
Black blocs, manifestantes e policiais se preparam para o primeiro grande protesto do ano contra a Copa do Mundo, amanh�, partindo da Pra�a Raul Soares, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. A menos de um m�s da competi��o, os dois lados podem entrar em confronto, trazendo � tona os fantasmas da Copa das Confedera��es, no ano passado, que deixaram cidad�os � merc� de bloqueios de tr�fego e batalhas campais com um rastro de destrui��o, dois mortos e um n�mero n�o contabilizado de feridos. A recomenda��o de especialistas � de que as pessoas se afastem quando presenciarem saques, depreda��es e bloqueios da pol�cia. Do lado de quem protesta, a marca��o de passeatas se multiplica pelas redes sociais, com milhares de confirma��es e a divulga��o de estrat�gias de ataque e fechamento de ruas. Por sua parte, a Pol�cia Militar treinou homens do Batalh�o de Choque especialmente para capturar nos grupos de manifestantes lideran�as e v�ndalos flagrados cometendo crimes. Apesar disso, a pol�cia n�o conseguiu que os 176 suspeitos que pretendia ver presos preventivamente fossem detidos por crimes cometidos nos protestos do ano passado.
Com refor�os vindos at� do interior, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou que pretende contar com mais de 12 mil policiais durante a Copa. Ontem, em mesa-redonda na Assembleia Legislativa, o secret�rio da pasta, R�mulo Ferraz, disse aos deputados estaduais que o refor�o no policiamento come�a a atuar em nove dias, para dar seguran�a a turistas que cheguem com anteced�ncia � cidade. “Se houver manifesta��es, ser�o promovidas por grupos organizados e sect�rios, e at� podem ser mais violentas. De qualquer forma, o estado est� mais preparado e h� um planejamento de seguran�a que vai garantir a tranquilidade a turistas e cidad�os no per�odo”, disse, no encontro. Hoje o Minist�rio P�blico sedia a primeira reuni�o do ano da Comiss�o de Monitoramento das Manifesta��es, um f�rum para autoridades, movimentos sociais e representantes dos direitos humanos garantirem o direito � livre manifesta��o, sem viol�ncia.
S� a PM investiu R$ 22 milh�es para se equipar com coletes, capacetes, difusores de g�s de pimenta, bombas de g�s lacrimog�neo, explosivos de efeito moral e muni��o menos letal, como balas de borracha e tasers – as pistolas de choque el�trico. Uma das inova��es � o treinamento de grupos de policiais que ser�o destacados para atuar cirurgicamente, prendendo suspeitos infiltrados entre manifestantes ou protegidos por eles. De acordo com o tenente-coronel Alberto Luiz Alves, chefe do Departamento de Comunica��o Organizacional da PM, a t�tica envolve militares dando seguran�a em torno dos que realizar�o a captura. Os alvos s�o lideran�as mais violentas ou v�ndalos flagrados em algum crime. A imobiliza��o desses suspeitos ser� feita com tasers, armamento que gera pulsos el�tricos capazes de paralisar um homem instantaneamente.
INCITA��O Enquanto a PM se equipa e promove treinamentos, manifestantes se organizam principalmente por redes sociais e p�ginas da internet. Al�m de convocar mais gente para passeatas, postagens de alguns grupos ligados aos black blocs orientam sobre como usar navegadores da internet para convocar mais pessoas e incitam os participantes a atacar policiais. Usando o termo “drinks flambados” para designar coquet�is molotovs, uma dessas postagens, que tinha centenas de acessos, dizia: “Fa�am j� seus drinks flambados”, mostrando a imagem de uma mulher segurando uma garrafa de refrigerante com l�quido inflam�vel e o pavio aceso.
Outras indica��es mostram como se vestir de forma a facilitar a locomo��o para ataque e fuga: “�culos, protetor, len�o para o rosto, blusa e cal�a comprida para cobrir tatuagens (o que dificulta a identifica��o da pessoa pela pol�cia), como tamb�m para se proteger de estilha�os de bombas. Luvas para proteger as m�os e t�nis ou botas para correr tamb�m s�o essenciais”.
Em outro texto s�o dadas dicas dos melhores equipamentos de defesa contra o g�s lacrimog�neo, inclusive com fotos de materiais, como m�scaras de pintor ou de serralheiro, �culos de prote��o, garrafa de �gua com spray e anti�cido l�quido, indicando a melhor marca. A mistura dessa subst�ncia com �gua na garrafa com spray ganha nas p�ginas o nome de “rem�dio para g�s lacrimog�neo”, com orienta��o de uso e a informa��o de que “� igualmente eficaz para spray de pimenta”.

