BRT Move com ve�culos de 18 metros aumenta responsabilidade sobre motoristas

Bruno Freitas

O acidente envolvendo o �nibus articulado da linha 82 acende o alerta para a alta carga de estresse � qual os motoristas do transporte r�pido por �nibus (BRT) de Belo Horizonte est�o sujeitos. A maior responsabilidade ao volante come�a pela dire��o de um �nibus articulado com mais de 18 metros de comprimento – m�dia de cinco metros a mais que um coletivo convencional – e passa pela habilidade em gui�-lo entre carros e motos em vias de tr�nsito misto, como as da regi�o hospitalar, local do acidente na manh� de ontem.

Desde que as primeiras linhas do Move entraram em opera��o, em 8 de mar�o, ao menos cinco colis�es envolvendo coletivos do novo sistema foram registradas fora das pistas exclusivas dos corredores Cristiano Machado e Ant�nio Carlos, na regi�o do hipercentro. A jornada de trabalho da categoria � de seis horas e 20 minutos por dia, com uma hora de intervalo para alimenta��o ou repouso, o que na pr�tica representa uma escala de trabalho de seis viagens di�rias.

Como forma de compensa��o, os quatro cons�rcios operadores do transporte coletivo da capital oferecem ao motoristas dos �nibus padrons e articulados Move um adicional de 15%, de cerca de R$ 1.700. Todos devem ter habilita��o na categoria E, enquanto os demais condutores usam a carteira D. BHTrans e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) afirmam realizar treinamentos e exames de sa�de anuais, a fim de checar a aptid�o dos operadores.

Por�m, o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodovi�rio de Belo Horizonte e Regi�o Metropolitana (STTR-BH) denuncia que muitos motoristas n�o apresentam atestados m�dicos �s empresas quando doentes, por receio de repreens�o. Um dos diretores do sindicato, Carlos Henrique Marques, afirma que muitas vezes o trabalhador prefere trabalhar passando mal a procurar um m�dico. “Muitos acreditam que n�o � nada grave, mas uma dor de cabe�a pode ocasionar um problema maior”, denuncia. Marques acredita ainda que a frequ�ncia do exame de sa�de – realizado uma vez ao ano – � insuficiente. A principal queixa dos representantes da categoria tem rela��o com a rotina di�ria atr�s do volante. De acordo com a entidade, 10% da categoria est� afastada do trabalho por problemas de sa�de – a maioria com sintomas de depress�o e problemas na coluna (30%).

SEM PADR�O

Quem encara o desafio di�rio de dirigir um articulado no cada vez mais complicado tr�nsito de BH, alerta ainda para aus�ncia de um treinamento padronizado entre as 39 empresas de �nibus do sistema e de um programa peri�dico espec�fico para o aperfei�oamento de pr�ticas na condu��o da frota, o que inclui os 428 novos �nibus do Move.

A validade dos treinamentos, segundo um instrutor de uma operadora de �nibus da capital, varia de empresa para empresa. “Cada uma faz de um jeito. Tem empresas que d�o treinamento bons. Na minha empresa foi muito intenso. Principalmente pela quest�o de compromisso, com o motorista retirado da escala de trabalho no dia do treinamento e advert�ncia em caso de aus�ncia”, contou o profissional, que optou por n�o se identificar.

O instrutor explica que na empresa em que trabalha foi dado desconto de 20% na habilita��o em uma auto-escola, como forma de incentivar os motoristas a se reciclarem e conseguirem a habilita��o na categoria E. “Nem todas as empresas, por�m, deram esse incentivo”, ressalta.

Sem garantia de indeniza��o

Propriet�rios dos 13 ve�culos atingidos pelo �nibus desgovernado, assim como feridos no acidente, ter�o de aguardar a avalia��o do seguro do coletivo para saber quem vai arcar com o custo dos estragos causados pelo acidente, informou ontem o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setra-BH). “Todas as empresas de �nibus de Belo Horizonte s�o obrigadas a ter seguro contra terceiros, al�m do DPVAT. Qualquer parcela adicional, al�m daquela estabelecida pelas cl�usulas da ap�lice, ser� ressarcida ap�s negocia��o entre as partes ou determina��o judicial”, informou a entidade patronal.

