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Estado de Minas

Moradores levados para hotel tentam se adaptar � nova rotina

Fam�lias transferidas de pr�dios vizinhos a elevado na Pedro I se dividem entre o al�vio por estar seguros e a ang�stia de ficar longe de casa


postado em 29/07/2014 06:00 / atualizado em 29/07/2014 10:49

"Desde a queda da al�a sul, n�o tinha sossego. N�o dormia direito. Estava ansiosa para sair" Armina da Silva, de 55 anos, Levou para o hotel cachorro de pel�cia e fotos para lembrar da fam�lia (foto: ED�SIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

Arminda Policarpo da Silva, de 55 anos, gostaria de um arm�rio maior, com mais espa�o para suas roupas. “Tinha que ter um sofazinho mais confort�vel”, diz, apontando para uma solit�ria cadeira. Aos poucos, tenta se acostumar ao quarto onde viver� pelas pr�ximas semanas. Ela est� aliviada e ao mesmo tempo apreensiva, assim como os demais moradores transferidos para um hotel no domingo, quando a Defesa Civil come�ou a transferir as fam�lias que moram nos condom�nios Antares e Savana, vizinhos ao Viaduto Batalha dos Guararapes, por causa do risco de queda da al�a norte do elevado – a al�a sul desabou no dia 3, matando duas pessoas e ferindo 23.


Transferidas por tempo indeterminado para um hotel no Bairro S�o Crist�v�o Regi�o Noroeste de BH, 21 fam�lias temem que seus apartamentos sejam danificados durante a demoli��o da al�a norte do viaduto, na Avenida Pedro I, Regi�o de Venda Nova. O procedimento, ainda sem data para ocorrer, foi determinado pela prefeitura ap�s laudo n�o oficial encomendado pela Cowan, construtora respons�vel pela obra, apontar que a estrutura pode desmoronar a qualquer momento. Incerteza e ang�stia se misturam ao al�vio de eles estarem em local seguro. “Desde a queda da al�a sul, n�o tinha sossego. N�o dormia direito, com medo. A situa��o ficou exaustiva. Eu estava ansiosa para sair”, conta Arminda.

Na noite de domingo, a primeira no lar provis�rio, Arminda, que mora sozinha em um apartamento no bloco 8 do Antares, voltou a dormir bem. Roupas, sapatos, produtos de higiene pessoal e at� um cachorrinho de pel�cia foram postos sobre um balc�o de madeira e dentro de um pequeno arm�rio. Ela foi avisada da transfer�ncia na tarde de s�bado e teve apenas algumas horas para decidir o que p�r nas malas. “N�o tinha nada pronto, n�o sabia quando ter�amos que sair”, diz. Apesar da pressa, lembrou-se de pegar uma caixa com fotos de fam�lia. “Elas t�m valor afetivo. N�o queria correr o risco de perd�-las”, explica ela, que tem tr�s filhos j� adultos.

A estadia no hotel inclui caf� da manh�, almo�o e jantar. A janela do quarto com cama de casal onde se acomodou Arminda, no d�cimo andar, se abre sobre a movimentada Avenida Ant�nio Carlos. No frigobar, que tinha apenas �gua sem g�s, ela guardou alguns medicamentos. Segundo ela, que trabalhava como t�cnica de enfermagem at� pedir demiss�o h� quatro meses, a Defesa Civil informou que os moradores ficar�o no hotel por ao menos um m�s. “Fazia anos que eu n�o ficava tanto tempo fora de casa”, lembra. Ela dispensou o servi�o de lavanderia oferecido pela Cowan, que est� arcando com os custos de hospedagem. “Tenho receio de minhas roupas se perderem”, justifica.

"Domingo consegui dormir bem. A gente queria sair para fazerem o que tiver de ser feito" Ana L�cia Aguiar, de 42 anos, Est� num quarto com o marido. As tr�s filhas ficam em outro c�modo (foto: ED�SIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

Preocupa��o

Arminda planeja ir todos os dias ao apartamento no Antares, a menos que a Defesa Civil pro�ba o acesso ao local. “Como ser� nossa volta? � isso o que mais me preocupa. N�o sabemos se a estrutura dos pr�dios ser� afetada pela demoli��o”, angustia-se. A mesma preocupa��o ronda a dona de casa Ana L�cia Aguiar, de 42 anos, que mora com tr�s filhas e o marido no bloco 8 do condom�nio. “Creio que vamos voltar para casa. Deus n�o vai nos deixar sem teto”, diz. No hotel, a fam�lia se dividiu em dois quartos. As filhas foram para um triplo no quarto andar, enquanto o casal est� outro no quinto.

“Domingo consegui dormir bem, procurei descansar. A gente queria sair para fazerem logo o que tiver de ser feito”, diz Ana L�cia. “No apartamento a gente ficava com medo o tempo todo. Sei que bens materiais s�o dif�ceis de adquirir, mas a vida est� em primeiro lugar”, acrescenta. Ela est� satisfeita com o hotel. “Fomos bem atendidos. O quarto � confort�vel. Vamos ficar pouco tempo, n�o temos que ficar exigindo como se fosse nossa casa”, afirma. Quem mais gostou da mudan�a foram as filhas, de 16, 15 e 11 anos. “Elas t�m no��o do motivo de termos sa�do, mas est�o gostando de ter um quarto s� para elas, onde podem ficar acordadas at� tarde. Vamos ver se continuar�o assim daqui a 15 dias”, disse a m�e, rindo.

