Dois ve�culos por minuto acima da velocidade permitida. Esse � o retrato do comportamento dos motoristas na parte mineira da Rodovia Fern�o Dias segundo o primeiro balan�o de funcionamento de 13 radares ligados, no fim de fevereiro, no trecho da BR-381 entre a Grande BH e S�o Paulo, a que a reportagem do Estado de Minas teve acesso. Apenas em abril, primeiro m�s em que houve consolida��o dos dados, os equipamentos instalados na estrada duplicada e concedida � iniciativa privada registraram mais de 88 mil ocorr�ncias de excesso de velocidade por parte de condutores de carros de passeio e motos (acima de 80 km/h) e de �nibus e caminh�es (acima de 60 km/h).
Os flagrantes de alta velocidade ainda n�o resultam em multas por falta de assinatura de um conv�nio entre a Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF), o que deve ocorrer no m�s que vem. Mas os dados j� d�o uma dimens�o da imprud�ncia de boa parte de motoristas no trecho de 476 quil�metros da rodovia em Minas. Segundo especialistas e a pr�pria Autopista Fern�o Dias, concession�ria respons�vel, o excesso de velocidade � a principal causa de acidentes na estrada.
Entre os 13 radares em opera��o em Minas, o que mais flagrou motoristas foi o do km 886, sentido Belo Horizonte, em Estiva, na Regi�o Sul do estado. Foram quase 24 mil casos em um m�s, uma m�dia de 33 por hora. Outro radar que registrou alto n�mero de ocorr�ncias foi o instalado no km 493, em Betim, no sentido S�o Paulo. Somente em abril, foram 7.165 registros por excesso de velocidade. Ali, freadas bruscas frequentes chamam a aten��o do gerente de posto de combust�vel Francisco das Chagas, de 41 anos. Ele conta que muitos ve�culos passam a “mil por hora”, mesmo depois da instala��o do radar. “Os abusos continuam. Muitos tentam reduzir a velocidade j� em cima do radar, e outros passam direto sem pisar no freio”, revela.
O caminhoneiro Eduardo Quin�lia, de 55, mora em Betim e costuma passar pelo local. “Acho que muita gente n�o presta aten��o no radar e passa batido”, disse. Segundo ele, o �ndice de atropelamento naquele trecho da estrada � alto, pois moradores do Bairro Betim Industrial atravessam a rodovia no meio dos carros. “Morria muita gente. Instalaram o radar e constru�ram uma passarela. Mesmo assim, as pessoas arrebentam a tela de prote��o do canteiro central para passar por baixo da passarela”, denuncia. Para ele, muitos motoristas sabem que o equipamento ainda n�o gera multa. “Enquanto o motorista n�o sentir no bolso, ele n�o aprende”, opina.
Campanhas Para o especialista em tr�nsito Paulo Resende, coordenador do N�cleo de Log�stica da Funda��o Dom Cabral, o n�mero de ve�culos acima da velocidade assusta e revela imprud�ncia. Por�m, ele acredita que �ndices altos de ocorr�ncias s�o comuns no in�cio da implanta��o de radares, e que pode haver redu��o dos casos se outras provid�ncias forem adotadas. “O radar deve vir acompanhado de fiscaliza��o m�vel e de campanhas educativas”, alerta. “At� porque, com o tempo, as pessoas aprendem (onde est�o os radares) e s� diminuem nos pontos fiscalizados”, acrescenta.
Segundo Resende, o radar � equipamento obrigat�rio em rodovias que passam pelo processo de duplica��o, j� que h� um aumento natural da velocidade m�dia. “Aumentando a velocidade, voc� tem mais acidentes, principalmente capotamentos e colis�es traseiras. Nesse caso, � necess�rio um redutor de velocidade nos pontos mais perigosos”, diz. O diretor superintendente da Autopista Fern�o Dias, Helv�cio Tamm, afirma que enviar� nos pr�ximos meses estudo � ANTT para instalar ainda mais radares na rodovia. “N�o tenho d�vidas de que vamos conseguir uma redu��o de acidentes com a opera��o de radares. Nossa ideia � ampliar a quantidade, j� que instalamos apenas o que estava previsto no contrato de concess�o”, disse. A reportagem procurou a PRF para comentar o assunto, mas a corpora��o afirmou que n�o comenta dados de outras fontes.
Redu��o de acidentes
Apesar da falta de multas, dados da Autopista Fern�o Dias, concession�ria respons�vel pela rodovia, sugerem que a instala��o dos radares j� influenciou as estat�sticas de acidentes e mortes na estrada. Segundo levantamento da empresa, houve 2.161 acidentes e 31 mortes de janeiro a abril deste ano. A m�dia de acidentes por m�s, de 540, � 14% menor que a verificada pela Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) em 2013 – foram 7.535 acidentes no ano passado, uma m�dia de 627. Tamb�m houve redu��o de 14% da m�dia mensal de mortes: de 14 no ano passado para menos de oito este ano. A PRF n�o divulgou suas estat�sticas de batidas na rodovia em 2014. O diretor-superintendente da Autopista Fern�o Dias, Helv�cio Tamm, diz que a entrada em funcionamento dos equipamentos j� provocou queda nos registros de excesso de velocidade.