
Em consequ�ncia do grande volume de chuva acumulado no m�s, o Natal foi de destrui��o e medo para muitos belo-horizontinos. Na Rua Cabo Verde, no Bairro Cruzeiro, Regi�o Centro-Sul da capital, o asfalto afundou mais de um metro desde a noite anterior e o muro de arrimo de um pr�dio em constru��o amea�a desabar, levando junto parte da via e amea�ando im�veis vizinhos. No Bairro Piraj�, Nordeste de BH, a estrutura de um edif�cio vizinho a uma �rea em constru��o sofreu desmoronamento parcial. Tanto o im�vel atingido quanto um vizinho foram interditados. Na Rua Teresa Mota Valadares, no Buritis, Regi�o Oeste, parte de um terreno cedeu e assusta moradores de um pr�dio. Houve preju�zos tamb�m na Grande BH. Em Sabar�, uma casa desabou, ferindo duas pessoas. V�rios barrancos deslizaram e mais de 30 casas haviam sido interditadas at� a tarde de ontem.
No Cruzeiro, moradores de tr�s edif�cios est�o apreensivos e muitos foram para casas de parentes temendo uma trag�dia. O medo de que o muro de arrimo ceda fez com que a maioria moradores dos pr�dios nos n�meros 308 , 297 e 289 deixassem seus apartamentos. Depois de vistoria t�cnica, feita na tarde de ontem pelo engenheiro Euler Magalh�es, da Associa��o Brasileira de Mec�nica do Solo (AMBS), considerado um dos maiores especialistas do pa�s nesse tipo de trabalho, o coordenador municipal de Defesa Civil, Alexandre Lucas Alves, informou que os moradores poderiam permanecer em seus apartamentos.
O especialista confirmou que ocorreu um acidente de engenharia, embora tenha dito que � necess�rio investigar as causas. Segundo ele, um processo de instabilidade no terreno acarreta trincas em dire��o aos pr�dios nos n�meros 297 e 289. Os riscos ser�o monitorados 24 horas por dia para que, na imin�ncia de desabamento, as fam�lias que permanecem ao local possam ser retiradas. Como o muro da obra em andamento pode tombar, a Defesa Civil, orientada por Euler Magalh�es, determinou que seja providenciado um aterro em car�ter emergencial.
No dia em que a terra come�ou a deslizar, na tarde de ter�a-feira, os moradores da Rua Cabo Verde haviam sido orientados por bombeiros a deixar o local, mas a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) n�o interditou os im�veis. Apesar dos estragos na rua, as estruturas dos pr�dios aparentemente n�o haviam sido afetadas.

O engenheiro da Comdec Eduardo Pedersoli avaliou que os pr�dios n�o correm risco de desabamento. Mas fez um alerta: “Se o muro de arrimo desabar, a situa��o piora”. Os vizinhos t�m permiss�o de continuar em suas casas, mas devem passar a noite fora, por quest�o de seguran�a. “A per�cia vai avaliar se a obra � respons�vel pelos danos. Ela j� vinha causando interfer�ncia na rua antes”, refor�ou Eduardo.
Os bombeiros isolaram toda a rua em frente ao terreno e apenas o passeio do outro lado est� liberado para passagem de pedestres. Sacos de areia foram colocados para desviar a �gua da enxurrada. Ter�a-feira, um poste da Cemig amea�ava cair e foi transferido. Os moradores ficaram sem energia at� as 22h. Ontem, um segundo poste amea�ava cair.
O propriet�rio da construtora Edifica, Rog�rio Valadares, admitiu que a obra j� havia sido notificada, mas disse que o problema foi sanado. Ele informou que far� as obras emergenciais de conten��o do terreno e colocar� uma m�quina para fazer escava��es onde ele cedeu, a fim de identificar as causas do deslizamento. Para ele, podem ser problemas relativos � drenagem ou � rede esgoto na regi�o.
Moradores vizinhos, no entanto, acusam a construtora de negligenciar sinais de que a obra n�o estava de acordo com as caracter�sticas do terreno. “Eles n�o fizeram um estudo apropriado da regi�o, que � conhecida por ter minas de �gua”, afirmou Samuel Albuquerque, de 30 anos, morador de um pr�dio ao lado dos que est�o em risco.
A garantia da Comdec de que os edif�cios n�o correm risco n�o convenceu os moradores. A banc�ria aposentada Maria do Carmo Neves, de 62, foi a �nica a passar a noite, com dois filhos, no apartamento, na esquina com Muzambinho. “Chovia muito. Passei a madrugada inteira apreensiva, na janela. N�o tivemos Natal”, reclamou.
