Valquiria Lopes
Depois de 46 anos dedicados � Par�quia Nossa Senhora do Carmo, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, frei Cl�udio van Balen, de 80 anos, n�o tem sua perman�ncia assegurada � frente das celebra��es naquela igreja. A d�vida surgiu ontem, depois que um grupo de fi�is impediu a realiza��o da missa das 11h – tradicionalmente rezada pelo frade – porque ele n�o estava presente. Cerca de 900 pessoas gritaram em coro chamando seu nome, assoviando e batendo nos bancos.
Frei Cl�udio estava ausente porque a celebra��o marcaria a transfer�ncia do cargo de p�roco da Igreja do Carmo para o padre Wilson Fernandes, de 31. Ele substitui frei Evaldo Xavier, de 47, eleito na quinta-feira para provincial da Ordem Carmelita, � qual pertence a par�quia. De acordo com a Arquidiocese de Belo Horizonte, frei Cl�udio apenas n�o comandaria a missa de ontem. Entretanto, fi�is temem que ele deixe de celebrar na igreja, pois vinha sendo afastado de suas atividades por ter ideias consideradas conflitantes com as de seus superiores.
Depois da confus�o, cerca de 120 fi�is, que discordaram do protesto, assistiram � missa rezada no sal�o paroquial por frei Evaldo. A maioria preferiu deixar a igreja, cujas portas foram fechadas por volta das 11h30. A Pol�cia Militar foi chamada, mas n�o houve registro de agress�es.
De acordo com frei Evaldo Xavier, foi combinado que o colega celebraria a missa das 8h, cedendo-lhe o hor�rio das 11h. A mudan�a dividiu os fi�is. Presente � celebra��o, a psic�loga Raquel Nogueira Duarte, de 32, contou que as pessoas, al�m da desconfian�a de que o frade vem sendo paulatinamente afastado, sentiram-se desrespeitadas por n�o terem sido avisadas da aus�ncia dele.
“Foi uma falta de respeito. Poucos sabiam que frei Cl�udio n�o estaria no altar. Muita gente vem �s 11h justamente porque a missa � celebrada por ele”, disse Raquel, destacando que o frade leva aos fi�is a mensagem de inclus�o social das minorias e de respeito � diversidade.
O casal F. A., de 28, e J. C, de 25, que mora no Bairro Santo Ant�nio e frequenta a Igreja do Carmo h� dois anos, defende a perman�ncia de frei Cl�udio. “Ele se posiciona frente a temas da atualidade e se aproxima das pessoas. � disso que a gente precisa”, diz a m�dica J., que prefere n�o revelar sua identidade. A aposentada M., de 76, presenciou o protesto e o considerou “uma agress�o aos preceitos da Igreja Cat�lica”. Para ela, nada havia de errado com a missa das 11h, que apresentaria novos sacerdotes. “Foi um ato profano, uma heresia”, afirmou.
Reuni�o
Desapontado com a postura dos fi�is, frei Evaldo informou que haver� uma reuni�o com frei Cl�udio e outros integrantes da par�quia para discutir se ele deve permanecer respons�vel pelas missas das 11h no domingo e das 19h na sexta-feira. “Em toda a minha vida, nunca vi uma atitude t�o agressiva e fan�tica dentro da Igreja. N�o h� disputa interna. A Igreja � para fazer bem �s pessoas. Se elas est�o se manifestando agressivamente, � porque n�o exercem a espiritualidade de amor, fraternidade e f�”, comentou o frade. De acordo com ele, apesar de n�o celebrar, frei Cl�udio foi convidado a participar da missa. “Lamento que ele n�o estivesse presente, porque poderia ter ajudado a evitar tal viol�ncia contra a Igreja”, desabafou.
Frei Claudio van Balen n�o se manifestou. “N�o estava presente nem vi o que ocorreu. Prefiro n�o comentar”, afirmou. De acordo com a assessoria de imprensa da Arquidiocese de Belo Horizonte, n�o haver� mudan�as no sentido de afastar o frade das celebra��es.