
Lembrou obra do Fredinho, meu filho mais velho, no PlayStation. Distante do cen�rio das marchas de junho, o quadrante mais emblem�tico das manifesta��es deu tr�gua para a festa da bola. Afinal, � Copa do Mundo. E o povo deu todos os sinais de que topou a festa. Na Pra�a Sete, o vazio e o sil�ncio. O envelope humano, tra�o com cerca de 200 policiais, estava l� para garantir a ordem. A voz rouca dos manifestantes tamb�m: trinta. Sete gols da Alemanha, sete cenas para n�o esquecer:
Cena 1
A boa e pacata gente do Marreta, da Liga Oper�ria e do Movimento Estudantil Popular Revolucion�rio – trinta no total – protestou. Os mo�os sabem o que dizem. Mas n�o havia quem ouvisse. Por fim, os jovens e veteranos ativistas guardaram as faixas, bandeiras e fotos de oper�rios mortos e foram embora. Deixaram o quarteir�o com o som de m�o para sumir das vistas dos homens do Choque.
Cena 2
A morena bonita estava segura de que a televis�o fala a verdade. Se com um Neymar o Brasil avan�ou ate �s quartas, com 11 em campo mais dois centos de milh�es na torcida seria uma barbada. Neide, a estudante, achou bonito o J�lio C�sar e o David Luiz segurando a camisa do Neymar na hora do hino. E o homem falador da televis�o refor�ou: “Hoje todo mundo � Neymar”. “� para voc�, Neymar!” E tome Neymar!
Cena 3
Os gols vieram como nas peladas de domingo, nos anos 1980, quando o Geraldinho, do Santa Terezinha, resolvia jogar. Com duas d�zias de minuto de bola na �rea brasileira, j� tinha gente deixando os bares dos quarteir�es fechados da pra�a. “Que isso???”, “Ah…” e “Vergonha!” era o que mais se ouvia. “Melhor se tivesse perdido para o Chile”, disse o baixinho, indignado com mais um gol – o quarto.
Cena 4
Chiquinho, o pipoqueiro, durante o jogo, ficou ali, em frente ao Cine Theatro Brasil, girando o milho no �leo quente para esperar a freguesia. Solit�rio, desistiu de dar bola para o Mineir�o. “Pensei que o Brasil ia ganhar de 1 a 0. Que co�a, hein!?”. O velho n�o podia imaginar tamanha humilha��o. Sabia do jogo de ouvido, da tev� do bar vizinho, da Rua dos Carij�s.
Cena 5
At� o policial sisudo, do Choque, sorriu incr�dulo ao saber de mais um gol. Vestido com aquelas tapadeiras de filme de fic��o, a autoridade quis saber: “Mais um?”. O colega ao lado, carrancudo, balan�ou a cabe�a. “�. Mais um!”. J� era o segundo tempo e a palavra mais ouvida nos quatro quarteir�es era “vexame”.
Cena 6
O homem vendedor de cadar�os resolveu deixar o campo e sumir na Avenida Amazonas. No Bar F�rmula 1, a promo��o era uma cerveja por conta da casa por mesa para cada gol brasileiro. Fosse da Alemanha teria que fechar as portas. No estabelecimento j� tinha gritos de “ol�!” e palmas para os alem�es. Por fim, o Oscar faz descer uma cervejinha.
Cena 7
Buzina�o e foguete na goleada hist�rica em terras mineiras. “Nem deu para sofrer”, diz o rapaz para o amigo com a cara pintada. Na Rua Rio de Janeiro, o casal de meia-idade, sorridente e serelepe, em verde e amarelo, entra no motel de nome de filme famoso. Azar no jogo, sorte no amor.
l Neste Mundial, a cada jogo do Brasil, uma visita a um lugar da cidade. O Estado de Minas j� esteve na Maternidade Sofia Feldman (Brasil 3, Cro�cia 1), na Casa do Anci�o (Brasil 0, M�xico 0), no Terminal Rodovi�rio (Brasil 4, Camar�es 1), na Lagoa da Pampulha (Brasil 1, Chile 1) e no Viaduto Batalha dos Guararapes (Brasil 2, Col�mbia 1).