Fl�via Ayer

Uma sombra azul invadiu as ruas e avenidas de Belo Horizonte, com o aumento de 78% no n�mero de quarteir�es e 70% de vagas ocupadas por estacionamento rotativo na �ltima d�cada. J� presente em quatro das nove regionais de BH, a restri��o ocupa quase integralmente a �rea limitada pela Avenida do Contorno. O crescimento vem a reboque da explos�o da frota de ve�culos, que dobrou nos �ltimos 10 anos, e impulsiona outro movimento. Em busca de vagas gratuitas, motoristas tra�aram rotas para fugir do Faixa Azul e transformaram ruas tranquilas de bairros nos limites da Contorno em enormes estacionamentos � c�u aberto. E nesses locais, vale tudo: parar na esquina, em porta de garagem e at� mesmo em cima do passeio.
Ainda este m�s a BHTrans vai ampliar o sistema de Faixa Azul no Barro Preto, uma das principais �reas comerciais da Regi�o Centro-Sul. Atualmente, 789 quarteir�es s�o ocupados pelo rotativo, contra 441 em 2003. No mesmo intervalo, as vagas passaram de 12.153 para 20.722, dando 92.622 oportunidades de estacionamento para os motoristas. O aumento � de 44% em rela��o h� 10 anos, quando havia 64.032 oportunidades para estacionar. Os dados s�o da BHTrans. Ao custo de R$ 3,10, o motorista tem o direito de permanecer estacionado por 1 hora, 2 horas ou 5 horas nas vagas.
Mas tem muita gente preferindo gastar sola de sapato a p�r a m�o no bolso, alterando a rotina pacata de bairros residenciais nos limites da Avenida do Contorno, por onde circulam 500 mil ve�culos diariamente. Os motoristas chegam antes das 8h, deixam os carros e s� retornam perto das 18h, depois do expediente. S�o quarteir�es inteiros com ve�culos de fora a fora, em frente a casas e pr�dios residenciais. “Aqui era uma ilha de sossego e a gente n�o tem paz mais. J� tive que esperar mais de tr�s horas pelo guindaste para tirar um carro da frente da minha garagem”, desabafa a moradora da Rua Marquesa de Alorna, no Bairro Serra, Regi�o Centro-Sul, Vera Domingos, de 43 anos.
LEIS DESRESPEITADAS
Na Serra, a disputa � t�o acirrada que h� quem opte por parar na esquina e na contram�o, desafiando as leis de tr�nsito. A situa��o � mais cr�tica nas �reas pr�ximas � Rua do Ouro. “�s 8h j� n�o h� mais vaga na regi�o. Minha irm� trabalhava na Pra�a da Savassi e vinha estacionar aqui”, conta Dalton J�nior, de 40, funcion�rio de uma empresa na Serra. O programador de sistema Flaviano Leite Ribeiro, de 31, trabalha no Funcion�rios, mas prefere caminhar tr�s quarteir�es e parar na Serra, em vez de parar em estacionamentos particulares ou usar o Faixa Azul. “Melhor economizar. Se o transporte p�blico de Ribeir�o das Neves para BH fosse melhor, eu at� viria de �nibus”, confessa Flaviano.
Apesar da sinaliza��o proibindo estacionar na esquina das ruas Visconde de Taunay e Carlos Antonini, no Bairro S�o Lucas, na Centro-Sul, a um quarteir�o da Contorno, para acabar com a amola��o, foi preciso por uma placa lembrando motoristas de respeitar as leis de tr�nsito. A circula��o fica comprometida com carros estacionados dos dois lados das ruas, estreitas. � o que ocorre tamb�m no Gutierrez, na Regi�o Oeste. “Aqui era muito tranquilo e a gente at� sabia de quem eram os carros parados na rua”, conta o aposentado Normando Pongetti, de 81 anos, morador da Rua Holanda Lima, na esquina com Marechal Hermes, a um quarteir�o da Contorno. H� cerca de dois anos, para receber visita da filha, s� se ela embicar na porta ou a garagem estiver desocupada.
A movimenta��o, geralmente, chega acompanhada de problemas como o aumento da viol�ncia. “�s 3h da tarde, quebram vidros dos carros”, conta Rosane Froede, de 51, moradora da Rua Almandina, que corta a Avenida do Contorno, no Bairro Santa Tereza, Regi�o Leste. Tem gente que se queixa tamb�m de preju�zos. S�cio de uma oficina na Rua C�ssia, no Bairro Prado, Regi�o Oeste, o pintor automotivo Lindonor Stuart, de 59, conta que com a implanta��o de rotativos perto dos hospitais Fel�cio Rocho e Odete Valadares, h� cerca de dois anos, funcion�rios e pacientes descobriram as ruas do Prado como alternativa. “V�rios comerciantes foram embora por causa disso. Os clientes n�o t�m lugar para estacionar”, diz.
