Apesar de a comercializa��o dos ingressos para a Copa do Mundo fora do sistema oficial ser considerada crime, vale tudo na compra de t�quetes para o jogo da semifinal em Belo Horizonte. H� quem ofere�a celular por entradas, cambistas que negociam a pre�os exorbitantes (cerca de R$ 3,5 mil cada) e at� mesmo aluguel de credenciais VIP, no valor de R$ 2 mil cada. Apesar de a pol�cia garantir monitorar e fechar o cerco a esse tipo de conduta, nenhum cambista foi preso em Belo Horizonte durante o Mundial. At� mesmo o homem mais conhecido da pol�cia mineira por cometer esse tipo de infra��o, desde 1996, sendo detido dezenas de vezes, continua oferecendo seus servi�os sem medo de puni��o.
Entre idas e vindas da cadeia, J�lio C�sar dos Santos, mais conhecido como Negro Gato, negocia, do seu escrit�rio no Luxemburgo, na Regi�o Centro-Sul de BH, ingressos a R$ 3,5 mil, mas avisa: “Pode ser que, se o Brasil n�o ganhar da Col�mbia, o pre�o caia”. Aceitando dinheiro ou cart�o e levando at� em casa, ele conta que est� trabalhando dentro da lei e o que faz n�o � crime. “� comodidade. Pago meus impostos, gero emprego e n�o estou fazendo nada de errado. As pessoas que, por algum motivo, n�o podem ir ao jogo e t�m os ingressos me procuram e eu vendo para elas. Para esta semifinal no Mineir�o, por exemplo, que cobro R$ 3,5 mil, vou ganhar R$ 300 de comiss�o”, afirma, garantindo n�o ter nenhum esquema com pessoas ligadas � Fifa. “Sou um prestador de servi�os. Quando eles me det�m, n�o h� provas contra mim”, afirma.
Enquanto 11 pessoas foram presas em S�o Paulo e no Rio de Janeiro, acusadas de fazerem parte de uma quadrilha que chegava a faturar R$ 1 milh�o por jogo da Copa do Mundo com a venda de ingressos, em BH, a falta de provas � que tem impedido a puni��o de cambistas. Detidos pela Pol�cia Militar, depois encaminhados para delegacias e conduzidos ao Juizado Especial Criminal, a grande maioria � liberada.
A capit�o Giovana Silveira, respons�vel pelo Batalh�o Copa, explica que, quando � feita a condu��o de cambistas pela Pol�cia Militar, os acusados n�o est�o sendo autuados em flagrante. “H� a dificuldade de provas. Se n�o tiver nada que comprove o crime, a pessoa n�o � autuada. Essa tem sido a nossa dificuldade, porque empenhamos no combate a esse tipo de infra��o, fazemos um cerco aos cambistas, mas se n�o h� v�timas, ingressos sendo vendidos a pre�os exorbitantes, eles n�o s�o autuados”, comenta, dizendo que toda venda de ingresso tem que ser feita com a permiss�o da Fifa, caso contr�rio, � crime. “Al�m disso, as delegacias est�o lotadas. Estamos fotografando, monitorando as vendas e conduzindo aqueles que cometem o crime �s delegacias”, diz.
Combate
De acordo com dados da Pol�cia Civil, no �ltimo s�bado, por exemplo, quando a Sele��o Brasileira enfrentou o Chile, no Mineir�o, uma opera��o foi montada para combater a a��o de cambistas, o que resultou na condu��o de um grupo de cinco brasileiros e quatro estrangeiros � 3ª Delegacia Regional Noroeste, sendo dois venezuelanos, um ingl�s e um chileno. Apenas um dos envolvidos, que � brasileiro, teve sua pris�o em flagrante ratificada, porque tentou subornar um dos policiais civis. Os demais foram ouvidos e tiveram seus Termos Circunstanciados de Ocorr�ncia (TCOs) redigidos para serem encaminhados ao Juizado Especial Criminal. “Quando a pessoa assina esse termo, ela fica livre do flagrante. E no juizado, se ele n�o tiver nenhum problema com a Justi�a, ou seja, tem uma ficha limpa, ele faz uma transa��o penal, que pode ser presta��o de servi�o para a comunidade, dependendo do caso”, esclarece a ju�za do Juizado Especial Criminal de BH, Fl�via Birchal de Moura.
