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Estado de Minas

PBH e empresas ignoraram ao menos cinco alertas que poderiam ter evitado queda de viaduto

Per�cia mostra que em v�rias ocasi�es Prefeitura de BH e empresas tiveram oportunidade de perceber e corrigir erros que levaram ao desabamento da estrutura


postado em 17/09/2014 06:00 / atualizado em 17/09/2014 07:47

Máquinas trabalham na remoção do que restou da alça norte, implodida domingo: avisos ignorados e omissões levaram à queda parcial da estrutura, que causou mortes e prejuízo (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
M�quinas trabalham na remo��o do que restou da al�a norte, implodida domingo: avisos ignorados e omiss�es levaram � queda parcial da estrutura, que causou mortes e preju�zo (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Projetistas, executores e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) tiveram pelo menos cinco chances de notar erros evidentes de engenharia na al�a sul do Viaduto Batalha dos Guararapes, que caiu sobre a Avenida Pedro I, e tomar atitudes que poderiam evitar as mortes de duas pessoas, um preju�zo milion�rio e meses de transtornos com o bloqueio da via e a demoli��o de toda a estrutura. � o que aponta o laudo finalizado no �ltimo dia 3 pelo Instituto de Criminal�stica da Pol�cia Civil, que avaliou as causas do desmoronamento da estrutura, em 3 de julho, durante a Copa do Mundo. Engenheiros ouvidos pelo Estado de Minas e o Minist�rio P�blico (MP) consideram que as principais fatores que levaram � queda do elevado, como c�lculos equivocados, estruturas erguidas de forma mais fr�gil do que o necess�rio e falta de fiscaliza��o na remo��o dos escoramentos s�o falhas consideradas “grosseiras”.

A per�cia aponta que a empresa Consol, respons�vel pelo projeto, fez diversos c�lculos equivocados ao conceber o projeto executivo do viaduto. Eles resultaram em um dimensionamento inferior de materiais e estruturas. Os valores que servem de base para a constru��o, a chamada mem�ria de c�lculo, foram transpostos de forma errada para a f�rmula de constru��o do pilar que cedeu, denominado P3. “O dimensionamento errado da ferragem do bloco de funda��o do pilar P3 resultou na sua incapacidade de sustentar o carregamento gerado pela estrutura (viaduto), uma vez que n�o houve distribui��o uniforme de carga para as 10 estacas. Em raz�o disso, a carga ficou concentrada nas estacas centrais e as mesmas n�o tinham condi��es de suportar sozinhas o carregamento”, aponta o laudo.

De acordo com a per�cia, esses c�lculos deveriam ser revisados antes de serem entregues � Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). Essa seria a primeira oportunidade de evitar a trag�dia. Pelos c�lculos dos projetistas, o bloco que sustentava o pilar P3 deveria ser capaz de sustentar uma for�a vertical m�xima de 2.500 toneladas. Os peritos da Pol�cia Civil indicaram que a conta correta deveria prever resist�ncia para 100 toneladas a mais. O dimensionamento do bloco de sustenta��o, que � ancorado pelas estacas para sustentar o pilar, foi dois metros menor do que o necess�rio, indicaram os peritos.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
Mesmo sem revis�o, quando o projeto executivo foi entregue pela Consol � Sudecap, ap�s processo licitat�rio, a superintend�ncia teve oportunidade de conferir os c�lculos, antes de fornecer o detalhamento � empreiteira Cowan, vencedora da concorr�ncia para erguer a obra. A execu��o dos servi�os tamb�m apresentou inconsist�ncias em rela��o ao projeto, que fragilizaram ainda mais a estrutura. Entre elas, os peritos apontaram o n�o preenchimento com nata de cimento nas estruturas usadas para i�ar o viaduto, chamadas bainhas de protens�o, e a abertura de 42 janelas no tabuleiro, que � a parte principal do elevado, feitas para o permitir o tensionamento de cabos de a�o da estrutura. Todos esse erros de execu��o poderiam ser evitados j� que, segundo a Pol�cia Civil, os servi�os deveriam ser fiscalizados pela Sudecap, que poderia exigir o cumprimento do projeto ou acompanhar as altera��es.

Por �ltimo, o laudo aponta que, quando as escoras come�aram a ser retiradas, seria poss�vel notar que a estrutura exercia grande for�a sobre esses anteparos, o que, segundo o documento, n�o � normal e demonstraria que essas pe�as suportavam o peso do viaduto e n�o poderiam ser removidas. Nesse ponto, os peritos sustentam que os engenheiros da Cowan e os fiscais da Sudecap – que deveriam estar presentes na retirada do escoramento – tiveram a �ltima chance de evitar o desmoronamento do viaduto.

Ao fim, o documento resume os acontecimentos dizendo que “o erro no dimensionamento da ferragem do bloco de funda��o do pilar P3 pode ser apontado como o fator inicial” e que “somado � falta de revis�o dos projetos, � fiscaliza��o ineficiente e � retirada do cimbramento (escoras) em condi��es que indicavam a necessidade de sua perman�ncia culminaram na ocorr�ncia do desabamento”. Para o professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da UFMG Fernando Amorim de Paula, doutor em c�lculo e dimensionamento de estruturas, essa sequ�ncia de erros beira a omiss�o. “Uma obra importante como essa, que envolve trecho com fluxo intenso de ve�culos, deveria ter sido revisada diversas vezes”, disse. Para o presidente do Instituto Brasileiro de Avalia��es e Per�cias de Engenharia (Ibape), Frederico Correia Lima Coelho, o laudo n�o diz claramente que os c�lculos errados causaram o desabamento, mas lista uma sucess�o de fatores e omiss�es. “Houve possibilidades de se tomar atitudes durante o tempo, por meio de revis�es. Mas, pelo que o laudo aponta, n�o h� na conclus�o sobre qual o mais importante fator para o desabamento”, disse. J� o promotor que acompanha o caso, Eduardo Nepomuceno, n�o tem d�vida de que houve omiss�es. “H� uma sucess�o de erros graves e de oportunidades de se evitar preju�zos e mortes, que n�o foram evitados. O preju�zo estamos garantindo que sejam ressarcidos. J� as mortes e as responsabilidades criminais ainda dependem do inqu�rito da Pol�cia Civil”, disse.

Alertas ignorados

Confira as falhas apontadas pela per�cia como determinantes para o desastre

1 Revis�o dos projetistas da Consol poderia ter detectado os c�lculos estruturais errados que tornaram o viaduto mais fraco

2 A Prefeitura de BH poderia ter conferido c�lculos do projeto executivo antes de entreg�-lo para que a empreiteira Cowan iniciasse a obra

3 T�cnicos da construtora Cowan deveriam ter revisado os n�meros equivocados do projeto recebido antes de executar a obra

4 Fiscais da PBH n�o detectaram altera��es no projeto feitas pela Cowan, como a abertura de janelas na pista do viaduto e a falta de nata de cimento em estruturas que conferem refor�o � obra

5 Engenheiros da Cowan e fiscais da PBH poderiam ter impedido a retirada das escoras quando se mostraram presas ao viaduto, devido ao peso excessivo da constru��o mal dimensionada


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