
A hist�ria do carnaval de Belo Horizonte d� samba. E no enredo n�o podem faltar fantasias, confetes e as sucessivas mudan�as no endere�o da folia, que come�ou no ver�o de 1897 antes de a capital ser inaugurada. Como ningu�m � de ferro, trabalhadores sa�ram �s ruas poeirentas para brincar e tomar umas e outras at� o sol raiar. O povo tomou gosto pela farra e, j� na primeira d�cada do s�culo passado, surgiram as grandes sociedades com seus carros aleg�ricos, conta o pesquisador Marcos Maia, formado em hist�ria na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Agora, com a volta do desfile oficial de escolas de samba e blocos caricatos � Avenida Afonso Pena, no Centro, a trajet�ria de ritmo, lantejoulas e serpentinas ganha novos contornos, entusiasmando os s�ditos do Rei Momo.
As mudan�as no local dos desfiles contradizem a tradi��o da capital para o samba, diz Marcos Maia, lembrando que, ao longo do s�culo 20, eles sempre ocorreram nas vias centrais – os primeiros foram na Avenida Jo�o Pinheiro e Rua da Bahia. “Mas a hist�ria do carnaval de BH � tamb�m de resist�ncia. O atual n�mero de bloco arrastando milhares de pessoas, com a explos�o em 2013 de forma espont�nea, mostra que a brincadeira est� mais viva do que nunca e mant�m a voca��o dos belo-horizontinos para a festa em espa�os p�blicos”, afirma o pesquisador.
Quem for compor um samba-enredo sobre essas idas e vindas ter� que fazer, necessariamente, rever�ncia �s d�cadas de 1920 e 1930, quando as grandes agremia��es sa�ram de cena para dar lugar ao corso ou desfiles de carros ornamentados. “A brincadeira era t�pica das fam�lias”, explica o pesquisador. Como criatividade e agita��o n�o t�m limites, os moradores criaram, na mesma �poca, os cord�es ou grupos fantasiados, que podem ser considerados, guardadas as devidas propor��es, os “vov�s” dos atuais bloquinhos, respons�veis por dar corpo e alma novos ao carnaval da cidade. Conforme reportagem do Estado de Minas, “os corsos partiam da Pra�a Rio Branco, em frente � Feira de Amostras (j� demolida) at� a �lvares Cabral (…). Os que tiveram oportunidade de conhecer o descrevem como sendo a vida do carnaval de rua, � noite, de Belo Horizonte”.
Ainda na d�cada de 1930, os blocos caricatos, genuinamente belo-horizontinos, sa�ram dos bairros para animar a popula��o e, na sequ�ncia, chegou a hora de as escolas de samba, inspiradas no carnaval carioca, mostrar sua ginga. A pioneira a desfilar foi a Pedreira Unida, formada por moradores da Pedreira Prado Lopes, na Regi�o Noroeste.
At� os anos 1970, os clubes “bombavam”, com bailes movidos ao som das marchinhas; faiscantes, com fantasias, trajes de gala e m�scaras coloridas; e refrescantes, com o tubo de lan�a-perfume Rodouro, esguichado nas costas dos foli�es – ou cheirado discretamente pelos moderninhos. Mas o povo gostava mesmo � de rua. Em 1975, a Banda Mole primou pela irrever�ncia e deu uma turbinada na folia, fazendo a linha “vai de qualquer jeito”, embora sem atravessar o samba ou desafinar na gandaia.
PASSARELAS Institu�do pelo Decreto Municipal 3.676, o desfile oficial das escolas de samba e blocos caricatos come�ou em 1980 na Avenida Afonso Pena e permaneceu nessa passarela por 10 anos. Com o fim, muita gente achou que BH tinha se transformado, como S�o Paulo, em t�mulo do samba. Para n�o perder o pique, as administra��es regionais promoveram bailes populares, de olho principalmente nas crian�as e terceira idade. Em 2004, os desfiles foram levados para a Via 240, na Regi�o Norte, e, seis anos depois, transferidos para o Bulevar Arrudas, na Regi�o Centro-Sul, at� que, em 6 de dezembro passado, um entendimento entre Belotur/Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), escolas de samba e blocos permitiu o retorno do desfile � Afonso Pena.