Ana L�cia e o marido instalaram em seu quarto um pequeno aparelho de som. Sobre um balc�o de madeira, arranjaram uma colorida fruteira. No frigobar, puseram suco, requeij�o, iogurte e refrigerante. No arm�rio, t�o pequeno quanto o do quarto de Arminda, h� bolsas, caixas e pastas empilhadas. As filhas tiveram o cuidado de incluir na bagagem fotos de fam�lia. O cachorro de estima��o foi levado para a casa de uma irm� de Ana L�cia, j� que o hotel n�o admite a presen�a de animais.

Van escolar

Sozinha em seu quarto, Ana L�cia ficou alegre ao saber o quarto em que estava Arminda. Disse que visitaria a amiga e vizinha. Apesar de n�o contarem mais com as �reas de conviv�ncia dos condom�nios, muitos moradores aproveitam para conversar durante as refei��es ou nos momentos em que os filhos v�o e voltam das escolas, em vans oferecidas pela Cowan. No in�cio da manh� de ontem, quando as crian�as desceram para a porta do hotel, um ve�culo j� as esperava. “Antes mesmo de terminar a aula o carro j� estava em frente � escola”, comentou a estudante J�ssica Machado Aguiar, de 16 anos, filha de Ana L�cia. A irm� dela, Isabela, de 15, elogiou a resid�ncia provis�ria. “O jantar � uma del�cia. O caf� da manh� � farto”, disse a adolescente, ao retornar da escola, por volta do meio-dia.

O hotel mudou algumas regras para atender os novos h�spedes. O almo�o passou a ser servido �s 11h para que crian�as que estudam � tarde possam almo�ar mais cedo. Assim que tomou o caf� da manh� no hotel, a assistente administrativo Glaucilene Moreira de Almeida Barros, de 40, foi ao seu apartamento, no bloco 8 do Antares. “Minha cachorra ficou sozinha l� por n�o ter onde deix�-la. Fui aliment�-la e passear um pouco na rua com ela”, disse. Glaucilene planejava voltar � tarde para visitar a Doce, como chama o animal. A filha de Glaucilene, de 9, sente falta do bicho de estima��o e ontem foi para a escola chorando. “Somos bem tratados no hotel, mas nada � como a casa da gente. � muito ruim ficar ‘trancada’ no quarto”, disse.

A secret�ria de escola Helena Dias, de 50, moradora do bloco 8 do Antares, decidiu ir para o hotel ontem. Ela havia se hospedado na casa da m�e e, quando foi ao pr�dio onde mora para buscar o carro na garagem, decidiu se juntar aos vizinhos no hotel. “Eu estava dando muito trabalho para minha m�e. Abri a porta do meu apartamento e tive uma crise nervosa. Eu disse: ‘Meu Deus, � justo eu perturbar a minha m�e?’. Ent�o eu trouxe meu carro para o hotel, onde vai ter mais seguran�a. Vou ficar por aqui tamb�m”, disse Helena. No hotel, ela escolheu um quarto ao lado dos vizinhos de porta no pr�dio onde mora, para que eles continuem a ajud�-la a cuidar de sua sa�de.


Estadia pode durar 2 meses
A estadia dos moradores dos dois residenciais vizinhos ao ViadutoBatalha dos Guararapes em hot�is pode durar at� dois meses. Ontem, uma funcion�ria da construtora Cowan, em visita � unidade do Sesc Minas, no Venda Nova, sondou a institui��o sobre o aluguel de 24 apartamentos para um per�odo de 30 dias, renov�vel por mais 30, segundo informou a assessoria da institui��o. � tarde, a advogada Ana Cristina Campos Drumond, representante de um dos condom�nios, esteve na sede do Minist�rio P�blico e entregou um dossi� com problemas enfrentados pelos moradores e pediu apoio ao �rg�o.

A t�cnico em enfermagem Arminda Policarpo da Silva, de 55 anos, dona de apartamento no local, tamb�m afirma que o prazo inicial informado pela Defesa Civil � de pelo um m�s de hospedagem. A previs�o veio depois de muita insist�ncias dos moradores por mais informa��es. Oficialmente, a assessoria do �rg�o n�o fala em prazos para o retorno dos moradores para casa. At� � noite de ontem, 21 fam�lias haviam sido transferidas, de um total de 34 apartamentos ocupados nos tr�s blocos mais pr�ximos � al�a norte do viaduto que corre risco de desabar. Treze fam�lias se recusam a sair dos im�veis.

“O maior problema dos moradores � a falta de informa��es. As remo��es deveriam ser realizadas depois de conclu�dos laudos sobre a necessidade de demoli��o e um cronograma para os trabalhos”, reclamou Ana Drumond. A Defesa Civil reafirmou que presta assist�ncia 24 horas no local.

A aus�ncia de pessoas nos apartamentos tem emperrado as vistorias internas dos im�veis. Ontem o trabalho come�ou no condom�nio Savana e ainda faltam alguns apartamentos do Antares. O vistoriador Leandro C�sar Rocha de Pinho disse ter encontrado pequenas fissuras em gesso e pintura que j� existiam antes do desabamento do viaduto. Ontem, os 400 alunos do Col�gio Helena Bicalho, da Rede Pit�goras, que recebeu orienta��o da Defesa Civil para suspender as aulas por 30 dias, devido � proximidade da al�a do viaduto que amea�a desabar, tiveram ontem o seu primeiro dia de aula no Centro Universit�rio Izabela Hendrix, distante um quil�metro. (Pedro Ferreira e Landercy Hemerson)


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