
Atra�da pela imensa fila de estudantes de todas as idades que dependem de transporte para chegar � escola em Minas, uma gigantesca frota de 20 mil ve�culos, entre vans, carros e �nibus, desafia a lei, os perigos das estradas e a fiscaliza��o para fazer o transporte escolar clandestino. Segundo estudo do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG) a chance de um passageiro sofrer acidente em um desses ve�culos ilegais � 10 vezes maior do que viajando na legalidade. “O sonho de ter um diploma pode virar trag�dia”, alerta o diretor de Fiscaliza��o do DER, Jo�o Afonso Baeta Costa Machado.
“Do total de escolares piratas, 40% s�o vans, cerca de 8 mil, e 20%, �nibus. Entre as vans ilegais, 3,6 mil fazem o transporte universit�rio, o equivalente ao n�mero de �nibus do transporte metropolitano”, admite Baeta. Mas os problemas n�o se restringem aos ve�culos. Segundo o representante do DER, os motoristas clandestinos normalmente n�o preenchem os requisitos estabelecidos pelo C�digo de Tr�nsito Brasileiro (CTB). “Para fazer esse tipo de transporte, � muito importante que o condutor esteja preparado”, afirma.
Para obter autoriza��o do DER, o motorista deve ter acima de 21 anos, ser habilitado na categoria D, n�o ter cometido nenhuma infra��o grave ou grav�ssima e n�o ser reincidente em infra��es m�dias em 12 meses, al�m de ser aprovado em cursos exigidos pelo Conselho Nacional de Tr�nsito (Contran). Tamb�m s�o exigidos documentos como certid�o negativa criminal, cadastro na Secretaria de Estado da Fazenda e comprovante de quita��o com a Previd�ncia Social. O ve�culo deve atender a uma s�rie de requisitos, como passar por inspe��o semestral, ter tac�grafo que registre a velocidade e seguro que cubra as pessoas transportadas.
A universit�ria Kariny Santiago Costa Assis, de 33 anos, de Pitangui, no Centro-Oeste do estado, estuda em Divin�polis. Ela n�o sabe se a empresa que contratou � legalizada, mas aponta falhas que refor�am seu medo da estrada. “Nem sempre os ve�culos s�o de boa qualidade. Quando chega sexta-feira, a empresa coloca os �nibus novos para levar romeiros a Aparecida do Norte (SP) ou a outras viagens de turismo e deixa a gente com ve�culos com pneus carecas, sem banheiro e at� sem cinto de seguran�a”, reclama a estudante, que paga R$ 160 mensais pelo servi�o.
BLITZES E APREENS�ES Jo�o Afonso Baeta disse que o DER-MG tem intensificado a fiscaliza��o para combater o transporte clandestino. De janeiro at� o in�cio deste m�s, segundo ele, foram abordados 126.681 ve�culos. Do total, 9.544 foram retidos para algum tipo de regulariza��o e 2.961 foram apreendidos. “Eles s�o retirados de circula��o, mas pagam as multas e outras d�vidas e voltam para o transporte clandestino. A primeira multa � de R$ 1.250,80 e a partir da segunda o valor dobra. Muitos motoristas n�o aguentam pagar as multas e acabam desistindo”, disse Baeta. Este ano, informou, j� foram feitas 5.071 blitzes nas rodovias do estado.
Mas, mesmo quando a fiscaliza��o funciona, ela representa transtorno para quem enfrenta uma via-sacra di�ria para estudar. Foi o que comprovou Clarissa Teixeira Figueiredo, de 22 anos, moradora de Sete Lagoas, na Regi�o Central. Estudante do �ltimo per�odo de publicidade na PUC Minas Cora��o Eucar�stico, em BH, ela conta que j� foi deixada no meio da estrada quando a van que a transportava foi apreendida pelo DER, por falta de documenta��o. “O motorista ainda n�o tinha a lista completa com todos os passageiros cadastrados. N�o conseguiu provar que o transporte era regular”, disse a estudante. “Mandaram todo mundo descer da van. Muitos seguiram a p� e outros pegaram �nibus na estrada para voltar para casa”, disse Clarissa, que hoje s� anda em ve�culo legalizado.
A estudante conta que seu medo de viajar aumentou depois de presenciar um grave acidente na BR-040 envolvendo dois �nibus. “O socorro ainda n�o tinha chegado. Era muita gente machucada. O motorista curioso ficou olhando o acidente e fechou a nossa van, que foi parar no acostamento e quase sofremos um acidente tamb�m”, disse Clarissa.
O motorista de van Luiz Ant�nio de Oliveira, de 67, est� nas estradas h� 40 anos e conta que nunca enfrentou tantos riscos como agora. Ele transporta um grupo de estudantes de Sete Lagoas para Belo Horizonte e se diz assustado com a irresponsabilidade de outros condutores. “A BR-040 � muito perigosa e n�o temos nenhuma fiscaliza��o. Os caminh�es andam a 160km/h.
Mem�ria
Sonhos atropeladosna curva da estrada
Quase cinco anos depois da trag�dia que matou o motorista de uma van universit�ria, quatro estudantes e feriu 13 pessoas na BR-381, em Caet�, Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, a auxiliar administrativa Tamires �gela Silva, de 26 anos, que era passageira, n�o consegue se livrar das lembran�as, que sempre voltam como um pesadelo. N�o foi um epis�dio isolado. Em junho de 2011, um �nibus escolar de Entre Rios de Minas, no Campo das Vertentes, foi arrastado por um trem, matando tr�s pessoas e deixando mais de 30 feridos. Em mar�o deste ano, a estudante de administra��o J�ssica de Souza, de 21 anos, moradora de Po�os de Caldas, Sul de Minas, morreu em consequ�ncia de acidente voltando da universidade. A van que a transportava com outros 14 alunos capotou.