BHTrans e Setra-BH disseram realizar uma constante reciclagem dos motoristas do transporte coletivo, como forma de preven��o de acidentes. A empresa que administra o tr�nsito de Belo Horizonte, entretanto, reconheceu que interfere no plano anual de treinamento para motoristas e cobradores proposto pelo sindicato, quando necess�rio, para melhor atender ao planejamento. “O acidente ocorrido (ontem) foi um fato isolado, uma vez que o motorista foi acometido por um mal-estar. Este ano, o treinamento concentrou-se na opera��o do Move, tanto a parte te�rica quanto a pr�tica. Muitas vezes, a empresa gerenciadora do transporte e tr�nsito de BH pede altera��es no plano, mas sempre tendo em foco a seguran�a dos operadores, dos usu�rios e dos pedestres. Inclusive, a pr�pria BHTrans j� foi a promotora, nas garagens, de treinamento para motoristas e agentes de bordo”, disse, em nota.

O sindicato das empresas de �nibus qualificou o acidente da linha 82 como “n�o mais do que uma fatalidade” e disse que todas as concession�rias de transporte possuem departamentos m�dicos e realizam anualmente uma semana de preven��o de acidentes de trabalho.

SEGUNDO ACIDENTE Procurada pela reportagem, a Bettania �nibus informou que somente o Setra-BH se pronunciaria sobre o assunto. O desastre com o �nibus articulado da linha 82 foi o segundo acidente grave envolvendo um �nibus da empresa em menos de tr�s meses. Em 8 de julho, um coletivo da linha 3055 (Esta��o Barreiro/Savassi) deixou pelo menos sete feridos depois de colidir na traseira de uma carreta. Cerca de 15 pessoas estavam a bordo, todas assentadas. O lado mais atingido foi o do cobrador, que ficou gravemente ferido. (BF, com Luana Cruz e Pedro Ferreira)

Risco na pista

2/4 Primeiro acidente envolvendo o BRT. Uma moto e um coletivo articulado da linha 82 bateram na faixa exclusiva do Viaduto Leste. N�o houve v�timas.

7/5 Batida entre �nibus da linha 83D e carro que invadiu a faixa exclusiva do Viaduto Leste, no Complexo da Lagoinha. Ningu�m ficou ferido.

12/6 Primeiro acidente do BRT com morte: um morador de rua foi atropelado por �nibus articulado da linha 83D, na Avenida Santos Dumont, Centro de Belo Horizonte, por volta das 6h50. O motorista disse ter sido surpreendido pelo homem, que teria atravessado com o sinal verde para os ve�culos.

20/6 Acidente entre um �nibus articulado e um caminh�o, no cruzamento das avenidas Bar�o Homem de Melo e Silva Lobo, no Bairro Alto Barroca, Regi�o Oeste de Belo Horizonte. N�o houve feridos.

30/6 Um inc�ndio consumiu em minutos um �nibus articulado da linha 61 que passava pela Avenida Pedro I. Testemunhas afirmaram que o fogo come�ou na articula��o do ve�culo, onde h� uma r�tula que conecta os vag�es e componentes el�tricos. Os sete passageiros a bordo sa�ram ilesos. BHTrans e Setra declararam que, caso seja constatado problema de fabrica��o, exigir�o recall.

2/7 Duas pessoas morreram depois que a moto em que estavam bateu em um �nibus articulado da linha 52 que fazia uma convers�o na Avenida Carlos Luz, no Bairro Engenho Nogueira. O coletivo havia deixado a garagem da empresa Rodopass e seguia para a Esta��o Pampulha. Tudo indica que a moto avan�ou o sinal vermelho.

15/7 Um �nibus articulado apresentou problemas no freio e colidiu em um outro coletivo estacionado na Rua Ouricuri, no Bairro Floramar, Regi�o Norte de Belo Horizonte. Os ve�culos s� pararam quando bateram nos muros de um condom�nio e de uma casa. Ningu�m ficou ferido.

No mesmo dia, um homem de 66 anos foi atropelado por um �nibus articulado da linha 83D (Esta��o S�o Gabriel/Centro – Direta) na Avenida Paran�. A v�tima quebrou o bra�o e foi levada consciente para o Hospital Jo�o XVIII. Testemunhas relataram que o idoso teria entrado na frente do coletivo.

30/07 Outro acidente no Complexo da Lagoinha. A batida entre um �nibus e um carro interditou o tr�nsito no Viaduto A. Ningu�m se feriu.