A Marcha das Vadias est� marcada para acontecer neste s�bado, com concentra��o na Pra�a da Rodovi�ria, no centro de BH, a partir das 13 horas. Em seguida, os manifestantes pretendem fazem uma passeata pelas rua Guaicurus, Pra�a da Esta��o, Rua da Bahia e Pra�a da Liberdade. De acordo com Adriana Torres, uma das articulistas da Marcha e volunt�ria do Movimento Nossa BH, a viol�ncia contra a mulher est� t�o naturalizada que culp�-la pelo que sofre � a forma que a sociedade encontrou para jogar o problema para debaixo do tapete.
Segundo Nathalia Duarte, cientista social, participante da frente feminista do movimento Tarifa Zero e participante da Marcha das Vadias, a viol�ncia di�ria sofrida pelas mulheres se traduz em um n�o direito � cidade e � mobilidade, uma vez que as mulheres n�o podem circular sozinhas em determinados hor�rios e locais e sem correr perigo. E mesmo nos trajetos di�rios, sofrem constantemente ass�dio. O espa�o p�blico e o transporte coletivo n�o s�o pensados para as mulheres, e o ass�dio se constitui, portanto, como mais uma catraca que precisam enfrentar durante o deslocamento de cada dia.
Let�cia Gon�alves, psic�loga e tamb�m articuladora do coletivo da Marcha em BH, relata que uma das maiores preocupa��es do grupo no �ltimo ano foi compreender como e o quanto essas viol�ncias afetam as prostitutas. "N�o temos a inten��o de falar pelas mulheres, mas de aproximar e escutar o que elas dizem. Percebemos nesse movimento que fizemos a necessidade de pautarmos a complexidade do assunto, j� que estamos falando de realidades muito diversas. Consideramos fundamental reconhecermos o contexto de viol�ncia colocado na viv�ncia de grande parte dessas mulheres, e n�o podemos perder de vista o capitalismo, o patriarcado, as quest�es de ra�a e classe, como intensificadores”, explica Let�cia.
A psic�loga lembra do projeto de lei que est� tramitando na C�mara para a legaliza��o da profiss�o: “Se faz urgente regulamentar a profiss�o, estendendo direitos trabalhistas e previdenci�rios �s profissionais do sexo. Somos aliados da APROSMIG - Associa��o das Prostitutas de Minas Gerais - que vem lutando para a aprova��o do projeto e nos unimos a elas nessa reivindica��o. Esperamos tamb�m que se construam mais espa�os para avan�ar no debate pol�tico, a fim de qualificar mais o projeto e para que toda a diversidade seja ouvida. Nossa luta � pelo enfrentamento da nega��o dos direitos, das viol�ncias, incluindo o exterm�nio dessas mulheres em Belo Horizonte”, disse Let�cia.
O relat�rio da Comiss�o Parlamentar Mista de Inqu�rito (CPMI) que investigou a viol�ncia contra a mulher no Brasil, lan�ado ano passado, mostrou que foram registrados em Minas Gerais, de janeiro de 2011 a abril de 2012, 186.202 casos de viol�ncias contra as mulheres, sendo 554 estupros e 494 tamb�m estupros, mas sendo esses tipificados como de vulner�veis.
IBGE
A 7ª edi��o do Anu�rio Brasileiro de Seguran�a P�blica mostra que o Brasil registrou um aumento de 18,17% de casos de estupro em 2012 em compara��o com o ano anterior: foram 50.617 casos em 2012, o que equivale a 26,1 estupros por grupo de 100 mil habitantes.
Mas estudo divulgado pelo IPEA estima que esse n�mero seja 10 vezes maior, j� que a maioria n�o denuncia. Das notifica��es feitas ao SINAN (Sistema de Informa��o de Agravos de Notifica��o) 70% das v�timas tem at� 17 anos, sendo 88,5% das v�timas do sexo feminino, 51% da cor parda ou negra e o agressor � o pr�prio pai/padrasto (24,1%) ou amigos/conhecidos da v�tima (32,2%).
Mesmo com esses dados alarmantes, a sociedade insiste em culpar a v�tima pela viol�ncia que sofre. Roupas usadas, vida sexual, tudo pode se tornar uma tentativa de justificar o crime, fator que contribui para o baixo n�mero de den�ncias e a busca por solu��es mais efetivas contra essa cultura nefasta.