Policiais do Batalh�o Rotam passaram ontem por treinamento para escoltar autoridades e sele��es durante a Copa do Mundo, em Belo Horizonte. Uma pista foi montada com cones, para aperfei�oar o trabalho dos batedores que atuar�o com motocicletas. Tamb�m foram simulados deslocamentos no interior de favelas e a��es de controle de tumulto. Os militares ser�o respons�veis pela seguran�a de tr�s delega��es: a da Argentina, que ficar� hospedada na Cidade do Galo, a do Chile, que ficar� na Toca da Raposa 2, e a do Uruguai, que ficar� em Sete Lagoas, na Regi�o Central do estado. Os militares da Rotam far�o ainda a escolta de outras 12 delega��es que estar�o de passagem por Belo Horizonte nos dias dos jogos. “Vamos escoltar todas as sa�das para jogos e treinamentos”, informou o comandante do batalh�o, tenente-coronel Carlos Alberto Sacramento.
Agenda de manifesta��es
Enquanto a contagem regressiva para a Copa do Mundo se aproxima do fim, v�rios grupos organizados de Belo Horizonte j� declararam aberta a temporada das manifesta��es. Se na �ltima segunda-feira cerca de 250 integrantes do Movimento Tarifa Zero BH conseguiram travar o tr�nsito em v�rias regi�es da capital, outro ato marcado para as 17h de amanh�, na Pra�a Raul Soares, Regi�o Centro-Sul, amea�a com caos ainda maior. O 15 de maio foi escolhido como o Dia Internacional de Lutas contra a Copa do Mundo 2014 e as convoca��es para o protesto se alastram pelas redes sociais.
Milhares de pessoas j� confirmaram presen�a em p�ginas na internet. Em apenas uma delas, mais de 30 mil pessoas garantiram que estar�o presentes em outro ato, em 14 de junho, quando ocorre o primeiro jogo da Copa em Belo Horizonte, entre Col�mbia e Gr�cia.
At� mesmo uma enquete para escolher os melhores trajetos das manifesta��es foi lan�ada na internet. O local de concentra��o j� est� definido: Pra�a Sete, Centro de BH, “como de costume”, dizem. O internauta pode votar na enquete at� junho, dias antes da Copa do Mundo. Por enquanto, “parar as ruas de principal acesso ao est�dio Mineir�o” � a op��o mais votada, com 225 votos.
O Movimento Tarifa Zero informou que novos protestos ser�o definidos at� sexta-feira. Uma preocupa��o dos manifestantes � tentar convencer a popula��o de que os transtornos no tr�nsito j� existem mesmo sem ocupa��o de ruas. “� �bvio que a gente para o tr�nsito, mas o problema � a falta de uma pol�tica de mobilidade urbana”, diz Andr� Veloso.
Matheus Malta � da Uni�o da Juventude Rebeli�o, que atua em movimentos estudantis e de luta da periferia, e conta que eles tamb�m est�o se preparando para os protestos. “J� temos advogados cadastrados para atuar em casos de repress�o policial e lutar pelos direitos democr�ticos dos manifestantes”, disse Matheus.
Precau��o nos protestos
Apesar de favor�vel � ades�o popular �s manifesta��es, o especialista em seguran�a p�blica, mestre em antropologia e ex-capit�o do Bope Paulo Storani enxerga dois momentos em que as pessoas devem de afastar das manifesta��es que ocorrer�o durante a Copa do Mundo, para preservar sua integridade. “As armas menos letais usadas pelas for�as de seguran�a p�blica n�o distinguem quem � v�ndalo de quem � manifestante. Portanto, se a pessoa vir que est� havendo depreda��o e furtos, deve se afastar para n�o ser confundida”, afirma.
Em outra situa��o, o especialista considera que a aproxima��o de �reas bloqueadas pela pol�cia deve ser evitada. O especialista tamb�m prev� que haja menos “pessoas de bem” nas manifesta��es e prev� problemas de tr�nsito e de seguran�a trazidos pelos adeptos de t�ticas mais radicais. “Quem adotou essa forma de se manifestar que leva � viol�ncia, depreda��o e crimes afugentou as pessoas de bem dos protestos e fez com que a opini�o p�blica n�o apoiasse mais essas a��es como no in�cio”, avalia.
