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Estado de Minas

Sul de Minas est� cada vez mais na mira dos criminosos

Pol�cia confirma 53 ataques a caixas eletr�nicos no Sul de MG em 2013, mas n�mero pode ser maior. Integrantes de organiza��o criminosa paulista s�o os respons�veis


postado em 24/02/2014 00:12 / atualizado em 24/02/2014 06:34

Pedro Rocha Franco - Enviado especial

Policiamento reforçado em Itamonte depois do confronto da madrugada de sábado. Ontem à noite, o sequestro de um morador da cidade por dois homens armados mobilizou a PM e a Polícia Civil na região (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Policiamento refor�ado em Itamonte depois do confronto da madrugada de s�bado. Ontem � noite, o sequestro de um morador da cidade por dois homens armados mobilizou a PM e a Pol�cia Civil na regi�o (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Itamonte – O ataque frustrado de uma quadrilha especializada em explos�es de caixas eletr�nicos em Itamonte na madrugada de s�bado, que culminou com a morte de nove suspeitos e a pris�o de quatro, depois de um intenso tiroteio com policiais de Minas Gerais e S�o Paulo, n�o foi uma a��o isolada. Dados da Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais (Seds-MG) revelam que os munic�pios mineiros localizados no Sul do estado se tornaram alvo frequente de grupos criminosos paulistas. De acordo com esse levantamento, de janeiro a novembro do ano passado, foram registrados nada menos que 53 roubos com uso de explosivos a ag�ncias banc�rias da regi�o. Este n�mero pode ser ainda maior, pois a Seds considera apenas as a��es criminosas que resultaram em roubo de dinheiro. Em off, fontes falam em pouco menos de 80 ataques ao longo de 2013.

As investiga��es para apurar as circunst�ncias do confronto de s�bado apontam que os grupos respons�veis pelas explos�es est�o ligados � maior organiza��o criminosa do pa�s, com forte atua��o em S�o Paulo. Aproveitando a proximidade com o interior paulista, os criminosos aterrorizam a regi�o para capitalizar o bando. Apesar de os investigadores manterem sigilo sobre o inqu�rito, o quebra-cabe�a montado pela Pol�cia Civil de Minas Gerais em parceria com o Departamento Estadual de Investiga��es Criminais (Deic) da Pol�cia Civil de S�o Paulo, unidade especializada no combate �s organiza��es criminosas, indica que uma ramifica��o da quadrilha agia em Minas.

Em Pindamonhangaba, interior de S�o Paulo, distante 142 quil�metros de Itamonte, a pol�cia prendeu em flagrante Thiago Aikana Padilha. Ele teria relatado fazer parte da organiza��o criminosa. Preso em Aruj�, tamb�m em S�o Paulo, Alfredo Luiz Mancini tamb�m esteve em Minas e em seu poder a pol�cia encontrou notas manchadas de tinta, fruto de um assalto anterior. Conhecido como Alem�o, ele � apontado pelos policiais como um dos olheiros da quadrilha e foi visto tr�s dias antes em Pouso Alto, cidade vizinha, em um Vectra preto. No mesmo dia, numa a��o incomum para a regi�o, fogos de artif�cio explodiram durante o dia. A a��o pode ter sido um ato de comunica��o entre os integrantes do bando. Alem�o � suspeito de participar de quase uma dezena de outros crimes. Os dois foram transferidos para a Penitenci�ria Nelson Hungria.

Al�m deles, dois homens foram presos depois de serem feridos no tiroteio de s�bado. Marcos Siqueira Rubim foi atingido no peito e numa das n�degas e Jo�nio Varela de Ara�jo foi baleados no peito e no joelho. Ambos j� deixaram o hospital e foram transferidos para a cadeia de S�o Louren�o. A delegada titular da comarca de Itamonte, respons�vel pelo inqu�rito que apura o confronto entre policiais e assaltantes, Camila Pacheco Monteiro, confirma que a Pol�cia Civil investiga a atua��o da organiza��o criminosa nos roubos a caixas eletr�nicos. De acordo com ela, a participa��o da quadrilha em ataques anteriores vai ser investigada. J� a Pol�cia Civil de S�o Paulo acredita que o bando tenha sido respons�vel por pelo menos 20 ataques a cidades do interior de MG e SP. O modus operandi � um dos fatores que podem indicar se todos os crimes foram cometidos pelo mesmo bando. O fato de eles terem atacado o pelot�o da PM como forma de intimida��o e o armamento usado podem ajudar na an�lise.

PROCURA DE PARENTES Outro detalhe que chamou a aten��o da pol�cia foi a presen�a quase que imediata em Itamonte de pessoas que se apresentaram como parentes dos mortos, antes mesmo de os nomes e os rostos dos mortos terem sido divulgados. Em um dos casos, uma mulher, acompanhada por dois homens, foi at� o pelot�o da PM para saber os nomes dos mortos. Ela se apresentou como ex-esposa de um dos criminosos e disse que ele estava desaparecido havia dois dias. Pelas fotos, ela n�o conseguiu fazer o reconhecimento. Em outra unidade da Pol�cia Militar, uma mulher, na companhia de um advogado, tamb�m buscou informa��es sobre os mortos no confronto com a pol�cia. Para os investigadores, a rapidez indica que pode se tratar de pessoas que sabiam da atua��o do bando em Itamonte.

