Um dos l�deres da ocupa��o, o almoxarife Cleidson Goulart, de 30 anos, informou que a invas�o come�ou no dia 4. Tr�s dias depois, j� eram 311 fam�lias, todas dos bairros Londrina e Baronesa, do munic�pio vizinho de Santa Luzia, do outro lado da cerca. "Tem um projeto do Minha casa minha vida para esse terreno. S� que os moradores de Santa Luzia n�o foram inseridos, apenas os de Belo Horizonte", disse Cleidson. Ele conta que a iniciativa foi das pr�prias fam�lias, que n�o s�o representadas por alguma entidade. No acampamento existem muitos idosos, crian�as e portadores de necessidades especiais.
A dona de casa Izabel Patr�cia Santiago, de 40, vive numa barraca de lona com os filhos de 7, 10 e 13 anos. "Pago R$ 200 de aluguel no Bairro Londrina. Passei aqui e vi meninos montando barracas. Tranquei minha casa e vim com meus filhos. Como ontem amea�ou chover, eles foram dormir em casa", disse Izabel, que j� usa energia clandestina puxada de um poste. As �reas est�o sendo demarcadas com arame farpado, inclusive os espa�os que servem de "uas".
Dez vigilantes foram contratados pelos s�cios de uma rede de hipermercados, dona da fazenda ao lado, para fazer a seguran�a armada 24 horas por dia. "Os invasores passam perto da cerca disparando tiros para o alto para intimidar a gente", acusa o vigilante Rodrigo Alves. "Chegamos h� duas semanas e o clima est� cada vez mais tenso. J� teve at� corretor vendendo lotes no terreno invadido", acrescentou. O aposentado Elias Pereira Rocha, de 80, mora h� 30 anos na fazenda ao lado e tamb�m est� apreensivo: "Minha prote��o tem sido Deus e os vigilantes", disse.
O terreno invadido pertence � empresa Granja Werneck S.A. O presidente do grupo, o engenheiro civil e acionista Fernando Werneck, entrou com pedido de reintegra��o de posse na 15ª Vara Criminal do F�rum Lafayette. A liminar foi concedida no dia 19 pela ju�za A�da Oliveira Ribeiro. "Dependemos apenas da Pol�cia Militar para acompanhar o oficial de Justi�a", disse. A 18ª Cia do 13ª BPM, respons�vel pela regi�o, informou que n�o tem conhecimento da ordem judicial. Fernando Werneck, entretanto, garante que a PM foi comunicada.
A Granja Werneck tem 400 hectares e a metade j� est� ocupada por barracas de lonas, segundo Fernando. "Os invasores j� est�o construindo casas de alvenaria e desmatando uma �rea verde que minha fam�lia preservou por 90 anos. Essa ocupa��o compromete o projeto que vai ocupar 356 hectares de toda a granja", disse o engenheiro. "Est�o acabando com a parte ambiental, que � a cereja do bolo do empreendimento", lamentou.
Preserva��o ambiental
O consultor ambiental S�rgio Myssior, dono da empresa MYR, contratada pelo Cons�rcio Santa Margarida (formado pelas empresas Rossi Residencial e Direcional Engenheiro, donas do empreendimento) para fazer o estudo ambiental da �rea, explica que a prefeitura fez estudos ambientais e urbanos para desenvolvimento sustent�vel da regi�o. ”Esses estudos embasaram a altera��o urbana do Isidoro, que foi apresentada com a revis�o do Plano Diretor e a Lei de Uso e Ocupa��o do Solo (Lei 9.959, de julho de 2010)”, informou Myssior. H� determina��o de que 10% das moradias sejam destinadas ao programa de habita��o municipal.
Myssior diz que foi feito zoneamento no Isidoro, dividido em tr�s graus de prote��o ambiental (m�ximo, moderado e leve). “Dentro dessa �rea, os propriet�rios da Granja Werneck desenvolveram um projeto. Das 65 mil habita��es previstas no projeto de altera��o urbana do Isidoro, 17,5 mil seriam atendidas por meio do projeto Granja Werneck”, informou.
O estudo ambiental considerou os cursos d’�gua, nascentes e remanescentes florestais e concluiu que 68% da granja devem ser destinados integralmente � preserva��o, formando um parque metropolitano do tamanho do Mangabeiras, com 2,3 milh�es de metros quadrados. A Prefeitura de Belo Horizonte informou que o Projeto Isidoro j� tem licen�a pr�via desde 2010, mas ainda falta a licen�a de implanta��o para o in�cio das obras.