias, encontro pessoas nas ruas pedindo para ser tratadas, mas que n�o conseguem por falta de vagas ou porque enfrentam dificuldades de apresentar laudo cl�nico, psiqui�trico e odontol�gico para conseguir o tratamento gratuito”, denuncia.