
Os seguidos acidentes que fizeram do km 509 da BR-262, em Luz, no Centro-Oeste de Minas, um dos mais violentos da rodovia n�o resultaram em medidas de seguran�a para evitar trag�dias. Como resultado disso, 10 pessoas morreram e outras 44 se feriram no domingo, depois que um �nibus com um grupo, na maioria de idosos, que viajava de Caldas Novas (GO) para Belo Horizonte perdeu o controle e despencou de um barranco de 15 metros na “curva da Estiva”.
Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), o trecho cr�tico da estrada onde ocorreu o acidente, em declive e em forma de “S”, registrou 2,5 vezes mais acidentes e 2,3 vezes mais feridos que a m�dia por quil�metro da rodovia em um per�odo de cinco anos (entre 2007 e 2011). Diante do perigo, um policial rodovi�rio federal que trabalha na regi�o reconhece que � preciso mudar o trecho, com mudan�as no tra�ado ou duplica��o. Mas uma solu��o para o trecho ainda est� distante: apesar da concess�o da rodovia � iniciativa privada, o cronograma de obras prev� que a amplia��o da estrada entre Nova Serrana e Uberaba ser� conclu�da apenas em 2019.
O ve�culo de passageiros acidentado no domingo � um �nibus de dois andares modelo double deck, pertencente � empresa de turismo Transjapa, com licen�a em vigor da Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e documenta��o em dia, segundo a Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF). Al�m de dois motoristas, havia 52 passageiros, a maioria integrantes de um grupo de idosos da Regi�o do Barreiro, na capital, e seus convidados. Eles tinham passado cinco dias em Caldas Novas, a 700 quil�metros de BH.
Segundo a PRF, o acidente ocorreu por volta das 18h15. O ve�culo de passageiros n�o conseguiu terminar a primeira curva da sequ�ncia em “S”, atravessou a pista pela contram�o e despencou de um barranco com 15 metros de altura. Por pouco a trag�dia n�o foi pior, uma vez que o ve�culo deslizou de lado e ficou a tr�s metros do Ribeir�o da Estiva. Al�m disso, uma carreta carregada de milho n�o conseguiu reduzir a velocidade enquanto equipes de salvamento resgatavam as v�timas, bateu no caminh�o dos bombeiros, em uma caminhonete e caiu da ponte do Ribeir�o da Estiva. O condutor sofreu ferimentos leves.
No acidente com o �nibus de turismo morreram Ant�nio Teixeira Amorim, de 62, Fortunato Braga Amorim, Francisco Avelino Martins, de 82, Isaura Cassini Teixeira, de 78, Luciene Maria da Concei��o Assis, Maria Aparecida Pedrosa, de 58, Maria Jos� Monteiro, de 76, Santuza Pereira Martins, de 78, S�nia Aparecida Honorato, de 56, e Maria das Gra�as Teixeira Cassino, sem idade confirmada. “A chuva fina tornou a estrada naquele local ainda mais perigosa. Pelo que testemunhas disseram, o �nibus perdeu o controle na curva”, contou o policial rodovi�rio federal Carlos Humberto Ara�jo, do posto de Bom Despacho. Ele admite a necessidade de mudan�as no tra�ado da rodovia para dar mais seguran�a aos viajantes. “N�o tem uma semana sem acidente naquele ponto. Os motoristas se assustam quando entram na sequ�ncia de curvas e podem perder o controle”, afirmou.
Velocidade
Testemunhas divergem sobre a velocidade do �nibus. Umas afirmam que o motorista corria muito e outros dizem que o viram trafegar a 80 quil�metros por hora. O tac�grafo foi levado pela per�cia da Pol�cia Civil. A possibilidade de o motorista ter dormido est� praticamente descartada, j� que o acidente ocorreu a 17 quil�metros da parada anterior, num restaurante em Luz, onde houve troca de condutor.
Segundo o Dnit, o km 509 tem m�dia de 5,4 acidentes por ano, com 3,2 feridos anuais. A m�dia por quil�metro da BR-262 inteira � bem inferior, com registro de 2,1 acidentes e 1,4 feridos a cada mil metros. A rodovia tem baixa mortalidade, com uma v�tima a cada 7,5 quil�metros, o mesmo ocorrendo no km 509. No trecho cr�tico, os acidentes entre 2007 e 2011 indicam dificuldades de motoristas em manter o controle. Foram sete sa�das de pista, tr�s capotamentos e tr�s tombamentos.
Parentes desesperados
O que era para ser uma viagem de amigos e familiares para aproveitar as �guas termais de Caldas Novas se tornou um drama depois que o �nibus de turismo da empresa Transjapa saiu da pista e caiu num barranco na BR-262. Um dos 44 feridos � um garoto de 6 anos, que est� em estado grave no Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII (HPS), com traumatismo cr�nio-encef�lico. A crian�a viajava com as duas av�s, Maria Aparecida Pedrosa, de 58 anos, e S�nia Aparecida Honorato, de 56, e foi o �nico sobrevivente da fam�lia.
Na recep��o do hospital, com os rostos abatidos, parentes do menino tiveram um momento de comemora��o, por volta das 13h de ontem, quando a m�dica deu a not�cia de que a crian�a tinha acordado depois de passar por uma cirurgia. “Os pais dele est�o em choque por terem perdido suas m�es e sogras e quase ficarem sem o filho”, disse a estudante D�bora Cristiane Pedrosa, de 25 anos.
A contadora Maria do Carmo Apolin�rio, de 57, conta que a fam�lia sentiu al�vio quando soube que a sua sogra, Terezinha Teixeira Apolin�rio, de 69 anos, tinha sobrevivido. Mas a situa��o dela ainda � delicada. “Ela teve uma fratura na coluna vertebral e precisou ser transferida de helic�ptero do hospital em Luz”, conta Maria. Os feridos foram levados pelo Corpo de Bombeiros de Nova Serrana e por ambul�ncias de cidades da regi�o para o Hospital Senhora Aparecida, em Luz, para a Santa Casa de Bom Despacho e para o HPS.
Um dos volunt�rios que ajudou a tirar os sobreviventes de dentro do �nibus foi Roberto Ferreira de Paula, de 40 anos, gerente do posto onde os passageiros e os motoristas tinham lanchado h� menos de 20 minutos antes do acidente. “Estavam todos contando sobre as coisas que tinham feito no passeio. Os motoristas n�o aparentavam estar cansados”, disse. O advogado da Transjapa, Jader Gomes, considerou o ocorrido uma “fatalidade” e disse que a empresa est� arcando com as despesas dos parentes.