Satisfeita com a novidade, a presidente da Associa��o da Velha Guarda do Samba de BH, L�cia Santos, de 67 anos, se orgulha de nunca ter perdido um desfile. “Vou para a arquibancada e tor�o muito”, diz a moradora do Bairro Planalto, na Regi�o Norte, que, em julho, gravou o CD Dama mineira do samba. Para L�cia, que ainda n�o decidiu em qual escola vai desfilar –“vai ser surpresa” –, o carnaval na Afonso Pena � importante e necess�rio. “Quando os desfiles deixaram de ser realizados, a gente ficou perdida e a cidade, morta. Nasci no samba e sei que o carnaval � um momento alegre. Nos anos 1980, vinha gente do Rio de Janeiro desfilar aqui, havia estrangeiros nas arquibancadas aplaudindo e belos figurinos nos destaques.”
Certo de que a folia � paix�o que nasce com o sambista, o presidente da tricampe� Canto da Alvorada, Carlos Alberto Damasceno, tamb�m festeja a volta. “Isso mostra que estamos evoluindo. A avenida recupera os anos dourados do nosso carnaval”, acredita. E mais: “Todas as vezes que mudam o local do desfile, a nossa escola ganha o carnaval de BH”, diz o dirigente com a experi�ncia de quem “brinca no asfalto” h� mais de 30 anos. Com o reino de Momo se aproximando, Carlos Alberto est� dividido entre o trabalho e o barrac�o da escola, no Bairro Cabana, na Regi�o Oeste. E n�o perde a vontade de vencer novamente num cen�rio de tradi��o.
ELEI��O DA CORTE MOMESCA
Hoje tem elei��o da corte momesca, evento que abre oficialmente a folia. Quarenta e um concorrentes disputam os t�tulos de rei, rainha e princesa do carnaval de Belo Horizonte, numa festa promovida pela PBH, via Belotur, que come�a �s 20h, no Music Hall (Avenida do Contorno, 3.239, perto da Pra�a Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efig�nia). Os eleitos (rei e a rainha) receber�o o pr�mio de R$ 5 mil, enquanto a princesa, de R$ 3 mil. A corte estar� � frente da programa��o oficial e ser� embaixadora da folia belo-horizontina. Haver� apresenta��o de Gustavo Magu�, com participa��o especial da cantora Aline Calixto, e da bateria show do bloco caricato Academia do Samba por Acaso.
LINHA DO TEMPO
1897 – Foli�es fazem o seu carnaval em Belo Horizonte, antes mesmo da inaugura��o da capital
D�cada de 1910 –Come�a o desfile das grandes sociedades, que sa�am com carros aleg�ricos – na verdade, caminh�es – pelas ruas da cidade
D�cada de 1930 –Escola de Samba Pedreira Unida, formada por moradores da Pedreira Prado Lopes, � a primeira agremia��o a desfilar em BH
1975 – Banda Mole faz sua estreia no Carnaval de Belo Horizonte
1980 –Escolas de Samba e blocos caricatos saem pela primeira vez na Avenida Afonso Pena. Desfile oficial do carnaval foi institu�do pelo decreto municipal 3.676/1980
1990 – Blocos caricatos e escolas de samba desfilam pela �ltima vez na Avenida Afonso Pena
2004 – Desfile das escolas de samba � transferido para a Via 240, na Regi�o Norte
2011 – Desfile das escolas de samba � transferido para o Bulevar Arrudas, na Regi�o Centro-Sul
2013 – Em 6 de dezembro, entendimento entre Belotur/PBH, escolas de samba e blocos leva de volta o desfile para a Avenida Afonso Pena