Avan�o do rotativo
2003 2013
Quarteir�es 441 789
Vagas f�sicas 12.153 20.722
Vagas rotativas 64.032 92.622
Localiza��o das vagas pagas
Centro 15,8%
Hospitalar 15,6%
Barro Preto 14,0%
Savassi 13,8%
Funcion�rios 12,9%
Assembleia 10,6%
Lourdes 10,2%
Cidade Jardim 2,3%
Mangabeiras 1,6%
Belvedere 1,4%
Barreiro 0,7%
S�o Pedro 0,5%
Floresta 0,4%
Venda Nova 0,2%
O estacionamento rotativo foi criado em BH em 1967, mas a implanta��o do sistema teve in�cio em 1976
De acordo com a BHTrans, a implanta��o ocorre em locais onde a quantidade de ve�culos que necessitam estacionar � maior que o n�mero de vagas dispon�veis. A inten��o do sistema � garantir rotatividade
A BHTrans estuda �reas para implanta��o do rotativo a partir de solicita��o da popula��o. A empresa analisa a quantidade e o tempo de perman�ncia dos ve�culos nas ruas em cada quarteir�o
Especialistas dizem que prioridade � de carros
O avan�o do estacionamento rotativo na capital e a fuga dos motoristas para encontrar vagas em bairros sem o sistema s�o consequ�ncias naturais numa cidade que priorizou os ve�culos particulares, em detrimento do transporte p�blico, na avalia��o de especialistas. “Os carros t�m que ocupar algum espa�o e � o rotativo que garantiria a rotatividade”, afirma o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Paulo Rog�rio Monteiro, mestre em engenharia de transportes e tr�nsito.
Para tratar essa quest�o, segundo Monteiro, o ideal seria garantir o m�nimo de qualidade para quem optasse por n�o usar carro. “� preciso restringir o acesso a autom�vel, mas tamb�m dar op��o ao usu�rio”, afirma. Tamb�m professor da UFMG, o p�s-doutor em engenharia de transportes Nilson Nunes aponta que o aumento dos rotativos � o esperado. “Com o crescimento da frota, n�o tem jeito de evitar isso. O rotativo pretende democratizar o acesso �s vagas”, pontua, lamentando o mau uso do modelo. “Vemos muitas pessoas que deixam o carro o dia inteiro na vaga”, diz.
O corretor de im�veis Ramon Campos, de 36, � um dos motoristas que fogem do rotativo e acabam andando mais para estacionar. Ele trabalha na Avenida do Contorno, no Bairro Santo Ant�nio, na Regi�o Centro-Sul, e costuma parar o carro a mais de tr�s quarteir�es do local de servi�o. “Para quem vai trabalhar as ruas de fundo s�o a melhor op��o. Mas, dependendo do dia, gasto mais tempo procurando vaga do que se viesse de �nibus”, conta Ramon, que s� n�o abandonou o carro porque o usa para visitar clientes.
O comandante do Batalh�o de Tr�nsito da Pol�cia Militar, tenente-coronel Edvaldo Piccinini, diz desconhecer a sobrecarga de estacionamentos nos bairros adjacentes � Avenida do Contorno, mas ressalta que a fiscaliza��o em rela��o a estacionamento e aos rotativos � r�gida em toda a cidade. “Fazemos isso de forma rotineira e infra��es de estacionamento proibido s�o as campe�s. A 1ª Companhia atua especificamente no per�metro da Contorno e a 2ª Companhia apenas nos bairros”, explica Piccinini.
BARRO PRETO
Atendendo pedido de comerciantes, a BHTrans vai aumentar o n�mero de rotativos no Barro Preto, polo de moda da capital, na Regi�o Centro-Sul. O bairro j� concentra 14% das vagas rotativas da cidade e, ainda este m�s, chegar� a 1.993 oportunidades de estacionamentos para ve�culos. Em 18 quarteir�es que j� contam com o controle, o tempo de perman�ncia ser� reduzido. Al�m disso, ser�o criadas 98 vagas f�sicas, em dois quarteir�es das ruas Alvarenga Peixoto e Tenente Brito Melo.