Corpos dos mortos no tiroteio com a polícia foram liberados ontem para enterro. Parentes não quiseram comentar o assunto (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Corpos dos mortos no tiroteio com a pol�cia foram liberados ontem para enterro. Parentes n�o quiseram comentar o assunto (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
O policiamento na cidade foi refor�ado, pois h� o risco de uma retalia��o por parte de integrantes da organiza��o criminosa. O efetivo do pelot�o da cidade foi aumentado. Militares de Itajub� ficaram de prontid�o com armamento pesado em frente � unidade durante toda a noite. (Com informa��es de Landercy Hemerson e Shirley Pacelli)

V�tima investigada

Um dos nove mortos na troca de tiros com policiais em Itamonte pode ter sido sequestrado e morto pelos criminosos em fuga. A Pol�cia Civil est� investigando a possibilidade, embora uma mensagem no celular da v�tima levante a suspeita de que ela seria um contato dos assaltantes. O homem, o �nico dos mortos que mora na regi�o, � irm�o de dois policiais militares e estaria saindo da casa de sua namorada quando ocorreu o tiroteio. “Pode ser que ele estivesse no local errado na hora errada”, admitiu uma fonte policial. A hip�tese � de que o homem tenha virado ref�m do bando e morto logo depois. Ele era o �nico que n�o usava colete a prova de balas.


Viol�ncia chegou com progresso

Localizada no extremo Sul do estado, Itamonte � uma cidade tipicamente mineira, de gente simples e rotina entre as fazendas de leite e queijo e as atra��es tur�sticas da regi�o das �guas, composta por Caxambu, S�o Louren�o e munic�pios vizinhos. Mas esta rotina vem passando por mudan�as de uns anos para c�. O progresso bateu � porta, principalmente com a instala��o de um complexo industrial de material pl�stico. O desenvolvimento, que contribuiu para alavancar o PIB per capita do munic�pio de 13 mil habitantes, trouxe a tiracolo caracter�sticas de uma cidade grande para uma localidade sem a infraestrutura necess�ria, principalmente em termos de seguran�a.

Em novembro, tiros, ataque a caixas eletr�nicos e as amea�as de uma quadrilha bastante preparada fizeram os moradores viver o que veem se repetir em cidades pr�ximas de Rio de Janeiro e S�o Paulo. Mas, sem d�vida, o choque maior foi anteontem, com as cenas de um filme assustador que tem colocado em xeque a calmaria da Serra da Mantiqueira. Com a morte de nove criminosos, o filme terminou sob aplausos (possivelmente) un�nimes no munic�pio. Resta saber quais ser�o os pr�ximos cap�tulos.

Quando da invas�o do munic�pio, a cidade dormia. �s margens da BR-354, que corta a cidade de ponta a ponta, no Hotel Thomaz, o propriet�rio do estabelecimento, al�m do a�ougue e da floricultura ao lado, Marco Ant�nio Telles, havia encerrado a atividade do bar e restaurante horas antes. A troca de tiros e os gritos amea�adores logo o fizeram associar a confus�o com o ataque de tr�s meses antes, quando um bando armado sitiou o "quartel", como � chamado o pelot�o da Pol�cia Militar, e explodiu sete caixas eletr�nicos para roubar dois dos cinco bancos de Itamonte. Entre o medo e a curiosidade, ele diz ter se arrastado para a varanda do segundo andar do hotel, de onde foi uma das poucas testemunhas da troca de tiros. Um risco. Os tr�s im�veis de sua propriedade ficaram com as paredes muito marcadas pelos tiros de fuzis, pistolas, escopetas e metralhadoras.

De um lado, no posto de combust�vel da esquina, policiais atiravam contra os criminosos que se escondiam na esquina do lado oposto do hotel. Por aproximadamente 20 minutos – que, na pr�tica, podem ser mais ou menos devido � adrenalina da testemunha –, persistiu o fogo cruzado. At� um atirador de elite, posicionado estrategicamente em um cruzamento a quase 200 metros, ter acertado um tiro na cabe�a de um dos assaltantes e outro comparsa ter sido ferido na perna. As marcas por todos os lados e a viol�ncia da madrugada de s�bado aumentaram a freguesia do bar e "at� quem nunca entrou, desta vez, trouxe amigos e pediu uma pinguinha s� para ouvir a hist�ria", que, de t�o repetida, fez Telles dizer que, na verdade, estava viajando de moto naquela noite. Se muda algo na cidade depois das mortes? "N�s vamos ter mais paz de saber que nove criminosos morreram. Isso muda para o Brasil inteiro", diz ele.


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