Pedro Ferreira e Guilherme Paranaiba

Ang�stia, incerteza, choro e desentendimentos marcaram ontem a transfer�ncia para um hotel de 19 fam�lias de dois condom�nios vizinhos � al�a norte do Viaduto Batalha dos Guararapes, na Avenida Pedro I, Regi�o de Venda Nova. Mais de tr�s semanas depois do desabamento da al�a sul, que matou duas pessoas e feriu 23, a Defesa Civil determinou a sa�da de moradores para garantir a seguran�a deles, diante da possibilidade de queda da parte do viaduto que ficou de p�. Foram retiradas 12 fam�lias dos blocos 8 e 9 do Edif�cio Antares e sete do bloco 3 do Edif�cio Savana, mais pr�ximos da al�a norte.
Oito apartamentos estavam sem moradores. Os demais vizinhos ser�o transferidos apenas no dia da demoli��o do viaduto, ainda sem data marcada. As di�rias do hotel, que fica no Bairro S�o Crist�v�o, na Regi�o Noroeste, ser�o pagas pela Construtora Cowan, respons�vel pela obra do viaduto. Per�cia particular contratada pela empresa alegou que um erro no projeto executivo provocou o desabamento e sugeriu que a al�a norte tamb�m pode desmoronar. Com base nesse laudo, a Defesa Civil decidiu transferir moradores, mesmo depois de a Pol�cia Civil anunciar que n�o vai considerar o estudo da Cowan nas investiga��es.
Apesar do conforto do hotel, os novos h�spedes viveram um dia de ang�stia. Na noite de s�bado, quando foram informados sobre a transfer�ncia, fam�lias come�aram a arrumar as malas. Pela manh�, em meio ao barulho de oper�rios que retiram escombros da al�a sul, muitos moradores ainda tinham d�vidas sobre como seria a mudan�a. A sa�da do �nibus pago pela Cowan para transportar as fam�lias estava prevista para as 14h. Nesse hor�rio, moradores se reuniram com o coordenador municipal de Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas, para reclamar da convoca��o, segundo eles, de �ltima hora.
Houve momentos de tens�o. O supervisor de log�stica Lu�s Faian Aguiar Patzi, de 34 anos, um dos moradores, chegou a registrar boletim de ocorr�ncia para ter um documento oficial sobre a sa�da do im�vel. “N�o temos nenhum documento comprovando que o viaduto pode cair”, reclamou. Depois da reuni�o, moradores come�aram a deixar os apartamentos. Apenas nove pessoas usaram o �nibus de turismo oferecido pela Cowan. As demais fam�lias foram para o hotel em carros particulares.
Futuro Al�m de passar por um dia dif�cil, fam�lias que tiveram de deixar as casas por tempo indeterminado temem pelo futuro. H� quem esteja preocupado com a seguran�a dos apartamentos, e com a possibilidade de que os blocos sejam afetados durante a demoli��o da al�a norte ou atingidos em um eventual queda da al�a. Tamb�m h� fam�lias que n�o sabem como ser� a rotina no hotel. A Cowan vai pagar caf� da manh�, almo�o, jantar, �gua sem g�s, vaga de garagem e servi�o de lavanderia duas vezes por semana, com o limite de oito pe�as por pessoa. “Minhas filhas estudam em casa e toda hora comem alguma coisa. Disseram para n�o levar nem o computador, mas como elas v�o fazer os trabalhos de escola?”, pergunta a dona de casa Ana L�cia Machado Aguiar, de 42. A Cowan vai oferecer transporte escolar.
Choro
Moradores que continuam nos dois pr�dios tamb�m est�o preocupados. O coronel Alexandre Lucas garantiu que n�o h� risco para os demais blocos dos residenciais. Ainda assim, a diarista M�rcia Vieira Cardin, de 42, entrou em p�nico. Ela, que mora no condom�nio com tr�s filhos, chorou e precisou ser amparada por vizinhos. “Meu celular toca no trabalho e j� acho que � uma trag�dia”, contou. “Meu medo � um poss�vel efeito domin�, com um pr�dio derrubando o outro”, acrescentou.
No fim da tarde, moradores de outros blocos e a advogada Ana Cristina Drumond, que os representa, se reuniram com o coronel Alexandre Lucas para pedir mais apoio da prefeitura e da construtora. Eles querem local para deixar animais de estima��o, comunica��o da data de transfer�ncia com maior anteced�ncia e garantias de que haver� vigil�ncia nos im�veis que ficar�o fechados. Uma alternativa sugerida foi levar para o Sesc, que tem uma unidade em Venda Nova, quem precisar se hospedar com algum animal de estima��o. Lucas se comprometeu a analisar os pedidos. Ele disse que escolheu o domingo para transferir as fam�lias por ser um dia mais tranquilo e porque normalmente todos est�o em casa. Por fim, a Defesa Civil garantiu que h� um esquema especial de seguran�a para evitar problemas com os apartamentos desocupados.
15 fam�lias se recusam deixar apartamentos
No balan�o oficial da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), 42 fam�lias est�o cadastradas no bloco 3 do Residencial Savana e nos blocos 8 e 9 do Residencial Antares para serem transferidas ao Hotel Soft Inn, no Bairro S�o Crist�v�o, Noroeste de BH. At� o fechamento desta edi��o, 19 j� tinham dado entrada no novo endere�o, por�m, 15 n�o aceitaram cumprir a determina��o ontem, temendo problemas de seguran�a e tamb�m por n�o poderem levar animais de estima��o para o hotel. Um desses casos � o da aposentada Marilda Siqueira, de 61 anos, moradora do Savana. “Eles n�o aceitam animal e a minha gata Nina n�o tem onde ficar. O problema n�o � meu, � deles”, diz Marilda, indignada com a situa��o. O taxista Anderson Siqueira, filho de Marilda, tamb�m ficou no pr�dio. “Como vou deixar minha m�e aqui sozinha?”, perguntou.
O problema do analista de sistemas Juvenal J�nior, de 36, � o medo de que algo possa acontecer com o apartamento durante o tempo em que ele estiver fora, como furtos ou roubos. “N�o foi dada nenhuma garantia de que n�o teremos problemas com nosso patrim�nio. Al�m disso, tem todo o desconforto causado por ficar fechado em um quarto de hotel”, diz ele, que mora com a mulher e uma filha. O coronel Alexandre Lucas, coordenador da Comdec, deixou claro que ontem havia a possibilidade de recusar o convite, mas que isso n�o ser� tolerado quando o viaduto for demolido. “Vamos tentar sempre na base do convencimento, mas n�o descartamos a ordem judicial”, diz Lucas. A Defesa Civil informou que as fam�lias que se recusaram a sair ontem foram informadas dos riscos e assumem as responsabilidades caso a outra al�a do Viaduto Batalha dos Guararapes desabe. (GP)