Defesa civil ignora chamado
A lateral de um terreno em obras deslizou ontem e provocou a destrui��o parcial de um im�vel vizinho, no Bairro Piraj�, Regi�o Nordeste de BH. No n�mero 122 da Rua Am�rico Campolina Resende, um pr�dio de tr�s andares perdeu parte do muro de divisa com o terreno, o corredor que levava a uma �rea nos fundos e a escada de acesso aos pavimentos superiores, al�m de ter os pilares de sustenta��o das varandas abalados. A Defesa Civil municipal interditou n�o apenas o edif�cio, que tem alto risco de ruir, mas tamb�m o im�vel no n�mero 50, que pode ser atingido se houver desabamento. Ao menos tr�s pessoas ficaram desalojadas. O �rg�o confirma que foi alertado sobre o perigo, mas informou n�o ter enviado agentes ao local por ter dado prioridade a outras solicita��es.
O im�vel no n�mero 122 pertence a dois irm�os. O aposentado Vicente de Paula Batista, de 51 anos, mora no t�rreo, enquanto o funcion�rio p�blico Edison Batista, de 41, vive no terceiro pavimento – o segundo estava desocupado. Por voltar das 6h de ontem, eles acordaram com o grande estrondo provocado pela queda de parte do edif�cio. Vicente conseguiu sair com facilidade. O irm�o foi �s pressas para o segundo andar, mas percebeu que a escada que conduz ao t�rreo tamb�m havia ca�do. “Fiquei em p�nico, com medo de que o pr�dio inteiro come�asse a desmoronar”, contou. O barulho acordou vizinhos, e um deles ajudou Edison com uma escada. Ele desceu com uma mala, �nico pertence que carregou.
No terreno cujo talude deslizou ser� erguido um edif�cio residencial de 12 pavimentos. A construtora respons�vel, Pro Domo, � acusada pelos irm�os de n�o ter feito a estrutura de conten��o. “Tivemos o azar de ter tido essa chuvarada. A construtora assumiu toda a responsabilidade e disse que vai disponibilizar um apartamento para eu morar, por enquanto”, disse Vicente. Edison demonstrava mais aborrecimento, mas admitia uma poss�vel negocia��o. “Eles cavaram o terreno e deviam ter feito a conten��o. Botaram uma estrutura de madeira, mas n�o preencheram com concreto. Alertamos que ia deslizar. Quiseram adiantar o lado deles e fizeram pouco caso do nosso im�vel”, queixou-se ele, que pretendia ficar na casa da m�e at� tudo se resolver.
Al�m de terem de deixar o pr�dio, Edison e Vicente foram notificados pela Defesa Civil a contratarem profissional habilitado a realizar laudo t�cnico sobre a estrutura do im�vel e as poss�veis causas do incidente. Em 23 de dezembro, Edison relatou o risco de deslizamento ao �rg�o municipal, que, por meio de sua assessoria de imprensa, confirma ter registrado a solicita��o de vistoria. O funcion�rio p�blico informou que parte do muro de divisa com o terreno j� havia ca�do e o restante tinha v�rias trincas, segundo a assessoria.
Em nota, a Defesa Civil admite que n�o foi ao local e alega que “atende as solicita��es por ordem de prioridade”. Nos �ltimos dias, “devido ao grande volume de chuvas na capital, foi registrada grande quantidade de solicita��es, que est�o sendo atendidas por todas as equipes durante as 24 horas do dia”, prossegue a texto. O �rg�o pede para a popula��o “adotar imediatas a��es de prote��o individual at� que as vistorias e avalia��es possam ser realizadas”. Nenhum representante da construtora Pro Domo foi encontrado para comentar o assunto.No Bairro Cabana do Pai Tomaz, Regi�o Oeste da capital, uma pedra se soltou de um barranco e rolou at� atingir uma casa de tr�s andares.
Por volta das 2h de ontem, o jardineiro Jo�o Louren�o da Costa, de 47, e sua mulher, M�rcia do Carmo, de 43, moradores do primeiro pavimento, acordaram com o barulho do choque, que deixou v�rias trincas na parede da cozinha. A ocorr�ncia foi atendida por t�cnicos da Regional Oeste, que recomendaram os moradores a n�o pernoitarem na casa. A Companhia Urbanizadora e de Habita��o de Belo Horizonte (Urbel) deve vistoriar o im�vel hoje.
BURITIS
Moradores do pr�dio no n�mero 209 da Rua Teresa Mota Valadares, no Buritis, Regi�o Oeste, tamb�m est�o assustados. A terra em um lote vizinho cedeu e parte da garagem do condom�nio amea�a cair. O banc�rio Rodrigo Morais, de 34, conta que a construtora respons�vel por uma obra em frente, no n�mero 246, cortou parte de um barranco ao lado do seu pr�dio para montar um barrac�o para escrit�rio e colocar um cont�iner. “Quinta-feira, eles desocuparam o terreno e j� havia uma eros�o debaixo do muro do meu pr�dio. Chamamos a Defesa Civil e eles pediram para isolar o local. Hoje (ontem), eu acordei com uma �rvore ca�da no meio da rua e mais um peda�o do terreno cedeu, expondo o alicerce do nosso muro”, disse.