Ela explica ainda que o acusado, aceitando a transa��o, n�o pode assinar outro termo durante cinco anos. “Se cometer o crime de novo, ele vai responder por um processo e, se condenado, caso seja a primeira vez, pode tamb�m prestar servi�os � comunidade. Muitas vezes, a pol�cia det�m a pessoa mas n�o h� provas contundentes. S�o poucos os processos que v�o para frente. Trata-se de um crime de menor potencial ofensivo”, diz. O juizado, segundo conta Fl�via Moura, tem atendido esses casos de forma imediata por causa da Copa do Mundo. “Em dias normais, a demora � de um m�s”, compara. No caso dos acusados estrangeiros, segundo a ju�za, h� a transa��o penal e, como n�o � poss�vel verificar a ficha policial deles, os promotores aplicam multas sem valor estabelecido.
Negocia��o
Na internet, a negocia��o � grande. Em grupos nas redes sociais, muitas pessoas oferecem ingressos, que variam de R$ 1 mil a R$ 3,5 mil. Em um deles, dois rapazes ofereceram, na tarde de ontem, aluguel de uma credencial. Sem se identificar, o Estado de Minas conversou com um deles, que disse ter duas credenciais de um casal volunt�rio da Fifa e o valor seria de R$ 4 mil o par, sendo poss�vel, inclusive, com a credencial, assistir ao jogo de qualquer local do est�dio. “Se quiserem, eles vendem as duas camisas por R$ 500. Mas s� ir�o fechar com algu�m que seja de confian�a. Dependendo, fecham at� por R$ 3,8 mil. Boa sorte!”, escreveu na mensagem.
A Fifa, por meio da assessoria de comunica��o, informou que toda credencial tem foto e nome da pessoa da qual pertence e que h�, na entrada dos est�dios, uma triagem bem rigorosa para os credenciados. Sobre a venda, a Fifa informou n�o poder comentar por n�o saber da veracidade do fato.
Torcedores apostam na sorte para conseguir entradas para o Mineir�o
Landercy Hemerson
Ver um jogo da Copa do Mundo 2014 do lado de dentro de um est�dio. Quem acordou tarde para o evento ou quer repetir a experi�ncia enfrenta o desafio de conseguir uma entrada. Brasileiros, argentinos, belgas e mesmo aqueles torcedores de sele��es que j� est�o fora do torneio integram a turma dos sem-ingresso, que tentam freneticamente encontrar no site da Fifa uma alternativa mais barata para assistir a uma disputa.
O advogado Jo�o Lucas Lembi, de 24 anos, conseguiu levar sua noiva, a professora norte-americana Megan Ballock, de 26, a dois jogos no Mineir�o. “Moro em Belo Horizonte e queria muito que ela fosse a uma das partidas do pa�s dela. Mas agora, que os EUA est�o fora, o desafio � ver o Brasil de perto, aqui em BH.” Megan, que assistiu aos jogos de B�lgica x Arg�lia e Inglaterra x Costa Rica, no Mineir�o, aposta na sorte. “Espero que a Fifa volte a oferecer ingressos para a semifinal na semana que vem, principalmente se for o Brasil um dos classificados.”
O fiscal de alf�ndega Omar Orellano, de 27, veio de Buenos Aires sem ingressos para ficar na casa de amigos em Belo Horizonte na esperan�a de que conseguiria pelo menos assistir a Argentina x Ir�. “No dia do jogo, um cambista ofereceu ingresso, mas eu estava na Savassi e faltava pouco para a partida come�ar. Estou entrando no site da Fifa durante a madrugada, pois ainda gostaria de assistir a uma partida, mesmo que n�o seja do meu pa�s. De cambista fica dif�cil, pois est�o cobrando um absurdo.”