Bruno Freitas

Para os taxistas e �rg�os de regula��o, � concorr�ncia informal, irregular e desleal. Para startups, a oportunidade de convencer motoristas a aderir a uma nova realidade mundial e claro, crescer em cima do servi�o. Fen�meno da era digital que vem causando controv�rsia em grandes cidades como Madri, Londres e Nova York, aplicativos de carona e transporte executivo chegam a Belo Horizonte cercados de comodidade e conforto. Ao mesmo tempo em que abrem a possibilidade de motoristas particulares se inscreverem no servi�o, incrementando a renda, por outro lado, concorrem de frente com o faturamento dos taxistas. Em meio � pol�mica, o principal �rg�o regulador do transporte em Minas, DER-MG, sinaliza que o modelo configura meio de transporte clandestino.
“Isso nada mais � do que uma plataforma da web que une motorista e passageiro, funcionando como aplicativo para chamar t�xi. O passageiro cadastra, informa os dados do cart�o e depois diz aonde quer ir. Existem cooperativas de t�xi que fazem esse servi�o. Est�o pegando carro particular. Fazer transporte clandestino de passageiro usando carro particular � ilegal”, diz o diretor de fiscaliza��o do Departamento de Estradas e Rodagens (DER-MG), Jo�o Afonso Baeta.
O conceito de carona solid�ria, aponta Baeta, funciona na pr�tica como um “�libi”. Al�m de desrespeitar a Lei Federal 12.468, de 2009, que disciplina a profiss�o do taxista, o transporte clandestino pode ser enquadrado no artigo 47 da Lei das Contraven��es Penais (Decreto 3.688, de 1941), que trata do exerc�cio ilegal de profiss�o. O servi�o vem sendo acompanhado pelo �rg�o h� pelo menos seis meses. “No in�cio o passageiro vai com a impress�o que � de gra�a. Mas n�o �. A carona pressup�e uma rela��o em que o cidad�o n�o obt�m vantagem econ�mica daquilo. Se fosse uma coisa absolutamente gratuita, naturalmente o poder p�blico n�o poderia intervir”, afirma.
Baeta ressalta que o fen�meno de car sharing (compartilhamento de carro) se tornou um novo nicho de mercado internacional e em algumas cidades os taxistas tomaram a iniciativa de combat�-lo. Em outras, as autoridades discutem a nova realidade. “H� exemplos de estados que tentaram regularizar a situa��o, como no Colorado e na Calif�rnia, que alteraram suas leis para o uso do Uber.”
Em fevereiro, taxistas cariocas se reuniram contra o Zaznu – o que chamam de “app disfar�ado de carona gratuita”. O presidente do sindicato, Luiz Antonio Barbosa da Silva, disse ter solicitado interven��o do Minist�rio P�blico e da Delegacia do Consumidor. Silva mostrou aos �rg�os competentes que na propaganda dos aplicativos s�o identificadas frases como: “Voc� que dirige todo dia, por que n�o ganhar com isso?” e “Nossos motoristas ganham em m�dia R$ 60 por hora dirigida”. “O servi�o se intitula como carona remunerada e o significado de carona � viagem gratuita. Portanto, a remunera��o n�o cabe nesta propaganda, com car�ter enganoso. Os sites destes aplicativos t�m a inten��o de criar uma nova modalidade de transporte de passageiros com remunera��o, fato proibido”, reclama.
Ao longo de dois dias, o Estado de Minas monitorou o Zaznu na tela de um smartphone. Sete motoristas apareciam cadastrados em BH, mas nenhum atendeu aos chamados entre o per�odo da tarde e a noite. Yonathan Yuri Faber tamb�m n�o retornou os contatos da reportagem para falar sobre a experi�ncia no Rio e em S�o Paulo, primeiras cidades a contar com a tecnologia.
O presidente do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Aut�nomos de Ve�culos Rodovi�rios, Taxistas e Transportes Rodovi�rios Aut�nomos de Bens de Minas Gerais (Sincavir-MG), Ricardo Luiz Faedda, foi procurado mas n�o retornou os contatos. A BHTrans declarou apenas que trabalha em parceria com a Pol�cia Militar e o DER para combater o transporte clandestino, com apoio do Minist�rio P�blico.
Empresa bilion�ria
O diretor-geral do Uber em S�o Paulo, Guilherme Telles, acha normal que as leis n�o tenham se adaptado aos novos aplicativos. Na capital paulista, a empresa tem pol�tica de pr�-regula��o, procurando explicar aos �rg�os reguladores como � o servi�o. Belo Horizonte foi escolhida por ter uma demanda muito forte. “N�o somos t�xi, nem carona paga. As reuni�es t�m sido produtivas. Se taxistas procurarem a gente, explicaremos como funciona”, diz.
O diretor aponta que em Bogot�, na Col�mbia, grande parte dos motoristas parceiros da startup s�o ex-taxistas que agora ganham “quatro vezes mais”. “A gente se v� como mais uma op��o de transporte. A cobran�a � muito diferente da de um t�xi. �s vezes � at� mais barato que na bandeira 2. Em m�dia, a Uber � 20% mais barata que um t�xi na bandeira 1”, explica, em refer�ncia aos valores: R$ 3,50 da tarifa-base, R$ 2,17 por quil�metro rodado, R$ 0,30 por minuto e R$ 10 de tarifa, em BH.
O representante da empresa, que opera em 152 cidades de 42 pa�ses e � avaliada em US$ 18,2 bilh�es, destaca que a taxa de satisfa��o � um dos pontos altos do servi�o executivo – em BH, para participar, o motorista deve oferecer carros de luxo como Toyota Corolla, Ford Fusion e Hyundai Azera, fabricados depois de 2010. “Os motoristas est�o recebendo acima de 4,8 estrelas num total de 5, com 93% de ocupa��o. Quanto mais as pessoas usam, mais elas gostam de usar.”
O empreendedor Fernando Gadotti, de 29 anos, usava o Uber em S�o Francisco e agora em SP. Para ele, que recorre ao aplicativo principalmente � noite, as corridas s�o convenientes. “J� tive problemas com t�xi em S�o Paulo e no Rio”, conta. Ela revela j� ter sido ressarcido pelo Uber depois de uma experi�ncia ruim. “O cara estendeu a corrida. Em meia hora me ressarciram pela tarifa justa. Foi uma experi�ncia ruim, mas avaliei como bom o atendimento ao cliente.”
A motorista Marina Barros, de 31, trocou o Volkswagen Polo 2010 com que transportava informalmente turistas no litoral paulista por um JAC J5 2015, sed� executivo chin�s. Cadastrada no Uber, Marina garante ter dobrado de renda. A Zaznu promete uma renda mensal de R$ 4 mil.