O barulho das bombas ainda estremece o cora��o, o helic�pteros corta a tranquilidade do sono e os gritos das mulheres surgem como fantasmas na noite. As lembran�as s�o fortes, desesperadas e pontuam o cotidiano do refugiado s�rio Shvan Frho, de 25 anos. H� um ano e dois meses em Minas, ele procura viver o cotidiano dos jovens de sua idade, mas sabe que precisar� de tempo para curar as feridas da guerra civil que transforma o pa�s do Oriente M�dio em escombros e j� matou mais de 100 mil pessoas. “Sa� de um inferno e sinto falta da fam�lia. A S�ria j� acabou”, diz o rapaz que, muitas vezes, n�o consegue esconder a emo��o pela dist�ncia da terra natal, das conversas na l�ngua p�tria e dos amigos que deixou. No Brasil, h� 160 refugiados s�rios, dos quais 10 em Minas, segundo o Consulado da Rep�blica �rabe da S�ria.
Shvan foi acolhido por uma fam�lia de Santa Luzia, onde � tratado como filho, e trabalha como soldador numa empresa de Contagem. Primog�nito de uma fam�lia de seis filhos e natural de Hasaka Alhamraa, ele saiu de casa em busca de trabalho, diante da pobreza da fam�lia. O pai perdeu as terras nas quais plantava trigo e algod�o e Shvan peregrinou por Homs e Damasco at� chegar a Der Atya, onde conseguiu emprego num hotel.
De etnia curda e de religi�o mu�ulmana, Shvan gosta de ser tratado, na intimidade, pelo apelido curdo de Hvras (Ravr�s, em portugu�s). “L� ningu�m podia pronunci�-lo, com medo de persegui��es pol�ticas, por isso gosto tanto de ouvi-lo no Brasil”, conta o jovem, ao lado da dona de casa Magda Aparecida Rodrigues Torres Barros, a quem chama de mama, e do filho dela, o engenheiro mec�nico Felipe, de 27. “Um dia, apareceu por l� um grupo de 20 estrangeiros, entre eles um brasileiro, o empres�rio Ant�nio Carlos. Como eu falava ingl�s, conversamos e declarei minha admira��o pelo Brasil. Ficamos amigos e sempre que ele retornava � cidade, nos encontr�vamos.” Mas a barra se tornava cada vez mais pesada na S�ria e o jovem decidiu pedir ajuda a Ant�nio Carlos. Diante da situa��o extrema, o brasileiro prometeu auxili�-lo e, em Santa Luzia, conversou com a mulher Magda, com quem tem Felipe e tr�s filhas.
CARINHO Na sala da casa, Shvan recebe o carinho de Magda. Ela conta que decidiu atender o pedido de Ant�nio Carlos de imediato. O s�rio, por sua vez, conseguiu dinheiro emprestado com o tio parar custear a viagem ao Brasil. “N�o aguentava ficar mais. Minha fam�lia se dividiu, uns foram para o Iraque, outros para a Europa e meus pais est�o em Hasaka Alhamraa. Eu chorava sozinho, as bombas ca�am a todo instante e as mulheres nas ruas.”
Shvan desembarcou em S�o Paulo em julho de 2012 e Magda providenciou o translado para Confins e foi receb�-lo de bra�os abertos. “Acho que houve um entrosamento r�pido, foi um amor da fam�lia � primeira vista”, revela a dona de casa, certa de que “foi uma vida que salvamos”. Ele agora tem a declara��o do Conselho Nacional de Refugiados e a carteira de estrangeiro. Para conseguir emprego, fez curso de soldador.
Hoje, trabalha numa empresa em Contagem e frequenta o curso de portugu�s para estrangeiros no c�mpus da UFMG, na Pampulha. “Quero ser tradutor. “N�o gosto de ver as reportagens sobre a S�ria, as imagens mostram muito sofrimento. Estou, sempre que posso, conectado nas redes sociais.”
“Se voltar, v�o colocar uma arma nos meus bra�os e mandar que eu mate irm�os”, observa o s�rio. Ele n�o gostaria que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, autorizasse uma interven��o militar na sua terra: “Podem tirar o presidente Bashar al-Assad do poder, mas, por favor, n�o atinjam a popula��o”.
SOLIDARIEDADE
Hoje, �s 18h, na Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem, no Bairro Funcion�rios, em BH, o padre George Rateb Massis, da Par�quia do Sagrado Cora��o de Jesus dos Sir�acos Cat�licos, celebra missa para a comunidade s�ria. “Estamos preocupados com a situa��o no meu pa�s”, disse ontem o religioso, que participou de uma reuni�o em Bras�lia (DF). Desde julho de 2012, a convite da Arquidiocese de Belo Horizonte, os mineiros se mobilizam para ajudar a S�ria. A campanha humanit�ria Juntos pela S�ria arrecada recursos a serem enviados ao pa�s do Oriente M�dio. Em julho de 2012, o padre George, h� nove anos no Brasil, viajou � terra natal levando as contribui��es.
SERVI�O
Campanha Juntos pela S�ria
– Banco do Brasil
– Ag�ncia: 3494-0
– Conta corrente: 30.351-8
– Mitra Arquidiocesana de Belo Horizonte